Numa decisão tomada à revelia da comunidade acadêmica, a reitoria da Unicamp anunciou em 2003 a mudança das carterinhas estudantis e funcionais por outras, mais modernas, que poderiam conter todos os dados do portador, assinatura virtual, funcionar como cartão de débito e crédito, dentre outras “vantagens”. Na reportagem do Jornal da Unicamp edição 231, da semana de 29 de setembro de 2003 (repare que estamos usando a fonte oficial, nada de “ouvi dizer”, visite o endereço eletrônico www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2003/ju231pag11.html para ver a reportagem), que anunciou o cartão universitário (agora rebatizado de “carteira estudantil”), havia uma foto do que deveria ser o CU: foto do aluno, o símbolo da Unicamp, o símbolo do Santander-Banespa e o símbolo da Visa. Os gastos para a mudança das carteirinhas (2 milhões de reais) foram bancados inteiramente pelo banco Santander-Banespa, que se comprometeu dá-las de graça, sem a cobrança de qualquer taxa - tanto para o aluno quanto para a universidade - pelo próximos cinco anos. A mobilização da comunidade universitária da Unicamp, e em especial a ocupação do Bandejão da Unesp de Araraquara contra essa parceria entre universidade pública e banco privado, fizeram com que a reitoria e o Santander-Banespa reformulassem o projeto gráfico do cartão, de modo a disfarçar a presença do banco e evitar que o que se passara na Unesp repetisse na Unicamp. A retirada da logomarca do banco, todavia, definitivamente não significa a saída do banco do projeto.

Tentemos pensar um pouco as pretensas vantagens do CU (já que uma espessa névoa cerca o assunto na internet, na reitoria ou onde quer que se busque informações a respeito). Uma delas seria o controle a locais restritos, tais como laboratórios e o hospital. Ocorre que esse controle já era feito pela carteirinha antiga, que possuía código de barras. O novo cartão está expandido esse controle a outros locais: bibliotecas e bandejão, por enquanto. Não será surpreendente se em breve catracas forem postas nas portas das salas de aula e o controle da freqüência seja feito automaticamente, obrigando o aluno a permanecer em sala o tempo todo. Outra vantagem anunciada é o fim das filas no Bandejão. Será? O mais provável é que a fila para a compra do ticket se transferirá do Bandejão para o banco; enquanto a fila para entrar permanecerá tal como está: se hoje a fila do CU aparente é mais rápida isso se deve unicamente ao fato de poucos alunos se utilizarem dele; a solução para as filas no Bandejão se passa necessariamente pela reabertura do Restaurante Universitário I. Além do mais, se o objetivo é diminuir a confusão, imagine o que não vai se passar quando o sistema cair?

A implementação do CU sem prévia consulta da comunidade universitária foi um ato moralmente condenável, afinal vivemos numa democracia, ou não? A vinculação de uma instituição do porte da Unicamp a um banco privado é um fato que atenta contra os princípios republicanos (somos uma república de bananas, é certo, mas não precisa exagerar!). A tudo isso acrescenta-se a falta de clareza no que tange à muitas dúvidas sobre o cartão, e a ausência de um funcionário ou página na internet que possam esclarecê-las: como será daqui cinco anos? Haverá cobrança de taxas para a manutenção do cartão? Continuará o aluno desobrigado a ter conta no banco Santander-Banespa (vale lembrar que os bancos privados são conhecidos por, via de regra, terem as maiores taxas do mercado)? Como o Santander-Banespa pretende recuperar os R$ 2 milhões investidos na implementação do cartão? Até onde se estenderá o controle via catracas? Até que ponto seremos observados por câmeras? Já proibiram a cerveja, as festas, o namoro, o que mais falta? Em certos setores dos bancos os funcionários têm direito a 10 minutos para ir no banheiro durante o expediente, quanto tempo demorará para esta regra ser implementada aqui?

Para discutir os prós e os contras do Cartão Universitário e do aumento das restrições no campus, e planejar meios de resistência, vai rolar um evento cultural dia 14 de dezembro, a partir das 20h, no IFCH, com filme, som e cerveja. Não será exigida a apresentação do CU.


Campinas, 11 de dezembro de 2004
Para: Surplus-Unicamp