terça-feira, 8 de maio de 2012

Sobre covers de Radiohead

Em um mês, pouco mais, assisti a três shows cover do Radiohead. O primeiro foi sem querer. Eu flanava pela rua Augusta, quando ouvi um grupo de estrangeiros comentar do show. Fui atrás deles. Achei salgada a entrada – descobri depois que para São Paulo é esse o preço –, mas como estava no clima, achei que valia a pena assim mesmo.

Ainda esperava o show começar quando me dei conta: fazer cover do Radiohead não é nada fácil. Começa pela voz de Thom Yorke, a forma como ele canta e varia o tom; segue pelas experimentações, pelo uso de eletrônica nas músicas.

Mas não foi pela dificuldade de tocar Radiohead que o show da banda Pública foi um lixo. Foi simplesmente porque, apesar de terem pego um disco fácil – The Bends, rock alternativo de alto nível, mas sem maiores invenções –, seguido ele na ordem, não eram bons instrumentistas e, como eu temia, o vocalista não conseguia acompanhar – nem de perto – Thom Yorke. Para piorar: não sabia as letras – sequer dos hits! Saí emputecido. Mesmo assim fui num outro cover de Radiohead, logo na semana seguinte. A explicação para arriscar novamente eu tinha fácil: conhecia o baterista, Luis André “Gigante”, dos tempos de Unicamp, e sabia que ele valia por um show.
Tendo como base músicas que vão do disco Ok Computer a In Rainbows, cedendo apenas em “Fake Plastic Trees”, o show foi um ótima surpresa: contrariamente a Pública, Radiolarians vai além de mero cover: adapta de leve as músicas, sem grandes invencionices, sem desfigurá-las – e não creio que seja por conta de limitações técnicas dos músicos as alterações, pois além do Gigante, os demais se mostraram ótimos instrumentistas: Fabio Pinc, Junior Gaz e Duda. Provavelmente as leves nuançares servem para as músicas melhor se adaptarem aos vocais de André Frateschi – ator que me é desconhecido, mas parece que já fez até novela –, que não tenta cantar além do que consegue: não tem a voz do Thom Yorke, mas canta no tom (trocadilho involuntário).

O terceiro cover foi nova apresentação do Radiolarians – até para ver se não me deixara influenciar pelo meu fim de noite da apresentação anterior. Para desagradável surpresa, Gigante não estava na bateria. Conforme o cara que estava no som, tinha tirado o dia para descansar. O baterista que entrou para substitui-lo poderia até ser bom, mas claramente havia sido escalado meio em cima: tocava lendo partitura. E pior: tinha Gigante para ser comparado – em "There there", que no show do Radiohead de verdade Phil Selway é ajudado na percursão por Ed O'Brien e Jonny Greenwood, e Gigante leva sozinho, ficou mais do que claro o desnível. Para completar: a banda não estava inspirada, cometendo erros.

Eram três da manhã, nem tanto por cansaço, antes por e-mails pra responder e não querer dormir tão tarde, preferi sair antes do final. Saí certo de que fazer cover de Radiohead não é para qualquer um, nem é para qualquer dia. E que o Gigante, se não é por um show, por metade dele, ao menos, vale.

Pato Branco, 08 de maio de 2012.


(neste vídeo, se não me equivoco, o baixo é tocado por Gustavo Boni)

Sem comentários: