quinta-feira, 8 de novembro de 2001

O ensino que emburrece

Durante quatro anos usei apostila, foram três no segundo grau e um no cursinho. Sempre tive certa dificuldade com tal método, mas me convencia de que no fundo era bom, e seguia sem muito reclamar.
Neste meu primeiro ano de faculdade, não senti falta de apostila, mas também não fui muito a fundo nas minhas reavaliações. Achei melhor sem e ficou por isso. Entretanto o primeiro dia no meu retorno ao cursinho foi o suficiente para que eu reavaliasse mais a sério meu ensino médio, no que diz respeito a material didático.
Vindo de um curso que, apesar de biológico, tem uma expressiva veia humana – o que acaba por levar, em maior ou menor grau, a uma visão mais crítica e questionadora do mundo – o retorno ao cursinho – extremismo da ortodoxia à apostila – foi um choque. 180 alunos aceitando passivamente tudo o que o professor dizia, sem ninguém que levantasse a mão e perguntasse o porquê, que discordasse do que estava sendo dito, e achando esse comportamento normal. Uma caricatura do tempo em que eu usei apostila, e que achava tudo isso normal.
Numa escola de ensino médio que use esse método, por mais que o professor tente instigar o debate em sala de aula, fazer com que os alunos busquem em outras fontes, dificilmente ele irá muito além da apostila.
A apostila leva os alunos ao comodismo: para que buscar em outras fontes se ela traz o principal da matéria? Leva à uma compreensão superficial dos assuntos: se ela traz o principal, por que perder tempo nos detalhes? Ela inibe a discussão, o raciocínio, a crítica, uma vez que simplifica o mundo de uma forma grosseira e apresenta a matéria como verdade absoluta.
Por melhor que seja o professor, a apostila acaba por anulá-lo. É como dar um violão com uma corda ao melhor dos músico, por mais que ele saiba, pouco tem a fazer.
Passiva, acomodada, acrítica, bitolada. Eis uma sucinta descrição da "geração apostila". Filhes da ditadura, por mais que não a tenham vivido, tal como aqueles que hoje estão entrando na escola. O uso da apostila, em parte, explica o perfil daqueles que atualmente estão nos bancos das melhores universidades do país. Explica, mas não justifica.

Ribeirão Preto, 08 de novembro de 2001

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