quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

Já é um começo....

Finalmente os ministros do PT estão conseguindo unificar o discurso. Anteontem foi o ministro das comunicações Miro "Marinho" Teixeira pregar o fim da indexação para o reajuste das contas telefônicas. Nada mais justo. Isso foi para preparar o terreno para o médico metido a economista Antônio "Malan" Palocci falar ontem aos sindicalistas: nada de indexação dos salários. Motivo: isso pode fazer voltar a inflação. As opções são reivindicar a indexação dos salários à inflação ou ajudar a combatê-la. Talvez o companheiro Palocci não seja habituado a freqüentar esse lugares tradicionais das pessoas comuns, que têm necessidades ordinárias, conhecidos como super-mercados. O único mercado que ele parece conhecer é o financeiro. Na verdade o que ocorre é o oposto: é o mercado que o conhece bem; e nada melhor para as raposas que botar uma galinha tomando conta do galinheiro. Isso vem da segunda guerra, quando judeus eram postos para cuidar dos campos de concentração – diz-se que eram os mais espartanos (conseqüência do medo, talvez?). Voltando ao mercado comum e ordinário que o companheiro Palocci parece desconhecer, os freqüentadores desses distintos estabelecimentos sabem bem que a inflação voltou, que o salário diminui, e muito. Reivindicar que o salário tenha o mesmo (mirrado) poder de compra de um ano atrás não me parece ser a heresia pintada pelo "Neo-Malan", como a opção pelo inferno e não o céu.

Bem sei que o abacaxi recebido dos anos FHC é grande e difícil de descascar, que mudanças bruscas não são a melhor opção, ainda mais quando se dependente dos outros, e já é uma grande, uma gigantesca mudança, que as regras que valem para os pequenos passem a ser impostas também aos grandes, como no caso da telefonia. Mas bem que poderia ter uma sinalizaçãozinha maior de mudanças.


Campinas, 27 de fevereiro de 2003



terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

Deslizes da imprensa imparcial

Construir a imagem do maior tirano atualmente em atividade não é fácil. Os Estados Unidos que o digam. Buscar informações que o incriminem, forjar provas para acusações que não passam de boatos, convencer a mídia a mostrar apenas as imagens de interesse do mundo civilizado.

Pessoas de turbantes, desdentadas, pobres, sujas; o povo iraquiano, pelo que nos mostram as imagens vinculadas quase que diariamente na mídia, é um povo sofrido, e cujos fundamentalistas são os únicos a apoiá-lo. Acostumado a ver imagens apenas como as citadas, me surpreendi com a imagem da Associated Press, publicada pela Folha de São Paulo de hoje: jovens em um barzinho de Bagdá. Estavam bem vestidos, bem penteados, usavam "acessórios", o ambiente muito semelhante a alguns barzinhos mais alta-classe que encontramos no Brasil – na verdade até um pouco melhor.

A imprensa às vezes comete seus erros. Quem diria que Bagdá jovens ainda riem e se divertem em barzinhos; que o Iraque não é um reduto de fundamentalistas ignorantes da própria miséria.


Campinas, 25 de fevereiro de 2003

O Estado Paralelo

Aprendi logo na minha primeira aula de ética que, pela teoria política que predomina nos dias atuais, o Estado detém três monopólicos, monopólios inalienáveis e que o caracterizam: o da elaboração de leis, o da taxação e o da força.

Não é à toa que o crime organizado no Brasil é chamado de Estado paralelo: ele elabora suas leis, cobra suas taxas e faz uso da força para coagir aqueles que se encontram em "seu território" a obedecer o que lhes é imposto.

Não é o primeiro caso de Estado Paralelo no Brasil. Dos seus antecessores, dois são bem conhecidos: o quilombo de Palmares e a comunidade de Canudos. Algo comum liga esses dois ao atual: todo estado paralelo tem origem na desigualdade e na marginalização de parte da população.

Todavia, se os dois primeiros nasceram e morreram apenas com pessoas marginalizadas e tinham território bem delimitado, o estado paralelo atual é bem diferente: já não possui apenas marginalizados, faz parte do poder legal, contaminando – e muito – seus alicerces, e não possui um território bem definido: seu domínio se estende por todo o país, com alguns nichos, como as favelas.

E o poder desse Estado aumenta dia a dia. Os atentados do dia 24 no Rio de Janeiro são a prova. Talvez esses atentados sejam um ato de desespero, como dizem muitos, por estar havendo baixas importantes nos seus quadros – políticos, policiais, juízes, traficantes e figurões que tem ligação com o crime organizado estão sendo desmascarados –, mas é também mostra do poder de fogo que o crime organizado tem. Outra prova desse poder são as verdadeiras imagens de guerra civil toda vez que a polícia resolve entrar em um dos territórios controlados.

