Em meio a discussões sobre copa do mundo, CPI, Comissão da Verdade,
o acidente do metrô, esta quarta, dia 16 de maio, pode ter sido o
pontapé inicial para que a disputa pela prefeitura paulistana se dê
em torno de problemas do município. O acidente é mais um episódio
que se soma aos constantes problemas com o sistema ferroviário
urbano, que vão de crateras a casos de corrupção, passando por
panes em trens e agora acidente no metrô. Felizmente não houve
mortos ou feridos graves. O mais grave atingido talvez tenha sido o
PSDB, que tem o estado de São Paulo como foco de resistência contra
seu esfacelamento a la DEM, e de busca de uma identidade de um
partido que não sabe a arte de fazer política em sua completude
(ora como governo, ora como oposição).
A precariedade dos serviços de transportes públicos na cidade e
região metropolitana são evidentes. São poucos os corredores
exclusivos para ônibus, a espera nos pontos é grande e os trajetos
das viagens não raro são um tanto irracionais – do ponto de vista
do usuário. Quem reclama da lotação do metrô é porque desconhece
o que é (ou era, ao menos, antes da linha quatro) o trem para
Osasco: com intervalo de até vinte minutos, domingo à tarde os
carros iam cheios. A vez que tive a brilhante idéia de pegar às
sete da noite de uma sexta-feira, tive uma sensação de estar no
trem para o inferno.
Como comentou um cara com quem vim de carona de São Paulo: a linha
quatro foi inaugurada não faz um ano, e a cidade se mostra hoje
impensável sem ela. Quantas outras linhas amarelas não seriam
impensáveis, caso existissem, mas que sua na ausência, vamos dando
um jeito e tocando a vida do jeito que dá? A resposta do PSDB para o
problema do transporte público foi dizer que trem é metrô, e
contribuir para o caos urbano, com novas faixas na marginal Tietê.
A título de comparação: São Paulo e Pequim possuíam, na década
de 1970, malha metroviária muito próximas, algo em torno de 30 km.
Na virada do século, São Paulo tinha 47 km, contra 53 km da capital
chinesa – que em 2003, com duas novas linhas, foi para 113 km. Hoje
Pequim tem 372 km em 15 linhas e 218 estações, contra as cinco
linhas paulistanas e seus 74 km de trilhos onde se espalham míseras
64 estações – ainda acusadas de levar gentalha aos bairros onde
vive gente feliz, como Morumbi ou Higienópolis.
O PT deve explorar o episódio, inaugurando, finalmente, um assunto
de interesse local na disputa local que ocorre este ano. Faz parte da
hipocrisia política representativa: um partido que jogasse justo não
ganharia nada. Convém lembrar, contudo, que enquanto a expansão (ou
criação) dos metrôs pelo país vai devagar, quase parando, apesar
de ser mais do que urgente, o governo federal – PT – insiste no
trem bala ligando São Paulo ao Rio. Conversava com o arquiteto
português que mora comigo, e ele contava da idéia dos trens balas
em Portugal: o deslumbramento do país crescendo, e a vontade de ser
como toda a Europa rica, que possui trem bala, levou o governo a
começar a implementação de três linhas. Depois de alguns gastos
com desapropriações e início das obras, foram abandonados. Quando
me contou, senti o Brasil embarcando um pouco atrasado nesse trem que
Portugal já havia abandonado.
Que o acidente do metrô e a discussão que promete seguir dele ao
menos faça com que o debate sobre a disputa municipal se centre na
urbe, seus problemas quotidianos, propostas para torná-la menos
hostil às pessoas que nela vivem. Que a disputa seja pautada em
projetos sobre o futuro da cidade e não sobre o futuro dos partidos
e candidatos. Porque o que vimos até agora foi a cadeira de prefeito
ser disputada por conta da função que teve nos últimos anos:
trampolim para cargos mais “nobres”.
São Paulo, 17 de maio de 2012.
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