quinta-feira, 10 de julho de 2014

Mariana D. [retratos feitos de memórias]

De família classe-média conservadora, Mariana D. abandonou consultório, carreira e o futuro "natural" que esperavam para ela - algo próximo do se formar, comprar um carro, casar, ter filho, comprar uma casa, comprar um lote no cemitério - por uma aventura tida por irresponsável. Abdicou esse futuro honroso por um presente que sua família provavelmente não hesitaria em classificar como pertencente a vagabundos e maconheiros, pessoas indignas e perigosas: foi virar artista de rua pela América Latina - andarilha junto com dois rapazes que conheceu nas esquinas da sua cidade. Claro, a enorme coragem de trocar o futuro medíocre que gostariam que ela aceitasse por esse presente rico de experiências e riscos a tornou assunto principal nas reuniões de família. "Quer saber? Não me importo se estou sendo aprovada ou não: sei que sou capaz de assumir minhas escolhas, e toda esta minha experiência tem sido enriquecedora e destruidora de preconceitos", me disse, certa feita, mostrando que sua aventura era decisão de uma pessoa madura - a vida é assim mesmo. De vez em quando coloca em seu Facebook fotos e indicações do seu percurso: onde está, de onde veio, para onde vai - na última estava a caminho do Equador. Nas fotos parece transpirar alegria por assumir o controle da sua vida. À sua família, resta a vergonha e a insegurança, culpam eles essa mulher ingênua que teve coragem para buscar a si própria na liberdade. Mamãe, mamãe, não chore.

São Paulo, 10 de julho de 2014.

Sem comentários: