quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O grande fiasco da Fuvest?

Quando li a notícia de que uma questão de matemática da Fuvest 2012 deveria ser anulada, comemorei: um ponto mais!, já que a havia chutado errado. E a vida continuaria, eu pensando que precisava começar a estudar pro vestibular, enquanto tentava agilizar o fim do meu mestrado, e organizar a próxima Casuística, não fosse o e-mail do professor da UFPA, João Batista do Nascimento – que tem se dedicado a organizar dossiês com falhas do gênero, sendo que só o do Enem tem 350 páginas –, me alertando para as implicações do “erro monstruoso” em um vestibular em que se tem três minutos para resolver cada questão.

Tendo me dado conta do quão prejudicial aos vestibulandos é uma questão mal-formulada, resolvi dar uma olhada mais atenta à cobertura do problema, e compará-lo com a do Enem: não houve editorial ou “formador de opinião” condenando a USP ou a Fuvest, reitor, governador. 

Tampouco houve repórter indo fazer a prova para ver as falhas de segurança da Fuvest, que são as mesmas do Enem – como pude conferir in loco. Muito menos a ação articulada da Grande Imprensa para a produção de factóides, como em 2010 [j.mp/cG14nv10] e em 2011, tentando criar a impressão de que falha sistemática de segurança e de organização – logo, de gerência e de credibilidade.

Questão anulada, falhas de segurança, problemas na identificação no nome dos alunos: estamos falando do Enem, seis milhões de candidatos; ou do vestibular para a mais rica e importante universidade do país, 150 mil candidatos, R$ 120 de inscrição?

A diferença de tratamento pela Grande Imprensa é tão evidente quanto o erro da questão anulada matemática para quem é da área: o grande problema do Enem é o fato do PT ser governo – bem avaliado, para piorar a situação –, com o agravante de Fernando Haddad ser pré-candidato à prefeitura de São Paulo, num processo de renovação de quadros do lulo-petismo que já culminou com a eleição da atual presidenta, e que não encontra similar na oposição, em que os novos nomes tem os velhos sobrenomes – num país cuja modernização-conservadora da política dos últimos oito anos conseguiu, ao menos, diminuir a importância da sucessão hereditária nos currais eleitorais: Magalhães, Maias, Richas, Neves...

Modernização-conservadora que na educação estagnou a principal tendência fernandista, de sucateamento da universidade pública e extinção do ensino superior gratuito – o tal “financiamento por aluno e não por instituição” que Paulo Renato já havia vaticinado. É certo que o PT conseguiu isso com afagos às fábricas de diplomas, mas o resultado foi, conforme a Grande Imprensa, “o inchaço da máquina pública” – e não alocação mal feita de recursos –, com contratações de professores doutores e funcionários – tudo por querer dar às universidade federais padrões semelhantes aos dos países de primeiro mundo, vejam a petulância do ex-presidente analfabeto.

O maior problema, contudo, é que este imbróglios com Enem e Fuvest apenas ocultam os verdadeiros problemas da educação brasileira: a estruturação de todo o sistema, a inadequação não apenas dos currículos, mas do próprio papel da escola para a sociedade contemporânea, a completa falta de prioridade na discussão séria sobre educação e cultura no país, pensadas simplesmente a partir dos seus rendimentos em testes ou na desova de mão-de-obra qualificada (qualificada para o que?, para quem?).


Campinas, 08 de dezembro de 2011.

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