quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ridículos

Comentário de um amigo à minha última crônica, "Moças no mercado ou balconistas", além de mais divertida do que a própria (sim, ela se pretendia divertidinha), me fez pensar um pouco mais do porquê do meu fracasso com Ruth, por exemplo – não era bem em Ruth, mas deixo a crônica sobre o "GFS" para uma próxima –, e foi um dos temas de um passeio-parlante que tive com uma amiga, hoje, que durou umas quatro horas (vinte quilômetros?). É certo que se se pensar que Ruth, a balconista, já figurou em mais de uma dúzia de textos não se pode falar em fracasso completo: me rendeu uma personagem para crônicas, ao menos. Em seu comentário, Alexandre fala da "bofetada do destino" pelo seu atrevimento em paquerar a atendente da livraria: ao se virar para apreciar uma vez mais o sorriso da moça – "uma dessas suas criaturas mágicas: doce, de sorriso sincero e alumiador, coisa tocante mesmo", segundo ele – meteu a fuça na quina de uma prateleira.

Apesar de ter aprendido a ser um pouco mais articulado com o tempo, não abandonei a timidez, ou melhor, não fui abandonado por ela, que me persegue como uma sombra – mesmo por onde não há luz. Para não chamar a atenção – apesar da minha altura e do meu jeitão de Pinky (do Pinky e Cérebro) não contribuírem muito –, para evitar alarmes e surpresas, tento não destoar do ambiente, mantenho involuntariamente minha cara de paisagem, e fujo de qualquer ridículo, qualquer embaraço. Depois lamento que não me percebam, e escrevo uma crônica do ridículo que consegui evitar.

Comentava minha amiga: o que foge da ordem, o ridículo, o cômico, é algo que não apenas chama a atenção, como pode ser algo que atraia – bofetadas do destino levaremos de qualquer forma. Pensei nas minhas "abordagens" a balconistas: sempre me restrinjo ao esperado de um cliente normal – inclusive com a receita na mão, para agilizar o atendimento! –, e deixo o ridículo para minhas crônicas, quando já não tem muita serventia que rir de si próprio. E como avisou minha amiga: evitar o ridículo é evitar também o atrevimento. Ok. Mas um tipo cafajeste tiraria de letra o ridículo e se garantiria no atrevimento; para um tipo mais do perfil "idiota" – que dispensa o convite de um guria linda pra comer um cachorro-quente depois da faculdade porque já jantou e deixa ela ir sozinha, por exemplo –, temo que me sobre apenas o ridículo, sem o atrevimento: eu vermelho pedindo desculpas por não sei o que e querendo sumir o quanto antes – sem olhar pra ver se a moça não estaria me dando bola.

Outra coisa que me chamou a atenção no comentário do Alexandre: ele trata do ridículo acontecido com uma leveza que muito se assemelha à do Francoy, de quem admito abertamente inspiração para minhas crônicas sobre Ruth – só não me inspirou mais do que a própria. Invejo essa leveza, ainda vejo minhas crônicas pesadas, e se tento aliviá-las, soam-me "querido diário". 

Enfim, a ver se no meu próximo encontro com Ruth – ou outra balconista –, não me permito alguma gafe, e que essa gafe me faça esquecer que eu pretendia escrever uma crônica.


São Paulo, 28 de junho de 2012.

2 comentários:

Ivan disse...

De alguém que fez o ridículo como forma de se expor ao mundo, posso dizer que ajuda, sim, a viver situações no momento, sem ter que lamentar depois. Mas e como fica quando se quer se jogar o ridículo fora?

Paty disse...

Talvez a questão não seja ser ou não ridículo, mas marcar ao invés de apenas ser marcado.