Em um mês, pouco mais, assisti a três shows cover do Radiohead. O
primeiro foi sem querer. Eu flanava pela rua Augusta, quando ouvi um
grupo de estrangeiros comentar do show. Fui atrás deles. Achei
salgada a entrada – descobri depois que para São Paulo é esse o
preço –, mas como estava no clima, achei que valia a pena assim
mesmo.
Ainda esperava o show começar quando me dei conta: fazer cover do
Radiohead não é nada fácil. Começa pela voz de Thom Yorke, a
forma como ele canta e varia o tom; segue pelas experimentações,
pelo uso de eletrônica nas músicas.
Mas não foi pela dificuldade de tocar Radiohead que o show da banda
Pública foi um lixo. Foi simplesmente porque, apesar de terem pego
um disco fácil – The Bends,
rock alternativo de alto nível, mas sem maiores invenções –,
seguido ele na ordem, não eram bons instrumentistas e, como eu
temia, o vocalista não conseguia acompanhar – nem de perto –
Thom Yorke. Para piorar: não sabia as letras – sequer dos hits!
Saí emputecido. Mesmo assim fui num outro cover de Radiohead, logo
na semana seguinte. A explicação para arriscar novamente eu tinha
fácil: conhecia o baterista, Luis André “Gigante”, dos tempos
de Unicamp, e sabia que ele valia por um show.
Tendo como base músicas que vão do
disco Ok Computer a In
Rainbows, cedendo apenas em
“Fake Plastic Trees”, o show foi um ótima surpresa:
contrariamente a Pública, Radiolarians vai além de mero cover:
adapta de leve as músicas, sem grandes invencionices, sem
desfigurá-las – e não creio que seja por conta de limitações
técnicas dos músicos as alterações, pois além do Gigante, os
demais se mostraram ótimos instrumentistas: Fabio Pinc, Junior Gaz e
Duda. Provavelmente as leves nuançares servem para as músicas
melhor se adaptarem aos vocais de André Frateschi – ator que me é
desconhecido, mas parece que já fez até novela –, que não tenta
cantar além do que consegue: não tem a voz do Thom Yorke, mas canta
no tom (trocadilho involuntário).
O terceiro cover foi nova apresentação do Radiolarians – até
para ver se não me deixara influenciar pelo meu fim de noite da
apresentação anterior. Para desagradável surpresa, Gigante não
estava na bateria. Conforme o cara que estava no som, tinha tirado o
dia para descansar. O baterista que entrou para substitui-lo poderia
até ser bom, mas claramente havia sido escalado meio em cima: tocava
lendo partitura. E pior: tinha Gigante para ser comparado – em
"There there", que no show do Radiohead de verdade Phil
Selway é ajudado na percursão por Ed O'Brien e Jonny Greenwood, e
Gigante leva sozinho, ficou mais do que claro o desnível. Para
completar: a banda não estava inspirada, cometendo erros.
Eram três da manhã, nem tanto por cansaço, antes por e-mails pra
responder e não querer dormir tão tarde, preferi sair antes do
final. Saí certo de que fazer cover de Radiohead não é para
qualquer um, nem é para qualquer dia. E que o Gigante, se não é
por um show, por metade dele, ao menos, vale.
Pato Branco, 08 de maio de 2012.
(neste vídeo, se não me equivoco, o baixo é tocado por Gustavo
Boni)
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