domingo, 13 de fevereiro de 2005

O preço do progresso

Trazer o progresso e a tecnologia aos países atrasados do globo custa caro. Que o diga os habitantes dos países atrasados.

Navegava eu pela internet hoje, e uma propaganda de internet rápida espanhola me chamou a atenção: internet rápida, de 1,2 Mbps de velocidade de acesso, sem limite de uso, mais ligação gratuita para telefones fixos dentro do país a qualquer hora, sem necessidade de linha telefônica, com modem e instalação gratuitos, tudo por 39,95 euros mensais, o que corresponde a cerca de 10% do valor do salário mínimo espanhol. Resolvi comparar com os serviços oferecidos no Brasil por uma empresa telefônica espanhola: só para instalar a internet rápida é preciso pagar R$ 64,90 de instalação e R$ 249,90 pelo modem mais barato. O plano mais "em conta" sai por R$ 49,90, mais provedor de acesso, que custa no mínimo 19,90, com velocidade de 150 kbps (o que dá 12,5% da velocidade do provedor espanhol), com limite de 5Gb de uso (downloads e visitas de páginas), sendo que as ligações interurbanas continuam sendo cobradas normalmente (que entre dois estados vizinhos, SP e PR, dependendo do horário, podem sair até por R$ 0,60 o minuto pela operadora mais barata), e mais a necessidade da linha telefônica, o que acrescenta mais R$ 35,00, só pela assinatura. Somando tudo, para ter uma internet "rápida" vagabunda é preciso desembolsar mais de R$ 100,00 por mês, além dos interurbanos; o que equivale a 38% do salário mínimo atual do país. Um plano semelhante ao espanhol, mas ainda assim inferior, de 1Mbps, com limite de 20 Gb (o que não dá muito) sairia por cerca de R$ 220,00, 85% do valor do salário mínimo, 8,5 vezes mais caro que o plano espanhol!

Claro que os economistas cosmopolitas e atentos ao mercado global (e isolados em torres de marfim) vão discordar desse 8,5: se transformarmos em dólar, o provedor espanhol custa US$ 52,00, contra US$ 81,00 do plano brasileiro, ou seja, apenas 55% mais caro, que é o custo da pouca demanda pelos serviços no Brasil e a necessidade de ter retorno que compensem os investimentos feitos no país. Eles têm suas razões para acreditar nisso, como há aqueles que crêem em Deus ou em duendes.

No fim nos resta escapar da justiça dos economistas como se pode. Uma alternativa para cortar interurbanos é o programa Skype, disponível em www.skype.com, que permite que se converse gratuitamente entre dois computadores conectados à internet como se fosse telefone (com conexão discada há um pequeno atraso, mas também é possível utilizá-lo).

Pato Branco, 13 de fevereiro de 2005

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