segunda-feira, 9 de abril de 2007

Lobão é traidor ou nós é que fomos bobos?

Claro que causa surpresa o novo disco do Lobão. Um disco acústico?! MTV?! Pela Sony-BMG?! Com músicas tocando na rádio?!
Algo está estranho nessa história, alguma coisa tem que ter mudado para que o Lobão voltasse a uma grande gravadora, depois de uns sete anos brigando com elas!
Segundo Lobão, mudaram as grandes gravadoras. Segundo alguns fãs, mudou Lobão. Segundo a famosa frase do Lampedusa: “Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude”. Creio que essa frase define de maneira apropriada a situação: mudaram as gravadoras, mudou o Lobão. Ou, não mudaram nem as gravadoras nem o Lobão.
As gravadoras seguem pagando o jabá tão denunciado por Lobão nos últimos anos. Seria diferente com Lobão? Por respeito ao artista, estariam deixando ele de fora do esquema? Não é o que dá a entender Lobão, na sua entrevista para a Folha de São Paulo: “Eu não pago jabá. Por que eu assinado [com uma gravadora], toco [nas rádios], e não assinado, não toco? Eu não tenho nada a ver com isso. Eu tô numa gravadora e pronto. É uma atitude muito moral dizer que eu tô pagando jabá”. Como se a acusação até ontem por ele feita era dirigida aos artistas, eles quem estimulavam o jabá, e não às gravadoras.
Então, como negar a “traição” de Lobão? Simples. Lobão não “traiu o movimento” porque nunca se comprometeu com movimento algum que não o da sua carreira. E sua carreira é de um artista da indústria cultural, não de um artista maldito ou marginal. “O sonho acabou”, já havia dito Lennon há quase três décadas. Nós é que fomos bobos em acreditar em Lobão e não em Lennon.
Expliquemos um pouco melhor sua mudança-não-mudança: seu último disco antes do litígio com as grandes gravadoras, Noite, “foi um tremendo fracasso”, como ele atesta na faixa dois do seu disco “2001: uma odisséia no universo paralelo” (tentei buscar o número na sua página, mas não consegui navegar, não sei se por não ser compatível com navegador Firefox e Opera ou por não ter informações mesmo). Curiosamente, depois desse tremendo fracasso, a gritaria contra as gravadoras e o jabá que ele agora diz ser moralista, rendeu ao “A vida é doce” quase cem mil cópias vendidas. Ele agora acha pouco, talvez porque queira competir com Sandy e Júnior, mas convenhamos que é uma marca considerável no Brasil, ainda mais sendo um disco de distribuição independente e em uma fase em que começava a cair a venda de cds. Já seu último disco antes do retorno triunfal, “Canções da noite escura” vendeu apenas quinze mil cópias. Pouco, sem dúvida. E Lobão é um artista da indústria, quer antes vender, não fazer arte – não entremos aqui na questão de se é possível arte na indústria cultural.
Como ele mesmo disse: “Estou fechando um ciclo”. Bancar o garoto rebelde já não alavanca vendas, o negócio é voltar a tocar nas rádios. Daí só resta a possibilidade de fazer um disco fácil. Entre um “ao vivo” e um “acústico”, ele optou pela segunda opção, já que já havia lançado um ao vivo em 2001. Para ficar ainda mais fácil, pega-se o modelito pré-fabricado MTV, em que não precisa sequer pensar.
Resultado: Lobão está de volta, tocando nas rádios, com boas chances de grandes vendas. O disco? Sofrível. É um acústico MTV. Se você já comprou algum, qualquer um, não precisa gastar seu dinheiro neste. Mas não sejamos injustos: ao menos aquilo a que a gritaria do Lobão se dirigia não era um fato inventado, merece ser combatido por pessoais mais sérias e comprometidas com outras coisas que não vendas.

Campinas, 09 de abril de 2007

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