Aumentar a duração das penas, diminuir a maioridade penal, criar penas mais rigorosas – como perigosamente sugerem muitos políticos – não muda absolutamente nada no quadro. Apenas aumentar o efetivo da polícia e equipá-la, tampouco. É preciso que o Estado legal passe a fazer frente ao Estado Paralelo nos seus territórios: criando empregos, áreas de lazer, levando educação, creches, saneamento básico (diga-se de passagem, investir no saneamento básico é matar dois coelhos com uma cajadada só: evita doenças e diminui o desemprego, principalmente entre as pessoas "menos capacitadas"), segurança estatal para esses locais. Necessário também promover uma limpa dos podres do seu quadro burocrático, para que seus alicerces não se deteriorem, tal como hoje ocorre. Por fim, cabe também à sociedade civil sua parte: criar novos valores, que valorizem o ser humano e não os objetos, que valorize a cooperação e não a competição, que não trate o favelado, o marginalizado como um potencial bandido, e sim que busque inclui-lo na sociedade, não apenas como consumidor, mas como agente de transformações e criação de riquezas para país.

Até lá, continuaremos abrindo os jornais e nos deparando com as imagens da guerra civil. E não adianta blindar o carro nem desligar a tv, balas perdidas não escolhem suas vítimas.


Campinas, 25 de fevereiro de 2003

domingo, 23 de fevereiro de 2003

Um melão!

Aviso aos distintos que, mesmo tendo outras tarefas a cumprir, costumam ler minhas crônicas, que a presente está bem auto-ajuda: superficial e inútil. Aviso logo de antemão para que não se sintam lesados.

Conversava eu com um amigo este final de semana que estava passando por uma crise existencial. Perguntava ele, que sentido tinha a vida. O que ele precisava fazer para chegar no final de vida e falar que ela tinha valido a pena.

Digamos que com minha pouca idade e grande imaturidade, experiência é algo que não possuo nem para me satisfazer, o que dizer para dar conselho aos outros. Mas assim mesmo o metido aqui resolveu palpitar.

Passei por uma crise existencial no segundo semestre do ano passado (Marx explica o porquê de eu citar ‘segundo semestre’). Uma hora me detive, olhei para os meus pais e me perguntei, mas qual o sentido da vida? Será ela simplesmente nascer, crescer e morrer? Não acredito em explicações metafísicas nem em missões. Ainda que acreditasse, no que embasar minha crença? Como saber que eu estava realizando corretamente a minha "missão"? Passei mais de três meses matutando em cima disso e no final não cheguei à resposta alguma. Mas aprendi muito, sem dúvida. Me conheci melhor (para isso foi inestimável a ajuda de alguns amigos, que tiveram muito saco para agüentar minhas viagens depressivas-intimistas). Como comentei, não cheguei a resposta alguma quanto ao sentido da vida, mas cheguei à conclusões muito importantes; e já dizia Guimarães Rosa: o importante não é o final, mas o trajeto até ele (não são essas as palavras, mas é essa a idéia).

Depois de meu amigo dizer um pouco das suas angústias quanto ao futuro, quanto à vida, ao que fazer com ela, ao aproveitá-la, deixei ele um tanto confuso com uma pergunta que lhe fiz (dizem que as perguntas são as respostas que um dia necessitaremos) – pergunta essa, diga-se de passagem, que também me deixara confuso, quando a formulei. Simples como um livro do Paulo Coelho, mas, creio eu, profunda como um de Guimarães: "E qual o sentido de uma flor?" A resposta, após um instante de perplexidade foi a esperada: "Como assim, uma flor?". "Uma flor, qual o sentido de uma flor", insisti. Físico, ele se atrapalhou mais um pouco, até apelar para sua área: "Tendo o que como referência?". Mas eu não queria referência alguma, queria o sentido em si, como aquele que ele buscava para a vida, afinal só poderíamos discorrer com propriedade sobre a vida se pudéssemos nos afastar dela – o que, em vida, é comprovadamente impossível.

Ele não conseguiu achar resposta, e apesar de ter compreendido o ponto que eu queria alcançar, não concordou comigo. Sugeri então que aproveitasse os pequenos detalhes da vida, que esquecesse das grandes revoluções, porque elas aparecem só depois que já está tudo pronto para que elas aconteçam, e esse "tudo" é feito de inúmeros pequenos detalhes, detalhes insignificantes e aparentemente sem valor. A resposta é que ele se interessava pelos detalhes. Como bom filósofo, duvidei: notar os detalhes é uma coisa, valorizá-los é outra. Citei um exemplo um tanto absurdo, mas real: um melão.

O que tinha demais esse melão citado? Absolutamente nada. Era um ordinário melão, que não faria diferença alguma para alguém que tem sempre comida e frutas à mesa. Mas um melão foi um dos meus grandes acontecimentos da semana passada. Exagero? Pode ser. Como pode ser apenas que minha megalomania das grandes revoluções tenha diminuído. (Atenção! não confundir diminuição da "megalomania das grandes revoluções" com fim das utopias, que utopias eu continuo tendo e julgo-as necessárias, se não imprescindíveis, para a vida).

Na minha crise percebi que eu não possuía rotina Por mais que eu tivesse que acordar todo dia à mesma hora, ir para a escola, para a faculdade, voltar à mesma hora, fazer tudo aparentemente como havia feito no dia anterior, eu não poderia, como Malone, reclamar do tédio. Um melão, um futebol com os amigos, saber da dieta de seis mil calorias das pessoas da idade média, uma borboleta, o começo de uma dieta, uma criança que tenta se equilibrar num patinete maior do que ela, um pôr do sol, uma nuvem em forma de anjo: aprendi a dar valor às pequenas coisas da vida, encará-las como momentos grandiosos, por mais insignificantes que parecessem. Passei a olhar a vida com olhos de criança, como nos sugeriu certa feita Pessoa (esse sim com sapiência e experiência para nos falar muito!). Não descobri o sentido da vida, mas descobri a vida.

Seria esse o segredo para se aproveitar a vida? Com certeza, não; mas estou cada vez mais convicto que dar valor aos detalhes faz parte do caminho.

(Para os espíritos-de-porco de plantão, que argumentariam que já há muito dão valor aos pequenos detalhes da vida: um brinco de ouro, um diamante num colar, um anel de safira, uma etiquetinha escrita "Ferrari" no volante, respondo com um verso do poeta Zeca Baleiro, na ótima música Piercing: "Lugar de ser feliz não é super-mercado").

Por fim, um último comentário sobre o que meu amigo falou: nada mais deprimente que chegar no fim da vida e dizer ‘valeu a pena’, tal como o personagem principal de Beleza Americana. O correto é percebermos isso todos os dias, de preferência em todos os momentos, sejam de alegria, sejam de dor.

Mas costumamos estar tão ocupados com nossos grandes planos para o futuro, que esquecemos de aproveitar nosso presente. Queremos dizer valeu a pena, mas esquecemos que mais importante é dizer (com convicção) vale a pena!

E aí, já pensou qual a função de uma flor?


Campinas, 23 de fevereiro de 2003

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

Violência moral é coisa de maricas!

Passar rasteira toda vez que um colega passa, "pedir" parte do lanche no recreio, dar um apelido a um colega. O que tem isso demais? Trata-se de brincadeiras de criança, molecagens que sempre ocorrem nas escolas. Talvez a resposta não seja apenas isso. Demorou, mas finalmente começa-se a falar em violência moral no Brasil. O assédio moral (como pode ser chamado) seria situações de maus-tratos, opressão e humilhação que ocorrem entre colegas – geralmente nas escolas, onde são obrigadas a conviver juntas. São as brincadeiras de criança, brincadeiras "inocentes", que muitas vezes os adultos também participam.

E o que há de mal em apelidar um colega, ou fazer uma traquinagem como passar rasteira nele? São peraltices que não podem ser levadas a ferro e fogo. Os problemas principais são dois: primeiro que isso pode ser traumático à criança que sofre a violência, pode criar bloqueios, problemas de socialização, de auto-estima, entre outros; segundo, que os agressores não estão restritos às crianças: adolescentes e adultos também costumam fazer uso dessa violência.

Não é qualquer um que pode se dar ao luxo de praticar tal violência. Para tanto é preciso ter força, não somente física, mas poder de liderança sobre um grupo. A violência moral serve para garantir ou aumentar o poder e prestígio sobre o grupo, e é praticado normalmente contra "marginalizados", mas pode ocorrer dentro do próprio grupo, quando se escolhe um infeliz para Cristo por ter "orelhas de abano" ou qualquer outro "defeito" passível de gozação.

Não sabia que tinha esse nome, mas sofri na pele a violência moral. Tinha então oito anos e a turma toda, liderada por um colega, contra mim. Todo recreio, brincavam de me perseguir. O problema foi aumentando, aumentando até que pedi para sair da escola. Meus pais conversaram com a professora, com os pais do líder do grupo, e o problema entre mim e ele foi sanado, tendo ele se transformado, no ano seguinte, no meu melhor amiguinho. Por que me perseguia? Talvez porque eu fosse muito quieto, ou por pura implicância. Isso é algo corriqueiro nas escolas e não é necessário nenhum motivo além do "não fui pra cara". Na maioria dos países europeus os ministérios da educação obrigam as escolas a evitar esses atos, o que passa, necessariamente por uma conscientização dos pais.

Felizmente a saída no meu caso foi boa, e serviu para que anos mais tarde, eu suportasse outras violência do gênero sem maiores traumas (vale frisar o maiores).

Exemplos de violência moral que são encarados como normais há às pencas. Eu tinha doze anos e na minha escola havia um garoto, um ano mais novo, que tinha jeitos delicados; coitado... metade da escola tinha como principal passatempo do recreio ir atrás dele vaiando e chamando-o de bicha. A escola nada fez, não chamou atenção coletiva, não escolheu bodes-espiatórios, não conversou com pais, e o garoto não durou um ano no colégio.

Uma grande contribuição à violência moral é o cinema e os programas de tevê estadunidenses. Na sua maioria são programas de um preconceito nojento e um dualismo mocinho-bandido tosco no limite. Resultado: quem nunca teve um nerd na turma, sempre sendo alvo de piadas, bolinhas de papel e ridicularizações? No terceiro ano do COC Ribeirão de 2000 um dos "nerdes" da sala foi encontrado se batendo no banheiro. Tenho uma amiga que era taxada de nerde e se pergunta como que fulano ou beltrano, sendo pop, conversa com ela. Brincadeiras super-saudáveis, como se vê.

Mas estamos, por enquanto falando de "iguais". Quando há desigualdade a coisa fica ainda pior. "Me lembrei da empregada que se chama Maria/ Ela me dá comida, me dá roupa lavada/ Mas quando estou em casa ela é sempre humilhada/ Você precisa ver como eu trato a coitada/ Eu a rebaixo, a esculacho, fico dando risada". Os versos do Gabriel O Pensador não precisam de muita explicação. Além de ter que se contentar com um salário baixo e serviços pesados, empregados, faxineiras, serventes, limpadores de latrinas e trabalhadores afins ainda são obrigadas a suportar a humilhação dos seus patrões, dos seus "senhores". Mesmo trabalhadores mais graduados não estão à salvo, basta ter um chefe para haver a possibilidade de sofrer violência moral (por favor, não estou dizendo que todo chefe, nem que a maioria seja assim, mas quero apenas ilustrar que quando há a desigualdade hierárquica há a possibilidade da violência).

Ou seja, a inocente brincadeira de criança se perpetua até a idade adulta. Violência "invisível", mas tão danosa quanto a física, deve ser combatida por todos, o que implica, necessariamente, o reconhecimento dela e a disposição a mudar de atitude (não falo apenas dos agressores, mas às vezes você pode estar, de certa forma, estimulando um).

Aceitar as diferenças é um primeiro passo. Que tal começar hoje?


Campinas, 21 de fevereiro de 2003

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

O exemplo

O simbólico, queira ou não, tem muita influência no mundo atual. Lula, em certos aspectos, tem conseguido alguns simbolismos muito bons e importantes. O principal é ser um retirante-metalúrgico assumindo a presidência do país (o que é também uma baita propaganda do sistema capitalista liberal), ter falado em português no Fórum Econômico Mundial, usar roupa nacional, dispensar a cozinheira dos pratos sofisticados de FHC, o Fome Zero são outras atitudes simbólicas que tem feito bem à sua imagem e à imagem do brasileiro em geral. Pelo outro lado, o corte de gastos, a briga pela autonomia do BC, e o aumento do meio porcento dos juros foram um balde de água fria em uma parcela do eleitora que esperava entusiasmado pelo governo Lula.

Aonde está aquele Lula decidido, firme, quando falava das plataformas da Petrobrás? Que história é essa de aumentar em mais um ponto os juros? Mas o aumento de um ponto percentual nos juros não é simbólico. Simbólico é o presidente do BC, Henrique Meirelles, receber aposentadoria do Bank Boston, ou, como na foto estampada hoje na primeira página da Folha de São Paulo, usar tênis Nike. Se o Lula não consegue impor nem suas idéias mais básicas aos seus subordinados, como fazer com que sigam idéias mais amplas, como fazer o país crescer? Imagine se a independência do BC for aprovada... Como disse o sociólogo (petista) Francisco de Oliveira, na aula magna na FFLCH-U$P, a autonomia do BC é a "anulação da política, elege-se o presidente para não governar". Talvez não seja preciso autonomia do BC para tanto...


Campinas, 20 de fevereiro de 2003

Quem precisa de armas de destruição em massa?

E o senhor George W. Bush, o novo Nero da nova Roma, já avisou que os protestos pacifistas não irão mudar sua decisão de atacar o Iraque. E a desculpa que o dito cujo (eu iria chamá-lo de toupeira, mas acho que o animal não merece ser ofendido) vai mesmo usar é a das armas de destruição em massa.

Como diz a piada que circula pela internet, não é difícil Bush provar que Saddam tem as famigeradas armas: basta mostrar o recibo. O detalhe é que, se Saddam ainda guarda tais armas, elas já não têm efeito algum há mais de dez anos, pois passou sua validade, dizem os especialistas.

Mas aproveito a sua ânsia por carnificina e sugiro ao nosso ignóbil imperador que faça guerra também contra os países produtores de palitos de fósforo, isqueiros, líquidos inflamáveis, aviões, carros e armas de destruição individual.

Apesar da memória do senhor Bush não ser tão curta quanto a sua inteligência (sabemos que inteligência um dos seus quatro calcanhares de Aquiles), ela também não parece ser muito boa. Seria interessante recordar o distinto que o WTC foi destruído por dois aviões, e nenhuma bomba, que as matança de colegas de trabalho e de aula, que o atirador de Washington não usou arma nenhuma de destruição em massa, apenas armas de destruição individual: revólver, metralhadoras e afins; que os automóveis no Brasil tem os saldos de uma guerra. Agora foi a vez de um sul-coreano (viva a globalização!) mostrar que não é necessário nada além de um isqueiro e um líquido inflamável para matar mais de 120 pessoas e deixar mais de 340 desaparecidas. E isso que ele pegou o finalzinho da hora de maior movimento, imagine se fosse no horário de pico!

É melhor o Bush achar uma desculpinha melhor. A explosão da nave espacial parece ser uma boa. Enquanto isso, vamos torcendo para que o próximo Pretzel do Bush seja fatal! Make love, not war, but kill Bush and his friends!


Campinas, 20 de fevereiro de 2003

terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

Será a vida tão vazia?

Fui, finalmente, conhecer a maravilhosa festa de recepção aos calouros, conhecida por chopada. O melhor da noite foi ver que não perdi nada por ter faltado às chopadas que eu poderia ter ido e não fui.

Não sei onde li, mas diz-se que a noite, por toda a sua atmosfera, suas sombras, ajuda as pessoas a se desinibirem. A chopada não me pareceu apenas desinibição, mas uma volta às origens biológicas do homem. Por falar em origens biológicas, ô arrependimento que tive de não ter aproveitado bem o ano de psicologia que fiz, em especial a leitura do livro "O Macho Demoníaco"; de qualquer forma, a aula que prestei atenção me ajudará nesta crônica.

A festa só tinha graça para a maioria porque tinha (muita) cerveja e pinga de graça, cola, maconha e, para alguns escolhidos, cocaína (detalhe, a festa foi paga com o meu, o seu, o nosso dinheiro). Salvo a cola, nada que me surpreendesse. No centro do bar que serviu à comemoração, uma mesa de bilhar, utilizada como palco, onde calouros e calouras se embebedavam e se insinuavam como não fariam caso estivessem sóbrios. As brincadeiras que ali ocorriam, minha mãe classificaria como "baixaria". Mas não foi isso que ouvi com algumas pessoas que conversei: estavam achando muito divertido, legal. Isso, até o palco ser, lentamente, tomado por homossexuais, três homens e três mulheres. Aí ouve alguns que classificaram aquilo como baixaria. Muitos ainda continuavam a achar aquilo o máximo. Até a hora que fiquei ainda não tinha rolado, a exemplo do ano anterior, cenas de sexo explícito, mas isso pouco importa, é mais a título de curiosidade. Ao meu lado, um grupo de quatro amigas, inspiradas no palco, brincavam de se beijar.

Descrevida a cena, passemos às análises. Na aula na psicologia, acerca do livro acima citado, o professor comentara (melhor seria dizer impusera a verdade de) que os machos de uma certa espécie de macacos (que não me lembro agora), gritavam e se excitavam muito, antes de guerrear com outro bando de macacos; a chopada ajuda a tirar qualquer dúvida de que somos descendentes dos macacos. O professor comentara também que em bandos cujas fêmeas eram as líderes, elas se utilizavam do sexo para manter os machos pacificados. Freud também tem em sua teoria o sexo como uma das fontes dissipadoras de energia acumulada (dissipação necessária para o bom funcionamento da pessoa); ponto pra chopada!

Mas não é minha intenção aqui mostrar que o homem lembra muito o macaco ou algo similar. Fiz estas observações apenas para tentar ilustrar um pouco o clima da festa.

Juntando os pontos. Festas como essa (festas em geral) teriam como utilidade liberar instintos e desejos reprimidos, além do uso de drogas. Isso seria muito bom, se no outro dia as pessoas estivessem mais calminhas, ou então, menos preocupadas em taxar fulano ou sicrano de gay, enfim, se a festa tivesse tido a utilidade de catarse; mas no outro dia, volta todo mundo igual: preconceito, violência, brigas.

Quanto ao uso de drogas, não lembro onde li, mas concordo com a idéia de que a humanidade sem as drogas não teria sobrevivido. Mas há usos e abusos. A desculpa para abusos como o de ontem é que deve-se aproveitar a vida, divertir-se. Mas que espécie de diversão é essa que a pessoa não lembra de metade dela no dia seguinte? Que aproveitar a vida é esse que brinca de roleta russa com o futuro?

O abuso de drogas me parece sintomático de uma sociedade doente. Uma sociedade consumista, que prega o prazer a qualquer custo,.que não tem utopias, não possui sonhos, apenas metas mesquinhas e egocêntricas. A dita chopada serve pra (tentar) esquecer que nossa vida não apenas se esvai dia a dia, mas que afunda na latrina em que a pusemos.

Tem gente que acha divertido ver os outros falando besteira, o que não é o meu caos. Sei que um dos meus defeitos é o de ser muito sério, mas será a vida tão vazia?


Campinas, 18 de fevereiro de 2003

domingo, 16 de fevereiro de 2003

Conversa entre o Poodle-Blair e a Pepezinha

Pepezinha estava com sua dona Vera Loyola, socialite estimada por todos os brasileiros, passeando pela Bahia. Mas não sabia ela que seu telefone estava sendo grampeado.

Ao terceiro toque Poodle-Blair atende:

- Hello!

- Poodle-Blair? Oi migo, tudo bem? É a Pepezinha! O que você conta de novo?

- A bandeira da terceira via conseguiu se instalar como referência central nas discussões sobre o futuro da centro-esquerda, desde a Europa até o Brasil.

- Mas, tipo assim, a nível de Brasil de vários países da Europa o candidato da Terceira Via perdeu.

- O controle do poder por governos da esquerda modernizadora se enfraqueceu.

- Como assim esquerda modernizadora?

- Eu ultrapassei a divisão tradicional entre velha esquerda e nova direita.

- Quer dizer que eu tenho uma orelha esquerda e uma orelha esquerda modernizadora? E o que você vai fazer agora que as direções se dividem em esquerda e esquerda modernizadora?

- Precisamos agora levar essas idéias adiante para renovar a política progressista adaptada ao mundo de hoje.

- Mas, tipo assim, mundo de hoje? De quando que é a Terceira Via, mesmo? Essa renovação que você fala são os terninhos brancos? Nossa, eu a-m-o terninhos brancos! São super fashion! É, vocês precisavam mesmo dessa renovação!

- Ainda há escolhas difíceis a serem feitas, mas precisamos superar as idéias rígidas e as atitudes ultrapassadas.

- Ai, Toto, já que você falou em atitudes ultrapassadas, o que você acha da guerra com o Iraque? Aliás, você estudou história com o Bush, é? Não sabe que dois mil anos antes de Cristo já se fazia guerra. Guerra tá super out!

- A ONU disse claramente a Saddam Hussein que ele deve se desarmar. Se ele não obedecer, é preciso que a vontade da ONU seja respeitada.

- Tipo assim, a ONU é contra a guerra contra o Iraque, não é? E vocês vão fazê-la do mesmo jeito?

- Desde a queda do Taleban, o regime de Saddam Hussein é a ditadura mais brutal e mais tirânica do mundo. E, se sua saída se desse por imposição da ONU, ela deveria ser recebida com forte apoio.

- Mas, tipo assim, a ONU pediu a saída de Israel da Palestina e vocês não fizeram nada!

- Nossa tarefa não deveria ser a de buscar de antemão um engajamento total na luta contra as armas de destruição em massa e o terrorismo, mas a de na promoção da paz no Oriente Médio entre israelenses e palestinos, reduzir a pobreza no mundo, ajudar a África e combater as mudanças climáticas.

- Mas o petróleo não é o responsável pelo aumento do efeito estufa? E como assim reduzir a pobreza no mundo?

- Há países em que a mão-de-obra é barata, produzem bens e oferecem serviços a preços mais baixos. É por essa razão que é essencial investir na ciência, na tecnologia, na reforma das universidades...

- Pra superar a concorrência dos pobres?

- (Silêncio)

- Ai, migo, não fica assim. Eu sei que é duro ter que agüentar esses pobretões todos enfeiando as ruas...

- Assistimos ao aumento da insegurança sob todas suas formas: terrorismo e armas de destruição em massa em nossas telas de televisão, impacto dos fluxos migratórios e da criminalidade em nossas ruas.

- É verdade. Esses pobres, além de sujar nossas cidades e tirarem o emprego dos nossos patrões, ainda nos assaltam! E esses terroristas, será que eles não tem amor à vida?

- Sem educação não haverá mais força de trabalho qualificada no futuro.

- Concordo. Você acredita que no Brasil tem gente que não sabe segurar o garfo?!

- Vivemos numa época mais individualista em que a escolha do consumidor, a liberdade quanto ao modo de vida e a mundialização oferecem uma ampla gama de possibilidades.

- Tipo assim, migo, ser terrorista é uma opção quanto ao modo de vida...

- Nos mostramos prontos, em Kosovo e no Afeganistão, a partir para uma ação militar para defender nossos valores. E afirmamos claramente que o lugar do Reino Unido é dentro da Europa.

- Ai, Toto, duas coisas, primeiro: eu sei que vocês falam inglês, são super fashion, mas, a nível de valores, porque vocês estão certos? Segundo: você fugiu da escola é? Você e o Bush! O Afeganistão fica na Ásia, não na Europa!

- Mas eu aceito a disciplina fiscal e monetária acompanhada de um investimento em capital humano, ciência e transmissão do saber.

- E a nível de patentes farmacêuticas, migo, como ficam? Não se trata de saber? Mas me diz do futuro.

- O colapso do comunismo alimentou um otimismo fantástico do Ocidente quanto ao futuro, visão sintetizada pela tese de Francis Fukuyama sobre "o fim da história".

- Ai, migo, tipo assim, fim da história com 50 milhões de miseráveis só no Brasil? Que nojo! A história precisa continuar, pra desinfetar um pouco a Terra, sabe.

- O mundo inteiro está disposto a aceitar os objetivos, a apoiar os valores. As pessoas estão dispostas a acreditar, como nós, que, num mundo, interdependente, precisamos nos ajudar mutuamente para reduzir as inseguranças e maximizar as oportunidades.

- Maximizar as oportunidades? Então dê mais oportunidades pro Saddam.

Poodle-Brair rosna e desliga o telefone na cara.

* As falas do Poodle-Blair foram tiradas do artigo "Esquerda não deve chorar por Saddam", publicado no Le Monde, e reproduzido pela Folha de São Paulo.

** E como a Pepezinha sabe tudo isso? Alguém na residência da sra. Loyola precisa ter um mínimo de inteligência e conhecimento para ter capacidade de dar ordem aos empregados da casa.


Campinas, 16 de fevereiro de 2003

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2003

DeRecepção aos Calouros

Parabéns calouro pela sua aprovação! Afinal você entrou no segundo melhor curso de filosofia de Campinas!!! Sabemos que passar no vestibular não foi o mais difícil. Duro mesmo foi criar coragem e assinalar o curso de filosofia na ficha de inscrição. Temos experiência, sabemos como as coisas estão para você: seu pai não te olha mais na cara, sua mãe chorando pelos cantos, perguntando "meu filho, onde foi que eu errei?", seu irmão menor com vergonha dos coleguinhas, seu tio, no churrasco de Domingo, abrindo aquele sorriso sarcátisco e perguntando "mas o que é que faz um filósofo", e você gagagaguejando, sem conseguir dar uma resposta convincente.

