segunda-feira, 25 de agosto de 2003

"Nenhuma guerra dura seis dias"

"Nenhuma guerra dura seis dias", a frase é de Carlos Heitor Cony, título de uma crônica por ele escrita há alguns dias. Reproduzo-a aqui por ser esta a melhor frase que já li sobre a crise atual no Oriente Médio.
É abrir os jornais, ligar o rádio, que certamente encontraremos notícias de mortes de palestino e israelenses. Ataques terroristas de um lado, retaliações do outro, as notícias desse confronto nos soam tão naturais que creio que estranharíamos o dia em que não ocorressem mais. E nada mais assustador que a naturalidade da guerra, tal como a vemos atualmente - Oriente Médio, Bósnia, Iraque, África, Afeganistão. A guerra não nos causa mais nenhum sentimento de compaixão, indignação ou vergonha.
No caso do Oriente Médio, onde a guerra parece não ter fim, já sequer esperamos por ela. Alguns ainda estão esperançosos de um novo acordo de paz, como o feito sob a tutela do Bill Clinton; mas segundo o sociólogo Emir Sader tal acordo só foi possível porque os palestinos encontravam-se muito enfraquecidos na situação. Ainda assim houve acordo de paz. Mas houve também os radicais que conseguiram não só invalidar o acordo, como manter o ódio ao "inimigo" falando mais alto que a razão. Conseguiram com que
vizinhos se tratassem como inimigos.
Na atual crise as retaliações, partindo das opiniões da imprensa, são sempre por parte dos israelenses. É difícil acreditar nisso, já que me parece quase impossível saber quem foi o primeiro a atacar. A guerra dos seis dias ainda não acabou.
É difícil também, nessas situações extremas, evitar posições extremas. Os israelenses foram os primeiros a demonstrá-las, ao eleger para presidente alguém acusado de crimes contra a humanidade. Não creio que a culpa seja só de um lado, mas convém atribuir a uma certa miopia de Israel o atual estado das coisas. Por se tratar do lado mais forte, deve começar com o exemplo,
acatando o cessar fogo e tomando as demais medidas reivindicadas pelos palestinos. As "retaliações" de Israel são tudo o que os extremistas palestinos desejam, para continuar mandando seus mártires à morte certa por uma causa - tal qual os radicais querem - impossível.
Nada mais triste que abrir os jornais, ler as notícias da guerra e depois fazer as contas para ver que lado está ganhando, fingindo que numa guerra há vencedores, ignorando que tudo isso, de alguma forma, nos atinge.

Campinas, 25 de agosto de 2003

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