sábado, 2 de setembro de 2006

O patrono da política brasileira

Como um vazamento de gás, ele foi se aproximando sorrateiramente. Todos sabem da sua existência, conhecem sua fama, suas políticas, rejeitam comparações, mas repetem-no no discurso e na política. Não falo somente dos políticos, mas também dos eleitores – até mesmo os tais ilustrados.
A política brasileira hoje é pautada pelo malufismo.
Se em campanhas presidenciais passadas causava certo constrangimento receber seu apoio – é certo que não constrangimento suficiente para rejeitar o apoio e ter fotos de FHC, Lula e Marta estampadas ao lado da de Maluf –, hoje, mais do que nunca, não causa constrangimento algum seguir sua política e discursos. Há apenas alguns pudores em admitir a paternidade das idéias – talvez por medo de um processo por plágio, já que o mesmo ainda se encontra vivo.
Vale lembrar que em 2002, para a campanha de São Paulo, o candidato do PT, José Genoíno, para se contrapor à política apelidada de “neomalufista” do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, entoou o famoso bordão “Rota na rua”. Muitos encararam o Rota na rua de Genoíno de maneira diferente da de Maluf: “veja bem, não é bem assim”. Outros preferiram ver como uma artimanha para ganhar eleitores, assim como viam tal artimanha na “Carta ao povo (sic) brasileiro”, que Lula assinava na mesma campanha. Quatro anos depois de PT no Planalto não sei se ainda existe alguém que acredita que o “Rota na rua” não queria dizer outra coisa que o tradicional “Rota na rua”.
Mas estamos em 2006, Genoíno seria cachorro morto se vivêssemos em um país sério, e a eleição segue a pauta malufista. Mensaleiros, sanguessugas, ex-presidente (mesmo sem ser candidato) seguem o discurso por nós já conhecido e até há pouco rejeitado de que “nada foi provado”. Na disputa pela presidência, de um lado Alckmin acuado com os recentes ataques do PCC, querendo achar algum culpado no PT (lembra o Maluf?), se preciso, algum culpado nos partidos aliados (lembra o Pita?), enfatizando o quanto seu governo fez pela segurança (a tal política neomalufista), seja em números de presídios, seja em número de presos, se defendendo de acusações de corrupção por culpa da “imprensa parcial” que o persegue. De outro, artistas e personalidades apoiadoras de Lula bradam o mais que conhecido “Rouba mas faz”, em uma linguagem um pouco mais grosseira (por incrível que pareça!), apenas para não ter que pagar direitos autorais ao ex-prefeito.
Como eu disse, Maluf vinha se sobressaindo na política nacional já há quase uma década, pelo menos. Pelo espólio eleitoral que possuía (e ainda possui), pelo abandono pelos partidos de qualquer ideologia que não o poder pelo poder (o sonho de se tornar um PRI brasileiro, que vem desde FHC), pela acomodação passiva e acrítica do eleitorado tido por informado (por mais que apresentem ao distinto público uma pseudo-crítica para justificar seu apoio), não é de se admirar que os partidos se esfaqueiem na busca dos eleitores malufistas, adotando posturas, discursos e políticas dessa sinistra figura da política brasileira.
Getúlio Vargas, que FHC e Lula tanto adoram citar – seja para o bem, seja para o mal –, não passa de um expediente retórico que visa dar qualquer profundidade a discursos e políticas vazias e burras. O verdadeiro norte da política nacional de hoje é Paulo Maluf.

Campinas, 02 de setembro de 2006

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