terça-feira, 4 de setembro de 2001

Pobre PS

Acho que já comentei com alguém este fato – se não estou enganado, foi com minha mãe – mas o comentário que fiz foi apenas uma constatação, sem maiores reflexões.

Mas hoje resolvi retomar o assunto, agora com mais profundidade – não muito, pois me falta muito conhecimento para aprofundar este ou qualquer outro assunto. Lembrei-me no meio da tarde de que havia esquecido de incluir uma nota interessante no rascunho do e-mail que mais tarde enviaria à uma amiga. Mentalmente escrevi o postscriptum. Foi quando eu ligava o computador para escrever – agora de verdade – que lembrei do que havia comentado com minha mãe sobre o dito PS.

Parece que o querido e prático PS está com seus dias contados. Uma pena. Tão simpático e útil era que me custa pensar que ele é um peso morto, algo arcaico, dinossáurico. Graças à esta maravilha do mundo moderno: o computador, e seu filhote: a internet.

O computador e suas incríveis ferramentas de "copiar", "recortar" e "colar", seu "backspace" e tudo mais o que proporciona agilidade ao escrever é, ao meu ver, um dos responsáveis por essa escassez de (bons) novos escritores. Com toda a agilidade que ele proporcionou, com a velocidade com que se digita, não há mais a necessidade de se ruminar muito em cima de uma frase. Escreve-se hoje de certa forma instintivamente. Não se raciocina mais insistentemente como escrever uma frase: da forma que a frase vem à mente se transcreve e depois, se preciso, faz-se as devida alterações. Com isso a impressão que fica é que não se matura a idéia o suficiente – quando se matura – acabando uma frase, uma idéia potencialmente boa em justamente isso: potencialmente boa. O computador tem feito com que nossa capacidade de matutar diminua ainda mais. Mas essa é uma outra história, que posso voltar outro dia. O que me levou a escrever hoje foi a morte anunciada do PS.

Começamos por enumerar algumas das vantagens do PS. Em cartas, quando se esquece de comentar alguma coisa no seu corpo, faz-se uso dos PS; é muito melhor do que rescrever a carta toda para acrescentar uma linha, uma frase. Outra vantagem é que, mesmo se lembrando do que se queria comentar antes de escrever a carta havia o problema de não conseguir encaixar essa idéia ou essa notícia no que se escrevia. Outra vez o PS entra em ação. Lá vem ele, quando se achava que tudo estava dito, falar de algo ainda não mencionado. E se não fosse um, mas dois os assuntos marginais ao resto da carta, colocava-se PS1, PS2. Se não fossem dois, mas três ou mais... vocês entenderam a lógica. Por fim a grande facilidade de se introduzir um assunto no PS. Como é um PS não precisa de todos os apetrechos e enrolações, simplesmente fala-se, melhor, escreve-se. Curto e grosso.

E por que esta maravilha da escrita está no fim? Porque o computador, com toda sua agilidade no escrever não há problemas se você, por acaso, se lembrar de algo quando já tinha terminado a carta – no caso, o e-mail. Basta levar o cursor até onde melhor se encaixa o que se tem a dizer e digitar. E se você tem algum assunto marginal ao que escrevia na "carta", dois "enter" e pronto, está subentendido que é um assunto diferente. E os e-mails, escritos no ritmo estressado do dia-a-dia da cidade grande, não necessitam de muita firula. Fala-se de forma seca, concisa. Não se pode perder tempo, nem fazer com que o outro perca. Tempo é dinheiro, tempo é precioso. Estamos sempre atrasados para tudo. Mas isso é outra história.

Claro que o PS não está totalmente morto. Ainda se usa como enfeite, ou por saudosismo em e-mails. E ainda resta aquela meia dúzia de malucos que, assim como insistem em escrever no papel e não no computador (não tudo, é verdade), insistem em mandar cartas. E as vezes esquecem de algo importante, que poderia ser colocado no seu corpo. Ou então tem um assunto marginal, o qual não encaixa em local algum da carta. Mas gente assim são poucos e não merecem serem levados a sério.

Pato Branco, 04 de setembro de 2001

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