segunda-feira, 17 de junho de 2013

O que esperar do ato desta segunda, 17?

Os protestos de quinta-feira-13 e a forma como o Estado reagiu à manifestação até então pacífica puseram a disputa pelo espectador e a opinião pública no centro da manifestação desta segunda – tática levantada inteligentemente pelos manifestantes. Na manifestação do dia 13, a polícia militar, atendendo aos apelos da Grande Imprensa – vale lembrar os editoriais da Folha e do Estadão, para não citar a abjeta mídia televisiva – por mais “rigor” na repressão aos “baderneiros” conseguiu com isso reverter a opinião pública que, como praxe num país conservador e de forte raiz ditatorial como o Brasil, se punha contra os “arruaceiros” e a favor da polícia descer o cacete em todos aqueles “vagabundos”. Nesta segunda, a disputa será por colar a pecha de “vândalos” novamente naqueles que protestam.

Conforme a Grande Imprensa, a polícia militar não pretende utilizar o choque desta feita – que ficará de reserva, para qualquer eventualidade. Não ter o choque – tropa apta a “controlar” rebeliões em presídios, por exemplo – no trato com os manifestantes é positivo. Contudo, a falta de preparo da polícia militar em lidar com a população, com o povo, com manifestações, não torna o cenário muito tranqüilo.

Torço para estar errado, mas vejo grandes chances do protesto não ser tão pacífico como desejam os que dele participarão. E não falo por causa dos exaltados, que esses se controlam enquanto a multidão não é “provocada” por bombas de gás e balas de borracha. Como a briga é pela opinião pública, é bem provável que a ordem do governador Alckmin e seu secretário de segurança pública (sic), Fernando Grella Vieira, seja infiltrar mais homens do que geralmente ocorre. A solitária pedra que citei em outra crônica terá a companhia de outras, e pode ser o estopim para a polícia militar reprimir com “rigor” manifestantes que nada tem a ver com policiais à paisana. Ou pode ser que a polícia não use de toda a violência do dia 13, apenas o suficiente para inflamar os ânimos amainados de alguns, e deixe o “vandalismo” correr solto. Diga-se de passagem, os tais atos de “vandalismo”, supondo terem sido cometidos pelos manifestantes, são bem leves e ordeiros: barricadas com lixo são necessárias para atrapalhar o avanço da polícia, e a quebra de vidros é coisa pouca, perto do que uma multidão pode fazer. Mostra disso é o respeito às vacas sagradas brasileiras – os carros –, que seriam barricadas bem mais eficientes.

As sugestões dos manifestantes para que filmem os “exaltados” pode ser positiva, se depois for possível mostrar que se tratam de policiais militares – conseguir um IPM seria pedir demais e inócuo. Controlar os ânimos dos manifestantes de fato, isso parece difícil, mas não de todo impossível – a multidão é capaz de controlar os que a formam, quando ainda sob seu próprio controle.

Foi algo que discuti com amigos, ainda durante a manifestação do dia 13, com a avenida Paulista livre de carros e pessoas para o choque passar: tendo a polícia militar apelado para a violência, talvez seja o caso de apelar para a irreverência. Como os skatistas que vi arriscarem umas manobras nessa hora, na Paulista, ou como o magistral dançarino de “Stayin Alive”, no vídeo reproduzido no youtube. Independente disso, um grupo mostrou saber fazer uso do poder das imagens e tem feito “intervenções” capazes de rodar o mundo: os manifestantes com flores é uma delas, e a citação de Os fuzilamentos de 3 de maio, de Goya, não parece ser por acaso – penso que novas imagens do tipo podem surgir hoje, que esse pessoal é bom.

Pelas proporções que o ato promete tomar, é bem provável que os governos – municipal e estadual – cedam e revoguem o aumento da passagem ainda esta semana. Daí, inclusive, o "inusitado" apoio de formadores de opinião que até ontem eram contra os manifestantes e abusavam de adjetivos pejorativos para se referir a nós. É sabido que os protestos não são por vinte centavos – são por direitos, como gritam muitos cartazes, e são também por causa de qualquer insatisfação difusa. Se essa insatisfação for canalizada para outras bandeiras (que seja ainda na linha do transporte público, algo como “R$ 3,00 ainda é um roubo”), achar um novo estopim, pode ficar impossível controlar as séries de manifestações – mais fácil, então, ceder agora os vinte centavos, mesmo abrindo o “perigoso” precedente de que disputar o poder de fato com os políticos traz resultados. Estes atos, de qualquer forma, deixam no ar o risco de a Copa do Mundo ser realizada sob estado de sítio.

Havia terminado este texto quando vejo na internet a notícia de que entulho foi depositado no Largo da Batata, local da manifestação de hoje – santa coincidência! O Estado põe seus primeiros infiltrados.

São Paulo, 17 de junho de 2013.


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