sábado, 4 de agosto de 2012

Uma mocinha bonita e um amigo repentinamente atraente

Havia estipulado como regra em texto antigo – quando ainda buscava uma nova Ruth – que para uma guria constar como personagem de crônica, eu deveria cruzar com ela três vezes – claro, quando acontecesse uma noitada um pouco mais fora do comum [j.mp/cG25712], não precisaria seguir tal regra. Descobri que há algumas pessoas realmente desocupadas e que me lêem com certa assiduidade – e não são meus pais! Essas já notaram, certamente, que desrespeitei tal regra várias vezes – se bobear comecei na crônica em que a estipulava.

Quebro novamente a regra. Não por ter tido uma boa noitada, como eu bem gostaria – até porque as melhores eu não lembro de transformá-las em crônicas, mais ocupado fico com outras coisas. A questão foi mais singela: uma mocinha bonita e um amigo repentinamente atraente.

Fui com meu amigo assistir ao show da curitibana Copacabana Club, na Augusta, e me deparo com uma guria muito bonita – até aí, há muitas. Reparando um pouco mais, me pareceu uma personagem saída de um romance do Murakami, o que me deixou absolutamente encantado por ela. Se tratava de um pequena japinha (menos de um metro e sessenta, certamente), magra, miudinha, cabelo curto, delicada, muito bonita, como já disse, e que passou o show todo dando a impressão de que brincava de esconde-esconde com o amigo mal humorado que a acompanhava – um jeito meio de “moleca” e muito alheia ao que acontecia. Pelo tamanho, poderia ser Yuki, de Dance dance dance, pelo alheamento e ter mais de dezoito anos, Sumire, de Minha querida Sputnik.

Enquanto eu me hipnotizava pela personagem do Murakami, que só me notou no final da balada e passou por mim com uma graciosa falta de jeito e timidez, sem dar qualquer abertura – o que foi bom por um lado, pois evitou que o sem jeito fosse eu, de modo a me fazer voltar para casa frustrado por não ter aproveitado a oportunidade –, meu amigo ficava parado e as pessoas davam em cima dele. Não sei se foi porque a moda o alcançou – ele usa barba e óculos –, se foi o poder sedutor da sua aliança – ele é casado –, sei que quase me sobrou uma garota e um bombadinho – naquele esquema: “estou a fim do casado barbudo de óculos, não quer ficar com o amigo dele enquanto isso?”. Como meu amigo não queria nada, também não me sobrou nada. Além dessas duas pessoas, outras duas mulheres e outro cara se esfregaram nele ou lançaram olhares lascivos. Ele seguia parado, fazendo observação antropológica, como o próprio definiu seu aspecto de tédio. Ok, nenhuma era a japinha do Murakami – ou o amigo dele –, mas não deixei de me sentir um tanto rejeitado – fosse ele um sex symbol, até compreenderia. Talvez ele tenha apenas agido como um cara cool, como Calvin uma vez fizera, e eu usava algum "sombrero existencial":



No fim, voltamos para casa conforme o esperado: um acompanhando o outro. A diferença é que d'ele isso era esperado porque não faria nada além; já de mim, porque não conseguiria nada. Tentei retomar Quadrilha, do Drummond: João desdenhava Teresa que desdenhava Raimundo/ que desdenhava Maria que desdenhava Joaquim que desdenhava Lili/ que não desdenhava (quase) ninguém. Se apareceu algum J. Pinto Fernandes na história, não fiquei sabendo, pois já estava em casa, escrevendo esta crônica besta.

São Paulo, 04 de agosto de 2012.

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