quarta-feira, 26 de junho de 2002

Os fatos falam por si porque a fome não tem voz

A notícia publicada na Folha de 25 de junho fala por si, não precisa interpretação nem comentário. “Fome ameaça 13 milhões no sul da África”. Só de pensar que o número 13 milhões se refere a pessoas, seres humanos como nós, já choca. Ao lembrar o fracasso – noticiado poucos dias antes – da Cúpula Mundial da Alimentação, em que a Inglaterra sequer se deu ao trabalho de enviar representante, é difícil precisar o sentimento que nos toma conta: raiva, indignação, asco, nojo, desalento; são todas palavras por demais sutis.
À notícia, enfim. Nas letras grandes ficamos sabendo que 51% da população de Angola passa fome!, e que três de cada quatro habitantes da Somália sofrem de desnutrição! Alguns !!! a mais surgem ao ler o artigo da Reuters. Os números são sempre frios, mas o ser humano consegue ser mais. Transcrevo alguns trechos:
“Milhões de pessoas podem morrer de fome no sul da África nos próximos meses a menos que países desenvolvidos aumentem drasticamente o auxílio a esses países (...). Os EUA foram o primeiro país a prometer auxílio à área atingida pela seca que inclui Maláui, Zimbábue, Lesoto e Suazilândia. A iniciativa provocou fortes críticas por parte de agricultores americanos, que acusam o governo de prejudicar seu mercado (...). Em Maláui, o problema da escassez de comida foi agravado por uma decisão do governo de vender repentinamente todas as 167 mil toneladas de sua reserva estratégica de comida sem reter nem mesmo as 60 mil toneladas que sua própria política determinava. O governo diz que foi instruído a vender o estoque pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).”
Um anarquista do século XIX, desse mesmo Estados Unidos da América, dizia que numa guerra entre homens e ursos, ele lutaria do lado dos ursos. Alguma dúvida?

Campinas, 26 de junho de 2002

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