terça-feira, 3 de abril de 2012

Das mortes que morri por estes dias


Pela primeira vez fui pra Ribeirão Preto depois de ter me mudado pra São Paulo – tinha o casamento de um amigo da época do cursinho, Leonardo. A caminho de Ribeirão, terminei de ler Em busca do tempo perdido, cujo primeiro volume, No caminho de Swann, havia começado a ler nos idos 2003. O livro termina com uma série de reflexões sobre o tempo e sua passagem, e eu acabei embarcando nelas, pensando em todos os que passei – todas as pessoas e todos os eus –, ainda mais que me dirigia para a cidade em que comecei minha vida “independente”, em que deixava – finalmente! – de ser filho dos meus pais para ser eu próprio, Dalmoro – até na escola eu era tratado como filho dos meus pais, e não eles como pais do Daniel.

O que me chamou a atenção é que, se das vezes que eu chegava vindo de Campinas, sempre me batia aquela nostalgia, um sentimento confuso de “já foi o meu tempo aqui, mas ele bem poderia voltar”, ou melhor, “não adianta voltar pra cá, simplesmente, pois não estou mais em 2001, mas bem poderia haver novamente a oportunidade de ter um novo tempo em Ribeirão”; desta feita lembrar de tal sentimento soou tão distante que quase não parecia ser comigo, não parecia que eu sentira isso em novembro ou dezembro – não lembro bem quando fui pela última vez para lá – e, confesso, tive até uma certa raiva de pensar que por tanto tempo essa foi minha auto-recepção na então “Califórnia brasileira”, agora “capital nacional do agronegócio”.

Quarta-feira, quando fora à minha consulta mensal com Aílton, sensação parecida já havia me assaltado, por outros motivos. Conhecera Camila não fazia uma semana e parecia sem sentido falar de como havia passado o mês até o dia em que a conhecera. Pior: eu tinha dificuldade em lembrar de como me sentira na semana anterior, e reportava como se falasse de alguém distante.

Em Ribeirão fiquei na casa do Paulo, com quem o encontro é sempre um sentir-se em casa, como já comentei alhures [j.mp/cG090311]. Estamos em 2012, não mais 2001. Paulo já tem cabelos brancos, eu, menos cabelo, a av. Jerônimo Gonçalves não tem mais suas belas e imponentes palmeiras imperiais, o cruzamento dela com a Francisco Junqueira não tem mais uma árvore enorme – está agora limpa, luminosa para a passagem dos carros –, a praça Camões segue aconchegante como há uma década, mas eu agora a freqüento acompanhado do Paulo e de sua cachorrinha, a Faísca (por sinal, fica a dica para encalhados de Ribeirão: passear com cachorro na praça). Fiquei contente com meu descompasso com Ribeirão: parece que depois de mais de uma década, eu me reencontrei em alguma cidade.

São Paulo, 03 de abril de 2012.

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