sábado, 2 de novembro de 2002

A transição mais democrática

A transição mais democrática dos últimos 42 anos. Amém. Finalmente um presidente eleito volta a entregar a faixa a outro presidente eleito. Amém.
Quem assiste ao noticiário da tv, ou mesmo lê os jornais, acaba se deparando com essa jogação de confete irritante e mentirosa.
Primeiro porque Fernando Henrique pode ser considerado antes golpista a democrático: foi eleito democraticamente as duas vezes, sim; mas a compra de votos para a emenda da reeleição foi um golpe branco contra a constituição (alternativa oferecida também a JK, mas que este se recusou a acatá-la).
Segundo que Itamar passando a faixa a FHC foi mais democrático que este a Lula: Itamar assumiu o posto em substituição a Fernando Collor, afastado pelo Congresso, o que, apesar da distorção que isso acarretou a noção de democracia – que passou a ser, então, pôr e tirar presidentes –, foi um ato democrático.
Terceiro: o que não houve nestas eleições foi a devida lisura na condução do processo por parte do TSE, como era de se esperar. A menos de um ano das eleições, a verticalização coligações. Durante a campanha, soa patético dizer que não houve favorecimento ao se contar quantos direitos de resposta foram dados ao Ciro Gomes, e quantos foram dados ao compadre do presidente do distinto tribunal. Afora a apreensão de urnas pouco antes do pleito. Ou do sistema de tais urnas ser fechado, o que impede uma fiscalização independente, e gera muitas suspeitas. Uma delas diz respeito ao fato dos institutos de pesquisa terem cometidos erros grosseiros nas suas pesquisas de boca-de-urna: acertaram o percentual de votos de Ciro e Garotinho e erraram o de Lula e Serra, indicando que o primeiro teria três pontos a mais do que realmente teve, e o segundo, três a menos o de Serra. Coincidência de erro que se repetiu – inclusive nos três pontos percentuais – no segundo turno. Outra suspeita foram os 41 mil votos subtraídos de Lula numa das parciais divulgadas, ainda no primeiro turno.
Lula foi eleito democraticamente. Houve o revezamento no poder (coisa que também havia no tempo da monarquia, mas isso pouco vem ao caso). Fez-se a vontade do povo, ao menos no conceito atual de democracia. Mas daí para dizer que esta é a transição mais democrática da história, a distância é grande.

Campinas, 02 de novembro de 2002

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