quarta-feira, 7 de março de 2012

Viva os noivos!

O Facebook, como outrora o Orkut, tem como grande utilidade não deixar esvair-se o reino da fofoca. Nos põe numa grande aldeia global (não faço referências aqui a McLuhan), em que bisbilhotamos a vida de todos, apesar de não conhecermos verdadeiramente ninguém.

Pato Branco, claro, já está conectada à internet, tem Coca-Cola, e essas coisas básicas – outras novidades, um pouco menos alardeadas, ainda não chegaram: procurei em quatro super-mercados. Aqui, porém, além da aldeia global, resta a aldeia local. O centro da cidade contribui para o encontro. Organizado de forma que lembra – em partes – shopping centers, com calçadas muito bem iluminadas, lojas bem cuidadas, bancos para se sentar – que fazem com que a rua seja mais do que um lugar de passagem, como também de encontro –, e uma certa assepsia social. Por aqui as listas de casamento ainda estão nas vitrinas das lojas. 
 
Meus pais têm por hábito parar em uma dessas lojas e atentar para quem são os casamenteiros, para ver se tem algum conhecido, ou mesmo para conhecer nomes novos – esses nomes que os pais, em arrombos da criatividade, cravam em bebês indefesos para o resto da vida.

Caminhava com eles pela cidade, paramos na referida loja, e nenhum nome esdrúxulo. Em compensação, um casal trazia nomes conhecidos. Nomes que me levaram a quinze anos atrás, quando eu tinha meus quatorze anos, por aí, e costumava ir à casa de um amigo – morava no décimo andar –, comer esfirra, jogar lixo para janela, só para ver cair, e assistir ao programa X-Tudo (que na minha casa não pegava TV Cultura).

O noivo, havíamos estudado junto – os três – em algum cursinho de inglês. A noiva – cuja irmã, junto com uma amiga, foi das primeiras a mexer com minha imaginação pré-adolescente – era a primeira paixão desse meu amigo.

Teve um dia que, cansado dos seus reiterados suspiros apaixonados, resolvi aconselhá-lo. Propus uma tomada de atitude sumária, do estilo chega junto e manda ver, sem blábláblá, direto ao ponto. Um ano mais velho, o aconselhei fazendo uso da autoridade do meu maior tempo no mundo – o que não queria dizer, em absoluto, que fosse mais escolado nas coisas do mundo. Seguiu meu conselho, tão crente nele como no amor e em Jesus Cristo. No dia seguinte voltou me amaldiçoando solteirisse eterna e com apenas uma das crenças das que tinha no dia anterior. Ao menos resolveu o meu problema com seus suspiros.

Ao chegar em casa depois do passeio com meus pais fui, é claro, bisbilhotar o Facebook. O noivo, filho de uma das famílias-coronéis da cidade, parece bem mais velho do que é. Seu emprego, não sei qual é, mas deve ser tocar os negócios da família sem afundá-los – e creio que tenha competência para isso. Ela, no que trabalha nem chega a ser importante, já que será esposa de um dos donos da cidade. Aproveitei e vi o “perfil” desse amigo da infância. Talvez se meu conselho tivesse dado certo, ou então, mais sensato, se ele não tivesse seguido meu conselho e tivesse outra sorte, atualmente fosse uma pessoa diferente, com mais leveza e menos culpa. Entretanto, a contar por hoje, nem o meu, nem o conselho de quem fosse, teria alterado suas chances com a guria.

Em tempo: o noivo nunca me pediu conselhos para nada.


Pato Braco, 07 de março de 2012.

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