sábado, 27 de setembro de 2014

Culpa dos astros

Amiga minha comentou, há alguns dias, que quando me conheceu a primeira impressão que teve foi que eu era uma pessoa séria, em alguma medida um pouco brava. Agradeci a sinceridade e lamentei a impressão (equivocada). Faz um tempo percebi que no curso que faço a primeira impressão - e as subseqüentes - não era muito diferente. Resolvi, então, pôr em ação um plano para que as pessoas percebessem que sou, na realidade, uma pessoa "fofa", vamos dizer assim. Tal plano incluiu camisetas da Amelia Poulain ou de borboleta (pintadas por mim), e o uso intensivo de "momentos poliana", sempre vendo os problemas pelo lado bom. Em vão: me avisaram ontem que não sou fofo - nem perto disso. Entre acusá-los de caluniadores ou achar que o culpado sou eu, lembrei de conversa que tive, faz um certo tempo, com outra amiga. 
A conversa dizia respeito sobre minha fama (injusta, ela também) de indeciso. Minha lógica é simples: se quero muito algo, digo; se não quero algo, também digo; se estou num pode ser como pode não ser, deixo para o outro decidir. Como é possível notar, não é indecisão, apenas tolerância ampla dentro da margem estreita do que gosto - ou não desgosto. Pois bem, estávamos eu e essa amiga empacados no centro de São Paulo, sem conseguir decidir que rumo tomar, diante de tantas opções interessantes, quando ela perguntou, como quem não quer nada, qual meu signo: Libra, respondi. Então é isso!, foi sua exclamação, como se eu tivesse dado a chave da compreensão do universo: não é que meu problema seja ser indeciso, meu problema é ser de libra! E tudo fez ainda mais sentido quando disse que minha lua é em escorpião, o ascendente no signo seguinte (que eu não sei qual é, e estou sem internet pra pesquisar), e que se tiver algo mais, signo descendente, signo progenitor, signo regente, spala, solista ou sei-lá-o-que-mais, estão todos nesses três, conforme mapa astral tirado por uma terceira amiga: é isso, meu problema é decididamente astrológico!
Desde então tenho pensado seriamente em trocar de signo, única alternativa que me sobrou para resolver essa proclamada indecisão que me persegue. Perguntei a essa amiga, mas ela disse não entender tanto para poder me aconselhar. Penso eu cá: não deve ser algo difícil de ser feito: tenho o original da minha certidão de nascimento na gaveta do guarda-roupa, um escorregão na caneta e, ops, nasci três horas depois do mês seguinte, de modo que perco minha librianisse e sua conseqüente indecisão.
Coincidentemente (seria o destino?), estavam hoje meus colegas discutindo sobre signos quando cheguei na sala - porque curso de teatro, ao menos nesse aspecto, é igual ao de psicologia: o que mais tem é gente que lê mão, tarô, faz mapa astral e quetais da vida. Fiquei ali de lado, apenas esperando uma brecha na conversa para perguntar se minha anti-fofura natural não seria exatamente minha, mas culpa de libra, e se mudar de signo não resolveria meus problemas. Antes de perguntarem o que eu queria, a última coisa dita era que pessoas com lua em escorpião eram boas de cama. Quando abriram para eu falar, calei, resolvi repensar: vai que essa coisa de libra com lua em escorpião e ascendente no signo seguinte não seja tão ruim - tem seus pontos positivos (coisa que minha amiga não sabia, ou não me avisou). Até segunda ordem, minha certidão segue dormindo quietinha na gaveta, sem nenhuma caneta passar por perto.

São Paulo, 27 de setembro de 2014.

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