segunda-feira, 4 de outubro de 2010

As pesquisas e as eleições

Gosto dos gráficos de pizza, mais ainda dos de linhas que sobem e descem. Talvez sirvam para compensar o quanto não gosto de montanha russa, ou o quanto gosto de seguir por aí sem grandes sobressaltos, tranqüilo. Gostar de gráficos, contudo, não me parece bastar para me tornar um estatístico ou qualquer coisa minimamente semelhante a. Tive duas disciplinas de estatística na universidade, uma péssima, na psicologia, outra ótima, nas ciências sociais. Nesta, o professor, o Paulinho - nunca me dei ao trabalho de saber qual seu sobrenome -, ciente de que havia um curso de quatro anos para ensinar a parte técnica da estatística, preferiu passar alguns conceitos e a linha de raciocínio básica da ciência nos seis meses que cabia àquele bando de gente que já nem as quatro operações básicas devia saber – se é que se lembrava o que eram as tais quatro operações básicas (greve, protesto, barricadas, revolução?). Talvez eu tenha aprendido errado, não sei, mas me arrisco aqui a falar do que não sei.

Se entendi bem, alguém com o dobro de intenção de votos do adversário não pode estar tecnicamente empatado. Com cinco vezes mais votos, menos ainda. Mas segundo Datafolha, Ibope e afins, se o candidato 1 tiver 8% e o candidato 2, 4% dos votos, com 2 pontos percentuais de margem de erro, estão “tecnicamente empatados”. 5% a 1%, a mesma coisa. Mesmo não sendo estatístico, não soa muito sensato isso. Ah, mas isso é coisa dos peixes pequenos, nem vale a pena perder tempo, vai dizer o leitor interessado na grande política. Displicente leitor, esse pequeno erro em dizer que 1% e 5% estão tecnicamente empatados equivale a dizer que Tiririca e Ivan Valente estavam disputando voto a voto o topo da eleição para o congresso em São Paulo.

Bem, talvez esse pequeno lapso ocorra porque os tais dois pontos percentuais devessem ser aplicados sobre o índice dos candidatos e não sobre a base 100. Daí que, conforme o Datafolha da véspera das eleições, Dilma teria 50%, entre 49% e 51%, na margem de erro. Serra, com 31%, poderia ficar entre 31,6% e 30,4%, e Marina oscilaria entre 17,3% e 16,6%, Plínio, por seu turno, com seu 1% que eventualmente alcança, oscilaria não entre 0% e 3%, mas entre 1,02% e 0,98%.

Porém vamos dizer que eu e minhas aulas de estatística com o Paulinho da Gpp e o bom senso estamos errados nisso, e vamos acreditar na margem de erro dos institutos de pesquisa e da Rede Globo e da Folha e da Grande Imprensa em geral, essa que merece até letra maiúscula, pra gente se lembrar que ela é grande (e de que é imprensa).

Datafolha e Ibope para presidente: Dilma, Serra, Marina: 50%, 31%, 17%; 51%, 31%, 17%, respectivamente. Resultado das eleições (arredondando): 47%, 32%, 19%. Serra e Marina ficaram na margem de erro, mas existe acertar pesquisa pela metade? Creio que não.

Nos estados, escolho aleatoriamente cinco. Começo por Minas. Pelo Datafolha de véspera, para o governo: Anastasia, 55%, Hélio Costa, 42%. Nas urnas, 62% a 34%. Sem comentários. Para o senado, Aécio, 43%, Itamar, 27%, Pimentel, 23%. Nas urnas, 39%, 26%, 24%. Uhhh!!! Fosse futebol e isso seria quase uma bola na trave! Quem sabe no próximo estado, Ceará. Pelo Datafolha, Cid Gomes levava por 65% a 19% de Lúcio Alcântara. Mário Cals teria 14%. O TSE resolveu, veja que audácia!, desmentir a Folha – mais uma prova do golpismo do Lula: 61%, 20%, 16% respectivamente para Cid, Mário e Lúcio. No senado, outra vez o TSE resolveu contrariar o Datafolha. Enquanto este dava Eunício com 33%, Tasso com 31% e Pimentel com 29%, o governo resolveu dizer que Eunício teve 36%, Pimentel, 33% e Tasso, 24%.

