quinta-feira, 27 de dezembro de 2001

A fantástica e emocionante história de uma caixa de bombons

(com o subtítulo: "Bah, o título conseguiu ser mais infame que a crônica, que já tinha sido pior que a ‘história’")

Diziam, quando eu ainda morava em Pato Branco, que havia uma certa marca de chocolate que era coisa do outro mundo. Não acreditava, mas também não duvidava. Quando passei na U$P, passei a acreditar. A loja especializada não tinha sido suficiente para me convencer, afinal, chocolate com loja especializada eu só tinha visto as de chocolate Garoto, em Buenos Aires – e chocolate Garoto é bom, mas nada ó!. Agora, as duas míseras balas de leite que ganhei na matrícula eram realmente fora de série.
Passeando pelo shopping, via nas vitrinas aquelas apetitosas barras, aqueles provocantes bombons e aqueles preços que não chegam a assuntar um estadunidense de classe rica. Bem, como sou brasileiro de classe média, e não americano rico, aqueles chocolates eram muito salgados para o meu go$to.
Mas eis que surge a oportunidade de comer não um, dois ou três daqueles bombons, mas um caixa inteira! Isso porque renovei a assinatura do jornal (por nada, não, mas eu preferiria um desconto a uma caixa de chocolates, mas vá lá). Para maior suspense, primeiro eu recebi uma carta avisando que eu receberia outra carta, e esta me daria direito à delicio$a caixa de bombons, da marca que faz qualquer chocólatra largar o vício ao ver seus preços.
Como num filme (a crônica é minha, eu faço o drama que eu quero) a aguardada segunda carta não chegava. Dias de tensão. Será que não vou ganhar a caixa de bombons? Com um mês de atraso, ela finalmente chega. Coincidentemente, próximo ao meu aniversário. Vou até a famigerada loja do shopping, entrego a bendita carta e... está em falta, só daqui quinze dias. Tudo bem. Quinze dias depois eu retirei meu "presente".
Aí foi chegar em casa, abrir e me esbaldar? Nada disso. Como bom cristão, fiquei de levar para casa (de Pato Branco) – ainda mais porque é de lá que sai o dinheiro da assinatura do jornal que me presenteou com essa caixa de chocolate – e dividir com mamãe, papai e maninho.
Seriam dois meses de espera – espera, não, tortura – até eu voltar para casa e abrir a maldita caixa. Para esperar todo esse tempo sem derreter, cuidadosamente guardei aquela afrescalhada caixa na geladeira. Mas eis que certo dia fui impedido de abrir o congelador para me servir de uma daquelas maravilhosas lasanhas prontas – cujo gosto, não importa o sabor, é sempre o mesmo – por uma considerável camada de gelo. O que fazer em situações alarmantes como essa? Além de apelar para o velho e intragável miojo, degelar a geladeira. Foi o que eu fiz. No outro dia, ao abrir a geladeira, o susto: tinha vazado a água do congelador geladeira abaixo. O bolo que eu tinha no primeiro andar trocara o sabor de chocolate para água de geladeira (que não é dos melhores, diga-se de passagem). E no último andar minha caixa de bombons Kopenhagen. Encharcada. Por alguns instantes pensei que meus bombons de rico também tinham ficado com gosto de água de geladeira. Felizmente, somente a caixa tinha molhado, os bombons estavam secos. Guardei-os novamente na geladeira, em uma outra caixa (de acrílico, para garantir), e esperei os dias que restavam para eu retornar ao meu QG (quarto de garoto, ou guri, dependendo da região).
Ao chegar em Pato Branco, nem dúvida, destroçar a caixa afrescalhada, que eu havia remendado com durex, e dá-lhe aqueles bombons convidativos. Que decepção. Não que sejam ruins, mas os Garoto são melhores e custam bem menos; nada de R$40,00; R$50,00; R$60,00 o quilo, até, como eu vi na loja.
Se eu não tivesse comido tudo, eu até levaria uns para vocês comprovarem que não é mesmo lá aquelas coisas.

Pato Branco, 27 de dezembro de 2001

Sem comentários: