terça-feira, 15 de julho de 2003

Um diálogo

Espero que você me compreenda, mas não compartilho da mesma crença que você. Na verdade, não compartilho de crença alguma. Sou de uma geração que não teve Deus. Uma geração que viveu depois de Deus. Uma geração que cresceu sem uma moral e sem uma ética, onde os detentores da moral passada não acreditavam naquilo que pregavam. Sou talvez mais niilista que minha própria geração, já que não creio nem na Ciência, esse grande Deus surgido no século XIX. Não, não creo nela tampouco.
Mas não pense que eu não acredito em nada. Ainda creio na natureza. Nas flores que nascem na primavera, nos pássaros que cantam todas as manhãs. Creio que o ser humano sem crença alguma não é capaz de suportar sua existência. A existência, me parece, é grande demais para que possamos viver em contanto direto com ela. Necesitamos de um intermediario, algo ou alguém que faça essa ponte entre nós e o mundo. Isso me faz acreditar também no amor. Às vezes penso que não sei o que é o amor. Mas paro e reflito por um instante: talvez eu esteja buscando o amor muito longe, talvez esteja esperando chegar a mim um amor infinito, e por isso sublime, que eu sei que nunca vou encontrar. Então me ponho a aproveitar o amor que tenho, o amor que é pequeño num primeiro instante, mas que cresce a medida que você sabe aproveita-lo. Amor que encontro nas pessoas que me cercam.
Nessas horas, não sei de onde sai essa força, não sei de onde vem esse credo, mas por um instante eu acredito no homem, naquilo que ele tem de mais humano. Não sei, não me pergunte como nem porque. Eu acredito, apenas acredito. E é nessas horas que eu digo com a maior convicção que a vida vale a pena. Mesmo sem Deus. A vida apenas, pois não creio na morte.

Pato Branco, 15 de julho de 2003

quarta-feira, 9 de julho de 2003

O medo do ministro

Então o sr. ministro da fazenda Antonio "Malan" Palocci está preocupado com a CPI na Câmara dos Deputados para investigar os contratos firmados entre as telefônicas e a Anatel. O medo do representante dos mercados no governo é de que tal investigação soe como quebra de contrato e afugente os investimentos externos.
Gostaria de saber porque uma CPI nas telefônicas é desnecessária. Se a privatização já tem muita coisa escondida, o que dizer dos contratos em que são permitidos aumentos muito acima da inflação. Estaria certo o governo anterior e não passaria de pirraça infantil todo o barulho que um certo partido da oposição fazia?
O aumento da telefonia foi combatido com muito barulho pelo ministro das comunicações Miro "Marinho" Teixeira e defendido pelo ministro "Malan" Palocci e José Dirceu, membros do núcleo do petismo neoliberal. Resta a dúvida se o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, vai aceitar o pedido de CPI ou recusar, alegando falta de fato definido de investigação.
Controle de inflação, já nos ensina o ministro Palocci, se faz unicamente à base de juros altos, salários desindexados, corte de investimentos (tucanado como superávit primário), e não há contribuição dos preços controlados como telefone, pedágio, luz... Por falar em luz, assim como o Bush fez com que sentíssemos saudades do Bill, Lula parece estar disposto a fazer com que sintamos saudades de FCH. A contribuição impositiva para garantir o lucro das companhias de energia (tucanado como seguro-apagão) deixou de ser, para o PT, algo imoral e ilegal para se tornar necessária, tão necessária que o PT pretende torná-la permanente.
É isso a concretização das promessas de campanha que falavam em social e mudança de paradigmas?

Pato Branco, 09 de julho de 2003