terça-feira, 26 de maio de 2009

Cidade e memória

Semana passada, aproveitando que ainda sou estudante, resolvi me dar uns dias de férias. Aproveitei para visitar meus pais, que vivem numa pequena e interiorana cidade no meio do nada no sertão do Paraná. Atenta ao que considera de mais moderno, a população se orgulha de seguir a máxima do liberalismo totalitário: tudo o que não pode ser reduzido a cifras deve ser reduzido a pó. Araucárias velhas ou casas antigas, por exemplo. Mesmo que seja a primeira escola da cidade e nela ainda resida uma das suas pioneiras, já com problemas de memória, por conta da idade avançada. Manda-se a velha para um buraco qualquer, destrói-se a casa, e no lugar levanta-se um moderno edifício de três andares em sua homenagem, com uma linda vista para outro moderno edifício de três andares. A pobre dona Frida só não foi ela também reduzida a pó porque isso tornaria muito evidente o seu assassinato, e atentaria contra os princípios cristãos em voga na cidade.

Faz quase um década que deixei Pato Branco, onde brinquei minhas primeiras 17 primaveras. Ainda que volte três ou quatro vezes por ano, ela me é cada vez mais estranha. Não é por menos. Entregue a dois ou três João Romão que a mudaram conforme seus interesses mais imediatos e mesquinhos, indiferentes ao fato de que uma cidade necessita de uma história pública para não se tornar uma espécie de grande hotel, um lugar de passagem qualquer, cambiável por qualquer outro lugar. Pior, ainda foram louvados pela população como civilizadores.

Releio o que acabo de escrever e me sinto meio o Trevisan em busca da sua Curitiba perdida. Apesar de todas as mudanças nos últimos tempos, parece haver coisas que insistem em não mudar.

São Paulo, 26 de maio de 2009


Publicado em www.institutohypnos.org.br

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