domingo, 4 de novembro de 2001

Universidade em Pauta

O ensino tem tido cada vez mais espaço nos meios de comunicação, em especial o ensino público superior. É do conhecimento de todos o sucateamento das universidades públicas (a exemplo do que aconteceu há algumas décadas com o ensino básico), isso vem ocorrendo já há certo tempo e tem-se acentuado nestes últimos anos. Entretanto no primeiro semestre isso era tido como algo normal, corriqueiro, pela Folha – que costumo sempre ler – e, acredito, pelos demais jornais e revistas. As notícias acerca do ensino superior costumavam tratar (com euforia) da migração de cérebros das universidades públicas para as particulares (caso de uma reportagem da sempre tendenciosa Veja), ou das disputas por alunos dos "McDonald´s universitários" (Unip e afins), ou do provão – tido como evolução no controle das universidades. Não se propunha qualquer debate sobre o sucateamento das Ifes (Instituições Federais de Ensino Superior) ou sobre o provão, afinal era algo tão normal quanto o nascer do sol. Quem vai querer questionar a ordem natural das coisas?
Mas eis que eclode a greve nas federais. E junto, toda a poeira que estava sob o tapete. A mídia e as pessoas se assustam: mas como?! Essa não era a ordem natural, imutável?! O que há para discutir?
E de repente, assuntos banais se tornam relevantes. Descobre-se que aquilo tido como certo é passível de muita discussão, muito debate. Vem à tona o novo modelo de universidade, na qual se estimula a competição entre docentes, onde a quantidade de trabalhos científicos impera sobre a qualidade desses. Autonomia financeira x autonomia da gestão financeira. Quotas, fundações de caráter privado, cobrança de mensalidades, provão, forma de financiamento do estudo.
E de repente descobriu-se que havia muito o que debater. Será que foi sem querer? Com certeza, não. Foi preciso gritar, fazer manifestações, invadir conselho universitário, parar as aulas, anular vestibular para que as reivindicações das Ifes fossem ouvidas.
Hoje, mais um editorial da Folha sobre o assunto. Domingo retrasado, entrevista com o ministro Paulo Renato. Durante a semana, colunistas e reportagens comentavam a universidade brasileira.
E os alunos? A grande maioria segue tão alienado quanto no início do ano, por mais que o debate tenha se desenvolvido. Todavia, uma lição já se pode tirar desta "confusão" toda que a greve tem feito: é preciso "pôr a boca no trombone" e brigar, espernear por aquilo que se almeja. Permanecer calado, de braços cruzados, fazendo somente a sua parte, esperando estar fazendo desse modo uma revolução silenciosa é, na verdade, estar apressando a marcha de seus sonhos em direção ao abatedouro.
PS: Isto não vale somente para os alunos da Ifes. A U$P, por mais que os problemas não sejam tão graves, é pública, e a nossa letargia vai acabar por levá-la no mesmo caminhos das federais.

Ribeirão Preto, 04 de novembro de 2001

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