sexta-feira, 3 de julho de 2009

A força faz a união

Do governo federal, redução (ainda que temporária) de impostos e uma linha de crédito de R$ 4 bi. Do estadual, mais uma linha de crédito de R$ 4 bi, e R$ 1,3 bi para a ampliação da marginal Tietê. Agora é a vez do governo municipal dar sua contribuição, com a proibição de circulação de ônibus fretados em parte da cidade de São Paulo. Se os três níveis de poder conseguissem agir tão sincronizadamente para a melhoria da educação, da saúde pública, da segurança, para o combate à corrupção, à miséria e estaríamos sem dúvida em um país muito melhor. Mas é o transporte individual que consegue unir forças dessa forma.
A democracia brasileira em breve poderá ir para além do “um homem, um voto”, instituirá o “um homem, um carro”. É quando todos terão a alforria do transporte público, livres para irem onde bem entenderem com seus potentes carros. A 5 km/h, se tanto, mais vagarosos que os resistentes pedestres que insistem em ter pernas e a ocupar calçadas com elas, impedindo a sua transformação em ruas, o que auxiliaria no fluxo de veículos.
A medida de proibir os fretados, diz o secretário de transporte, Alexandre Moraes, tirará de circulação 1300 ônibus, afetando 110 mil pessoas. Dessas, estima, 48 mil irão para o transporte público (com aumento de até 46% nos seus custos com transporte). Suponhamos que essa santa ingenuidade seja verdadeira, resta a dúvida: e as outras 62 mil pessoas? Adotarão bicicletas, skate, patinete? Ou porão 25 mil carros a mais nas ruas (e olha que estou dobrando a taxa de ocupação nesses carros)?
Para além do questionamento dos investimentos e da celeridade nas melhorias do transporte público, ainda mais na caótica São Paulo, outras questões devem ser levantadas: o papel do carro no imaginário nacional: ter carro é ter sucesso, pedestre é pobre e perdedor; e a centralidade da indústria automobilística na geração de empregos.
Enquanto não começarmos a mudar isso, seguiremos comprando carro para cada vez mais disputar corrida com pedestres. E ainda com o risco de perder.

Campinas, 03 de julho de 2009
Publicado em www.institutohypnos.org.br

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