Soninha
Francine, pré-candidata do PPS à prefeitura de São Paulo, jura que
foi ironia o que escreveu no twitter: "Metrô caótico,
é? Não fosse pela TV e o Twitter, nem saberia. Peguei linha verde e
amarela sussa". Sendo uma figura pública e conhecendo das suas
posições políticas, não consegui encontrar a ironia na frase –
e não creio na sua incapacidade intelectual para ironias, antes na
sua inabilidade política para tentar salvar o chefe. O comentário
foi uma clara tentativa tornar o acidente na linha 3 como um caso
isolado, resguardando o resto do maravilhoso sistema de metrô da
cidade.
Sua
frase serviu de gancho para lembrar a decepção – não só minha –
que a ex-apresentadora e agora política profissional foi para uma
geração – essa que hoje está entre os vinte e cinco e trinta
anos, mais ou menos. Com bandeiras progressistas na área de direitos
humanos, lembro de muitos amigos terem votado nela para deputada
federal, em 2006, quando era ainda filiada ao PT. Depois trocou de
partido, foi para o PPS, partido reboque de segunda mão (em vias de
se tornar de primeira, com o naufrágio do DEM) do PSDB. Em 2010
apoiou Alckmin e participou da campanha de José Serra, dois dos
expoentes mais fortes do conservadorismo reacionário em direitos
humanos. Soninha definitivamente se transformava numa carcaça do que
um dia havia sido.
Surpreende?
Não. Decepciona, isso, sim.
Não
surpreende porque Soninha é antes cria da indústria cultural.
Oriunda da MTV, onde a linguagem da emissora – na época, década
de 1990 – dava aos apresentadores a impressão de donos de uma
personalidade independente e não mero representantes de um figurino
para a ocasião, teve coragem de admitir que fumava maconha e de ter
feito um aborto. Se admitir que usava maconha custou-lhe o emprego na
emissora controlada pelo PSDB, ter assumido o aborto, para sua sorte,
não lhe custou a estima do cruzadista da moralidade, José Serra –
porque político, como comunicador, é uma espécie bem maleável.
Contudo, ao aceitar participar da campanha do candidato tucano,
parece que, no fundo, aceitou o pensamento de todo bom moralista: que
os outros não façam aquilo que julgo errado, por mais que eu já
tenha feito.
Sentimento
semelhante de deslumbramento com um candidato parece ter acontecido
com Marina Silva, na eleição para a presidência, em 2010. As
diferenças, contudo, são enormes, e não fosse a própria Soninha
jogar fora seu histórico, soaria ofensivo a comparação: Marina
Silva é o Alckmin de saia, aversa aos avanços dos direitos civis,
só que travestido num discurso up to date
de preservação do meio-ambiente. Discurso que não é vago, visto
sua história de vida, mas que não me surpreenderia ela ir para o
outro oposto, caso fosse politicamente necessário – vide seu
silêncio sepulcral durante todo o início da discussão do novo
código florestal, quando ela estava mais preocupada em disputar o
poder interno do PV.
Não tenho certeza disso que vou falar agora: porém tenho a
impressão de que o Tiririca é menos nocivo à política nacional –
encarando aqui além de seus aspectos pragmáticos, no que há de
simbólico –, do que a Soninha. Ou talvez, sendo mais sensato, o
palhaço Tiririca talvez seja só uma versão sem disfarces da
comunicadora Soninha Francine.
São Paulo, 18 de maio de 2012.
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