Como o Instituto Datafolha parece estar meio ruinzinho nos palpites, resolvo tentar o Ibope. Ia ver como foi no Paraná, mas me lembrei que as pesquisas foram proibidas pelo candidato vencedor, temeroso de um segundo turno. Até liberaram na véspera, mas estava difícil achar. Desço um estado, ao “Maranhão do Sul”, como é carinhosamente chamado politicamente o estado de Santa Catarina. Prevê o Ibope: Colombo, 41%, Amin, 27%, Ideli, 16%. Contradiz o TSE: Colombo: 53%, Amin: 25%, Ideli, 22%. Senado: Luiz Henrique: 28% na ficção contra 31% no Ibope (há quem diga que é o contrário, mas não custa lembrar o caso Proconsult. Por sorte, todos os candidatos importantes do momentos estão bem amestrados), Paulo Bauer: 25% na ficção, 22% no Ibope; Vignatti, 22% no Ibope e 19% na ficção. Proporcionalmente, 17% de acerto – na margem de erro –, ou seja, o Ibope não conseguiria nem vaga pro senado...

Como o negócio está feio e o texto começa a ficar grande, resolvo ver só quatro estados, e o último há de ser o do principal estado da federação (sic), São Paulo. Nada muito promissor, pois se erram para presidente, em São Paulo claro que errarão também, e eu sei de um erro grosseiro de antemão. Todos sabemos, menos os donos dos institutos de pesquisa e os jornalistas da Grande Imprensa.

Governador. Datafolha: Alckmin: 55%, Mercadante: 28%, Russomano: 9%, Skaf: 5%. Senado: Netinho e Marta: 24%, Aloysio: 20%, Tuma: 14%. Ibope: Alckmin: 51%, Mercadante: 33%, Russomano: 8%, Skaf: 6%. Pro senado: Marta e Netinho: 27%, Aloysio: 19%, Tuma: 12%. Na ficção do TSE: para governador, Alckmin, 51%, Mercadante, 35%, Russomano, 5% e Skaf, 5%. Uhhhh!!!! A pesquisa Ibope chegou a tirar tinta da trave na pesquisa para o governo paulista! Já para o senado, Datafolha e Ibope podem se afogar juntos, e tentar se explicar como alguém sobe 10% (uns quatro milhões de votos) em uma noite: Aloysio Nunes: 30%, Marta Suplicy: 23%, Netinho: 21%, Ricardo Young: 11%. Outra explicação que os institutos devem é quem é esse tal de Young, visto que o quarto lugar foi sempre dedicado ao xerife Tuma, depois da desistência do Quércia.

Em resumo, depois deste texto longo e cheio de número e %, típico de alguém que não entende nada mas adora ver gráficos e essas coisas: para estatística, numerologia deve ter um índice de acerto não muito longe dos dois principais institutos de pesquisa do Brasil, tendo em vista que, pela amostragem acima, o acerto foi de 0% (fosse índice de eleição e perdia até pro Zé Maria, do PSTU). Claro, isso não quer dizer que Datafolha, Ibope, VoxPopuli e outros não tenham sua utilidade. Em caso de bolão no bar, por exemplo, eles dão alguma base, alguma dica pra você fundamentar seu chute, se sentir menos inseguro na hora de palpitar. Ao menos se furar muito feio pode se eximir da vergonha: pô, tinha visto no Datafolha, por isso achei que a Marina ia ganhar. De qualquer forma, não vale perder tanto tempo com essas pesquisas: numa boa conversa de bar, além de maiores chances de acerto dos resultados, de visões políticas mais aprofundadas do que as análises dos analistas da Grande Imprensa, dá para se divertir muito mais com o bolão!


Pato Branco, 04 de outubro de 2010.

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