Não saber o que faz um filósofo é resultado da falta de informação sobre o curso. Falta de informação – diga-se de passagem e não sem propósito – que dura até o fim do curso, pelo menos. Essa desinformação é também um dos grandes responsáveis pelo preconceito com a filosofia, outro fator é a inutilidade da carreira.

Os filósofos costumam se dividir em três grandes grupos: padre/freira, maconheiro (a) e vagabundo (a). Caso você não se enquadre em nenhuma dessas categorias, são grandes as suas chances de ter errado de curso. Mas não desanime, vestibular tem todo ano e o COC é um ótimo cursinho! Se você se enquadrou em uma delas, você deve estar no curso certo. Agora, se você se enquadrou nas três categorias, parabéns! Você tem um futuro promissor no IFCH! Depois de formado é outra história, mas na faculdade você vai se dar bem!

Mas não bajulemos demais o curso, que ele tem seus pontos fracos, como todo curso. Final de semana de três dias, poucas provas, alguns trabalhos, nada de aula nas férias (o que significa, nada de recuperação). Para depois de formado (os tradicionais três mosqueteiros de cada turma) o mercado de trabalho também é muito amplo, falta apenas ser descoberto (se você descobrí-lo, por favor, avise-nos!). Mas já se sabe que a filosofia pode ser útil nas universidades e escolas, secratarias de cultura, editoras, jornais e empresas.

Como o curso exige muita leitura e escrita, você pode seguir, quem sabe, a carreira de escritor. Seguir o exemplo do Guimarães Rosa (ah, não, ele era médico), do Carlos Drummond de Andrade (ops, esse era farmacêutico), da Marilene Felinto (não, ela se formou em letras), do José de Alencar (xii, ele era advogado). Enfim, isso mostra como é amplo o mercado de trabalho, você pode ser o primeiro filósofo romancista famoso do Brasil!

Escolha o corte da sua barba e cabelo (sugestão nossa para os filósofos: cabelo comprido e barba de uma semana ou de seis meses; para as filósofas: uma tesoura na mão e uma idéia na cabeça), a cor do seu cabelo, uns piercings pra pôr no nariz, na língua e no (a) persiguido (a), puxe seu Nietzche do armário e venha se divertir na filosofia. Afinal, faculdade é sexo, festa e rock’n’roll (mpb e clássico são aceitos; funk, pagode e Alanis Morrisete, Kelly Key e Charlie Brown Jr. são terminantemente rechaçados).

Afinal, como dizia aquele grande filósofo: "Inútil, a gente somos inútil!"

Bem vindo à filosofia da Unicamp!

Campinas, 14 de fevereiro de 2003

(texto para o Cafil-Unicamp)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

Paciência tem limite

Se eu quisesse aumento de juros, medidas para agradar o mercado, aumento do superávit, independência do Banco Central, corte de gastos e outras medidas afins que marcaram o governo FHC, teria votado logo no Serra, ganharia uma orelha de burro, mas ficaria livre do nariz de palhaço.

Se acham que eu estou exagerando, vale conferir FHC: uma biografia não-autorizada, do cartunista Angeli (www.uol.com.br/angeli). Sarney, ACM, muito blábláblá, alianças esdrúxulas, Lula segue direitinho os passos do antecessor. Só falta o Lula dizer explicitamente "esqueçam o que eu escrevi".

Primeiro os mercados elogiaram Lula, agora foi a vez do FHC. FHC?! "O presidente [Lula] tomou decisões muito austeras. Isso parece uma espécie de coroação do que eu disse". Se FHC não mudou de idéia – continua se achando o maior estadista do Brasil, que suas reformas neo-liberais foram frutos de análise e reflexão e era (é) esse o único caminho para o Brasil chegar ao mundo civilizado – só pode o Lula ter mudado.

Claro que mudanças bruscas são difíceis, dado o estado calamitoso e dependente do Brasil entregue ao Lula por FHC, mas onde estão as sinalizações de mudança? Por que aumentar e não diminuir em meio porcento os juros? ACM na comissão de Constituição e justiça? Só faltou chamar a senadora Heloísa Helena e o deputado Babá de neo-bobos. O jornalista Jânio de Freitas, uma das mais lúcidas vozes do Brasil, disse que não podemos acusar Lula de incoerente: ele segue coerentemente a cartilha ditada pelo FMI.

Em editorial, a Folha de São Paulo criticou a falta de um plano de governo. E aquele projeto para o país que o Lula, durante a campanha, dizia ter, onde está? Existia mesmo? Onde estão as reformas prometidas?

Paciência tem limite. A minha chegou ao fim, e creio que a de muitos já está esgotando também. De La Rúa também se elegeu como candidato da esquerda, prometendo reformas, mas preferiu seguir os passos do antecessor. Nós sabemos aonde deu.


Campinas, 13 de fevereiro de 2003

sábado, 8 de fevereiro de 2003

Não à guerra!

