Já há um certo tempo, e em especial desde a semana passada, os jornais foram invadidos por notícias de corrupção em doses espantosas. Jucá, Merielles, Correios, deputados de Rondônia, prefeitos de Alagoas, concursos públicos (sem contar o já velho Waldomiro). Será que o Brasil está perdendo o rumo? Ou será que o rumo já está perdido faz tempo, mas só agora estamos nos dando conta? Há quanto tempo a corrupção está impregnada nos hábitos da nação? 40 anos? 50? 120? 500? Mas parece que não era tanta um certo tempo atrás? Será? Será que a famosa cervejinha pro guarda, pra fugir da multa, foi instituída na década de 90? Aqueles que ainda se surpreendem com toda essa corrupção que agora surge nos noticiários devem se preocupar: estão levando suas vidas como autômatos, enxergando e pensando somente aquilo a que estão pré-programados.

Infelizmente parece ser uma máxima universal: onde há poder, há corrupção. Se houver dinheiro, há mais corrupção. Não importa quanto poder ou quanto dinheiro esteja em jogo. E, pelo menos no Brasil, certamente não é com a minha geração que isso irá mudar. Lembro da minha experiência no centro acadêmico da faculdade. Um orçamento minúsculo, um poder beirando a completa insignificância. Um nada, enfim. Meus colegas - futuros filósofos, políticos -, no auge do idealismo dos seus vinte anos, corrompendo e sendo corrompidos, achando tudo isso normal. "É assim que as coisas são", sem questionar porque elas são como são, simplesmente aceitando e tentando se adequar o melhor possível para, somente então, começar a agir. Como se fosse possível acabar com a corrupção corrompendo.

Cito minha experiência no centro acadêmico (do qual, diga-se de passagem, fui chutado e execrado por não querer dançar conforme a música) porque o Lula falou, se não me engano durante a campanha de 2002, que só do PT entrar no governo metade da corrupção do governo passado acabaria. Dito e feito! O problema foi que ele, ao invés de tratar de extirpar a outra metade responsável pela corrupção, preferiu não só mantê-la, como pôr os seus pra dançarem a mesma música.

E o PT, de virgem imaculada da ética passou a cafetão do bordel estatal. Mas ainda não percebeu isso.

As declarações de Lula sobre Roberto Jefferson, mostram que ele ainda acha que possui o beneplácito das virtudes ética e morais republicanas, como se sua palavra fosse garantia de probidade. Não percebe que esse seu capital já havia sido consumido de sobremaneira quando passou o atestado de ilibado para Orestes Quércia, em 2002. O que restou desse capital se esgotou rapidamente depois do PT assumir o poder federal. Se ainda resta ao PT algo dessa imagem de partido ético, é porque ela está sendo duramente sustentada a pesados golpes publicitários, ou então por algum saudosismo que nos faz querer não acreditar no que vemos (me incluo neste grupo).

Temos de convir, é verdade, que o PT, em especial o presidente da república, por enquanto não enfiou (pelo menos que nós saibamos) diretamente a mão na lama, tal como seu antecessor (do qual há provas incontestes de corrupção, como na ocasião da privatização das estatais telefônicas). Mas ser conivente com a corrupção já basta para ser culpado.

Então... está tudo perdido? Muito pelo contrário! Reconhecer o problema é o primeiro passo para resolvê-lo. O problema é conseguir manter o ânimo mesmo quando tudo parece andar contra. E isto é essencial, pois não há um super-herói solitário esperando ser chamado para acabar com os problemas. E não será com a prisão de políticos, policiais, jornalistas, burocratas, juízes, empresários, advogados, publicitários, sindicalistas, médicos, estudantes, donas-de-casa corruptos que o problema da corrupção estará sanado. Se a ocasião faz o ladrão, precisamos não só prender o ladrão como evitar a ocasião. Como? Passo a palavra.

Campinas, 25 de maio de 2005