quarta-feira, 3 de março de 2004

E agora, Espanha?

A interceptação de dois carros perto de Madri, com 536 quilos de explosivos com os quais o ETA pretendia realizar um ataque terrorista na capital espanhola polemizou ainda mais a disputa eleitoral no país em torno da questão do terrorismo.
Começou com a visita do "vice-administrador" da Catalunya, ligado à coalizão de centro-esquerda encabeçada pelo PSOE, ao líder do ETA, na França. Por causa disso o candidato do governo acusou o PSOE de ser conivente com o terrorismo. Dias depois o ETA vai à tv anunciar trégüa à Catalunya. O PSOE reage com um ato contra o terrorismo que reúne milhares de pessoas em Barcelona (capital catalã). O último ato foi esse dos explosivos.
Toda essa polêmica porque o terrorismo é considerado a encarnação do diabo e com o qual não há negociação enquanto os grupos terroristas não deporem as armas. PSOE e PP (partido do atual primeiro ministro espanhol, Aznar) assinaram um documento há alguns anos se comprometendo com isso.
Aqui surge o nó da questão. Deve-se condenar o terrorismo, pois trata-se de atos covardes, muitas vezes contra a população civil. Mas será que só o ETA, IRA, Al Qaeda, com seus carros-bomba, homens-bomba, burros-bomba são terroristas covardes? E os mísseis Tomahawk contra fábricas de leite? E os marines abrindo fogo contra civis? Por que isso não é terrorismo? Convenhamos, os assim taxados terroristas ao menos têm um fim mais nobre.
E o caso do ETA, mais especificamente, que possui um território bem delimitado de ação: a Espanha. Suponhamos que o ETA decida depor as armas e se institucionalizar, ou seja, virar um partido político. Mas para isso exige que haja anistia para seus líderes (creio que isto seria o mínimo que o ETA pediria). Se o governo espanhol aceita a anistia é porque o terrorismo não é tão condenável assim, e poderia ter havido negociação entre governo e terroristas desde o início.
Se não aceita, se o terrorismo é mesmo o mais torpe dos atos, é também uma questão de uma única solução: a eliminação física do inimigo, que é numeroso, ocasionaria mais mortes que os esporádicos ataques do ETA, e seria, portanto, mais condenável que o terrorismo.
A forma com que se tem tratado o terorismo é, portanto, totalmente equivocada quando se tem por objetivo a supressão deste. Trata-se de uma forma de agir que parte dos efeitos enão das causas do terrorismo. Para a solução deste problema há dois caminhos: combatê-lo ou solucioná-lo.

Campinas, 03 de março de 2004

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