Belicistas, capitalistas, direitistas e filhos da puta em geral estão com um sorriso de orelha a orelha, afinal, vem aí mais uma guerra! Mais realistas e mais emocionantes – apesar de não ter sangue – que os jogos de computador, as imagens da Fox vão fazer a alegria de milhares de pessoas. Claro que nem tudo são flores, analistas analisam que essa guerra será curta – uma pena. Todavia, mesmo sendo curta, será considerável o montante de dinheiro gasto (creio que a indústria bélica também esteja contente).

Enquanto o video-game real não começa, nos divertimos com o Bush e sua cara do tio da revista Mad e suas desculpas esfarrapadas para argumentar a tão sonhada guerra: Saddam tem ligação com Bin Laden, tem armas de destruição em massa, oprime seu povo, é um perigo para os Estados Unidos. Curioso também é a falta de memória dele e da imprensa: tanto Saddam quanto Laden são crias dos EUA, da época da guerra fria; as armas de destruição em massa são presentes do Tio Sam, o perigo que o Iraque representa para os Estados Unidos, analisam os analistas, é menor do que dez anos atrás quando Bush pai fez o primeiro ataque ao bigodudo; e quanto a oprimir o povo, finjamos esquecer o apoio estadunidense às ditaduras do Chile, Brasil, Argentina, Iraque... Não entendo porque o Saddam não pode ser simplesmente chamado (e aceito com naturalidade) como “efeito colateral”.

Também não entendo porque tanta insistência em achar uma desculpa para a guerra. Salvo o Berlusconi e o Blair, todo mundo sabe que a guerra vai sair porque a indústria bélica precisa gastar as balas que faz (e como atirar em colegas de trabalho, escola está um tanto demodé, nada como uma guerra, sempre na moda); e que a indústria petrolífera não vê a hora de abocanhar uma das maiores jazidas de petróleo do mundo.

Mesmo que Bin Laden e toda a Al Qaeda se entregue, que Saddam dê a independência aos curdos, que prove que suas fábricas de armas químicas são, na verdade, fábricas de leite em pó (como a destruída tempos atrás pelos “ataques preventivos”), convoque eleições pluripartidárias e ganhe, se converta ao cristianismo e não deixe as petrolíferas do mundo civilizado explorar as jazidas iraquianas a guerra irá acontecer. Com que desculpa? Isso é o de menos. Pode ser a extinção do mico-leão-dourado, por que não? Ou então a explosão da nave espacial, a queda da Nasdaq, a morte da bezerra, qualquer desculpa serve (mande suas sugestões!). Olhando pelo lado bom: enquanto a guerra não começa, nos divertimos com o Febeapá (versão Febeamu) do Bushinho, seus secretários e seu poodle-Blair.

Por que resolvi escrever sobre a guerra, um assunto tão batido? Ora, não é todo dia que surge a oportunidade da nossa opinião ser tão relevante quanto à do Chirac, do Schroeder, do Papa...

Não à guerra!


Pato Branco, 08 de fevereiro de 2003

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2003

Quem são os radicais do PT?

Está o maior bafafá o fato da senadora Heloísa Helena não ter comparecido na votação para a presidência do senado. Ela argumentou que não iria votar no oligarca Sarney, pois se filiou ao PT justamente para combater políticos como ele.

A resposta do PT ao ato da senadora foi dado pelo presidente do partido, José Genoíno, que avisou não admitir que alguém vá contra as indicações do partido.

Que o partido deve manter uma linha e impedir que cada deputado e senador da sua bancada vote conforme lhe der na telha, é difícil ser contra. Afinal, caso todos os partidos fossem bem organizados como o PT, a “democracia” brasileira seria bem diferente. Todavia, a atitude do PT com a senadora é típica dos governos extremistas – fascista, comunista ou neoliberal, tanto faz –, que não admitem opinião contrária. Vale lembrar, a senadora não votou contra o partido, ela simplesmente não aceitou a indicação e fez da sua abstenção uma forma de protesto. Ameaçá-la de expulsão do partido por causa disso remete ao bondosos Stalin, Hitler e Mussolini, ou mesmo à FHC e a imprensa chapa branca, que tratava de neo-bobos, perfeitos-idiotas aqueles que criticavam o neoliberalismo.

Já Antônio Malan (desculpem, ato falho, Antônio Palocci), comentou que a rebelião dos “radicais” do partido era contrária à vontade da população, quando esta elegeu Lula e seu plano de governo. Será mesmo? Superávit primário, aumento de juros, cortes de gastos, não foi justamente contra isso que a população votou?

Apesar da palavra radical ter uma conotação negativa, sinônimo de extremismo e intransigência, sua primeira definição, segundo o Houaiss, é “relativo ou pertencente à raiz ou à origem; original”. Ou seja, os radicais é que estão sendo coerentes com as origens do partido – com algumas mudanças, provavelmente, mas sem fugir da linha vermelha para a cor-de-rosa, ou qualquer outra cor (não sei qual a cor do neoliberalismo). Radicais, no sentido pejorativo do termo, estão sendo Palocci e Genoíno, que não aceitam opinião contrária.

É hora de Lula parar de falar em mudanças e começar a sinalizá-las. Não serão feitas da noite pro dia, nem em poucos meses, é óbvio, mas a história de agradar os mercados e fazer discursos sociais é mera continuação do governo FHC. De La Rua também seguiu os passos do antecessor, e nós sabemos no que deu..


05 de fevereiro de 2003