sábado, 20 de maio de 2006

Papeis trocados?

Com a decadência do sincretismo religioso, em função da ascensão das religiões neopentecostais, um novo sincretismo tem despontado no Brasil: o sincretismo político. No início, a impressão que se tinha era de uma cooptação dos partidos de esquerda pelo establishment, que adotavam políticas até então criticadas como sendo de direita. Na imprensa, tal fenômeno era tratado como sinal “amadurecimento” dos partidos e das instituições.
Começou com a união de um partido de centro-esquerda dito social-democrata com um de direita, neoliberal. Seguiu com a união de trabalhadores e liberais. Prosseguiu com comunistas e malufistas se tratando como companheiros cheio de afinidades. E eis que temos um direitista neoliberal com o discurso de centro-esquerda, já beirando o de esquerda!
Falo da entrevista dada pelo atual governador de São Paulo, Cláudio Lembo, do PFL, que, em meio à crise desencadeada pelas ações do crime organizado contra a polícia, resolveu dizer que as causas são as causas do problema da criminalidade, ou seja, a distribuição de renda do país. Criticou a “elite branca”, as “dondocas”, que adora jantares de caridade e suas manifestações feitas sob a guarda de guarda-costas, mas se recusa a abrir a bolsa; ao mesmo tempo que destilando sarcasmo ao atacar seus aliados. Uma das mais divertidas entrevistas da política nacional dos últimos anos!
Eu iria dizer que é uma pena que Lembo tenha descoberto que as causas são as causadoras das conseqüências, visto que ele já está faz tempo na política e, além do mais, já não pode mais trocar de partido para disputar as eleições de outubro em um que condiga mais com seu discurso. Mas no Brasil de hoje... se FHC fazia questão de esquecer o que escrevera (assim como agora sofre de séria amnésia de quando governava), se Lula admite que todo seus discurso de mais de 20 anos era bravata, por que não pode o Lembo descobrir que foi a vida toda enganado pela elite branca? E que partido teria um discurso mais condizente com o seu atual? Hoje em dia qualquer discurso serve para qualquer partido. Se o PT ataca os trabalhadores, por que o PFL não pode atacar as elites?

Campinas, 20 de maio de 2006

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