segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Marta Suplicy: o José Serra do PT

O PT fará bem se aprender com os erros do seu maior adversário político, o PSDB, e não ceder às chantagens da senadora Marta Suplicy, do PT de São Paulo. Em 2014 Marta deu mostras contundentes de que não difere muito de seu futuro colega de senado, o tucano José Serra.
Serra sempre se vangloriou de ter sido voz dissonante no partido durante os anos FHC, ao discordar da política econômica, ainda que não o fizesse com excessiva ênfase. Até a disputa da presidência, em 2002, Serra parecia um político sério, independente de se concordar ou não com suas propostas. A partir dessa data passou a ficar mais evidente que seu grande projeto político era si próprio - o Brasil é apenas um acidente. Para além do festival de se elege-renuncia, escárnio que a população paulista e paulistana aceita de bom grado, boicotou o próprio partido nas eleições de 2006 e 2008, se ressentiu pela falta de apoio à imposição de seu nome em 2010 e, pior, jogou no lixo os resquícios de esquerda do PSDB, teoricamente ainda progressista nos costumes (apesar de reiteradas práticas contrárias aos direitos humanos, como a chancela às execuções extra-judiciais dada por Alckmin aos seus subordinados), dando ao Partido da Social-Democracia Brasileira o verniz do mais tacanho reacionarismo, desse que merece o apoio sem constrangimento de Malafaias e afins. Em algum momento, após as eleições - não recordo se 2002, 2004 ou 2006 -, aventou-se a hipótese de Serra estar organizando um novo partido, de linha nacional-desenvolvimentista. Outra hora, falavam da sua saída para algum outro partido - PMDB ou PSD. Nada disso aconteceu, e ele ganhou legenda para disputar prefeitura, presidência, senado, e sabe-se lá para qual cargo em 2018: mostra de que sua chantagem funcionou. Resultado para o PSDB de ter dado guarida ao projeto de poder de Serra: não se reciclou, não criou nomes para disputas posteriores, se enfraqueceu: a derrota de Aécio pode ser posta na conta serrista, e a disputa pela prefeitura paulistana, daqui dois anos, será a primeira chance, desde Alckmin, de surgir alguém, um poste tucano, com vistas a eleições posteriores. O único nome novo que despontou desse período Serra-Alckmin foi o ministro das cidades do governo petista, Gilberto Kassab, ou seja, um nome bem errado aos interesses do partido.
A título de comparação: o PT de São Paulo, desde 1998, teve apenas os Suplicy (Marta em 1998, 2000, 2004 (reeleição), 2008, 2010; Eduardo em 2006 e 2014, ambas tentando a reeleição ao senado) e Mercadante (2002, 2006, 2010) como nomes recorrentes em eleições majoritárias - os outros foram Genoíno (2002), Haddad (2012) e Padilha (2014). Enquanto isso, o PSDB teve Covas em 1998, Alckmin (2000, 2002, 2008, 2010, 2014), Serra (2004, 2006, 2012, 2014), José Aníbal (2002) e Aloysio Nunes (2010). Se levarmos em conta que Serra disputou duas vezes a presidência e Alckmin, uma, percebe-se a situação precária dos tucanos paulistas para o futuro breve - suas maiores esperanças sustentam-se no eleitorado raivoso anti-PT, ou na troca de cargos entre Serra e Alckmin.
Marta Suplicy tem deixado explícito que seu projeto de poder é pessoal, pouco se importando com o partido - diferentemente de Lula, que impôs novatos e permitiu que o partido seguisse arejado de nomes e de idéias, como é visível no caso de Haddad. Um primeiro caso de semelhança com Serra, de que Marta não vê limites para buscar o poder, foi a insinuação sobre a sexualidade de Kassab, na disputa pela prefeitura, em 2008. Recentemente, o primeiro aviso de que o partido pouco valia foi sua carta de demissão do Ministério da Cultura, em que ela deu mais munição para a Grande Imprensa e os especuladores pressionarem por nomes do seu agrado, ao criticar o então ministro da economia - fogo amigo é ainda melhor para fustigar um governo já escaldado. O segundo ato foi seu comentário sobre seu substituto no MinC, Juca Ferreira, ou melhor, suas acusações levianas, tão ao gosto da imprensa anti-petista, de que "a população brasileira não faz ideia dos desmandos que este senhor promoveu à frente da Cultura brasileira", e que segue sem fazer idéia, depois de seu aviso que nada diz. Por ironia, todos as pessoas ligadas à cultura que tenho em meu Fakebook e que se manifestaram sobre o novo ministro saudaram a escolha - conforme Marta, esse povo saberia o que ele representa.
Pela nota sobre Ferreira, Marta parece ter percebido que, apesar da sua base de apoio na capital, não conseguiria impôr seu projeto egocêntrico. Digo isso por ela também ter criticado em sua nota Padilha, candidato petista derrotado na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, ano passado. Uma primeira questão se põe: a força de Marta e seu grupo na cidade é realmente dela ou é do PT? Saberemos se o PT não capitular às chantagens.
Há quem veja nesse ato de Marta o "pedido" para ser expulsa do partido e assumir o papel de mártir. Motivos ela dá de sobra. Vejo também a tentativa de construir um discurso mais afinado com o consevadorismo dos bairros centrais de São Paulo, no caso de ela disputar a prefeitura por outra legenda: a defesa da estabilidade, a acusação de desmandos e a insinuação de aparelhamento do Estado compõem muito do discurso ouvido e repetido por esse estrato, sempre macetado pela Grande Imprensa corporativa. Com isso, numa candidatura por outro partido, em 2016, ela poderia disputar com o PT o voto das periferias e com o nome anti-PT o eleitor moderado dos bairros abastados. Para os primeiros, se apresentaria como petista histórica, para os segundos, ela tem até uma capa da Veja a seu favor. Falta, claro, combinar com os russos.



05 de janeiro de 2014

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