sexta-feira, 22 de agosto de 2003

A greve da Unicamp

A greve na Unicamp, pelo que parece, caminha para o seu fim. A greve, parcial, foi contra a "reforma" da previdência, e segundo o filósofo Marcos Nobre, tinha a intenção de, além de tentar barrar a "reforma", mostrar para a sociedade que a tal "reforma" é a destruição da universidade pública brasileira, que concentra quase toda a produção científica do país.
Nada surpreendente o fato da mídia e do governo não terem dado a menor atenção para a greve - na qual muitos intelectuais petistas participaram - mas sim o grau de "tapadice" que reina na universidade (professores e alunos), pessoas que não tem capacidade de olhar sequer o próprio umbigo - que dirá o dos outros. A medicina, com seus dois professores por aluno, não
tinha qualquer motivo pra parar - na ótica do próprio umbigo. Várias engenharias, química e outros cursos também não pararam. A paralisação total ficou por conta de letras, lingüística, ciências sociais e Instituto de Artes.
O que me surpreendeu - e desanimou bastante - foi a filosofia não ter parado. Apesar de professores e alunos terem entrado em greve, bastava o professor decidir dar aula que teria turma cheia. Até seria compreensível se a filosofia tivesse proporcionalmente o mesmo número de professores da medicina, mas não é esse o caso. O curso corre, assim como o de lingüística, o risco de ser extinto. As desculpas para furar a greve foram as mais batidas: por parte do professor, não concordava com certos aspectos
da greve; por parte dos alunos, não queriam "tomar bomba" na matéria, ou porque aspiravam uma bolsa de iniciação científica, ou porque crêem ser inteiramente subordinados ao professor, ou simplesmente porque "estou mais preocupado com a minha nota", como me disse um colega.
E no que a reforma prejudica a universidade pública e como pode contribuir para a extinção dos cursos de lingüística e filosofia da Unicamp? Prejudica a universidade pública a longo prazo porque não vai haver mais o estímulo da aposentadoria integral, que diferenciava ela da iniciativa privada.
Prejudica a curtíssimo prazo porque os professores que podem se aposentar já estão pedindo aposentadoria e o caso da Unicamp, muito semelhante ao da USP, é que cerca de 25% dos professores da universidade entraram com o pedido. É por causa das aposentadorias que a filosofia e lingüística podem ser extintos.
Desanimador também tentar argumentar com os fura-greves a aderirem a ela. A cabeça muito bem moldada pelo Jornal Nacional (leia-se a grande mídia), todos se dizendo contra os "privilégios" dos funcionários públicos, como se isso fosse o suficiente para a inclusão dos trabalhadores (quase metade da pea) que não possuem carteira assinada no sistema de previdência (algo que não é tratado na dita reforma).
Nessas horas bate um desespero...

Campinas, 22 de agosto de 2003

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