Gato (certamente deve ter outro nome, mais criativo e condizente) é uma gata, ao que tudo indica prestes a cumprir com o mandamento bíblico, e que desde 2008 andava sumida. O que não era de todo ruim, admito, porque além de banheiro, ela costumava trazer seus paqueras (dizem que aquilo é acasalamento de gatos, como não sou entendido, acreditei) para meu quintal nas madrugadas. Sei quando é o Gato não só por ela não fugir quando apareço, como por responder quando mio para ela (ou será que sou eu que respondo quando ela mia para mim?), o que já me causou certo constrangimento na frente dos amigos. Outro sinal de que é ela, é a insistência do bicho em entrar na minha casa. Isso desde 2003.
Daí que me veio a dúvida sobre quanto vive um gato: cogitei se ela já não teria morado aqui, quando tinha realmente um dono, e não um cara que um dia comprou o peixe errado pra receita e fez a sua festa por dias. Porém, até onde me lembro, a pessoa que morou antes de mim nesta casa - três anos, ao menos - não tinha gato, mas três cachorros: uma chatíssima de pequeno, outro de médio, e outro de grande porte - o qual babava horrores. Sei que cachorro vive lá seus quinze anos. E gato?
Isso era fácil de descobrir: bastava ligar o computador (que, novo, não leva mais seis minutos para estar pronto) e perguntar pro Gugou. Estaria ali a resposta, em milisegundos, pronta para saciar minha curiosidade - essa e outras -, exterminhar minha questão e matar a chance de pensar tantas coisas à respeito, me divertir com o fato e desfrutar da dúvida. Pelo mesmo ralo virtual de certezas iria também esta crônica.
Campinas, 30 de junho de 2010.