quinta-feira, 19 de julho de 2018

Entre fantasmas e ratos

Ainda que não tivesse horário marcado, sequer compromisso, saio atrasado de casa, vou em passos rápidos para o metrô. Quase chegando na estação cruzo com um homem que me lembra o Valdeni. A viagem é curta, duas estações, mas anda arrastada em meio à lembrança da angústia que me tomou ao saber da notícia, quantos dias passei fugindo dessa imagem, querendo pensar em outra coisa mas não conseguia parar de imaginar ele se atirando na frente do trem, de mochila, camisa vermelha (do Brizola?) e chinelo rider (hoje ele estaria na moda)? Vai, vai se gauche na vida - num mundo onde quem é diferente sofre bullying. Foi em 2004, janeiro. Não sei quanto tempo depois, Paulo comentou que o que o surpreendia não era uma pessoa se jogar na frente trem, era só uma fazê-lo. Deveras. Mais surpreso ainda quando Misson me informou que se suicidava uma pessoa cada duas semanas no metrô - eu imaginava a cada dois dias. Pior ter que ouvir de uma paquera que Valdeni era fraco, por não suportar calado a humilhação desde longa data sofrida - fácil ser dito por uma evangélica que se escora num narcisismo coletivo tosco. Desço do trem e antes de sair da estação passa por mim um homem que lembra outro amigo, Rodrigo. Não quis saber como foi e tenho dificuldade para lembrar o ano em que se matou. 2012? Não, 2012 acho que foi o Márcio se atirando de um prédio. 2013? 2014? Entro no restaurante para almoçar, o mesmo onde escrevi minha última crônica paulistana de 2012. Faz calor e o clima é seco, naquele dia de dezembro talvez fizesse calor, mas a chuva amainava o desconforto. Eu estava com um quê de melancólico então, apesar da vida nova que São Paulo representava. Valdeni não estava mais, meu avô havia partido há dois meses. Mas ainda estava Rodrigo - não sei se em 2012 ou 2013 havia trocado vários e-mails com ele, que tinha tentado suicídio pela primeira vez; "só quer chamar a atenção", acusou um amigo em comum -, estava meu pai, estava Misson. Havia um quê infantil de descobrir o mundo - São Paulo foi um mundo novo - com olhos ávidos e brilhantes de tantas novidades, havia um quê adolescente de achar o futuro ainda prenhe de todos os caminhos - e eu bem tentei, sempre acertando a trave, iluminação, dança, aula no ensino médio, doutorado, marcenaria. Talvez essa melancolia me pegasse aquela época, não sei, por ter levado tanto tempo, depois de ter deixado a cada de meus pais, para achar uma cidade onde finalmente me sentia em casa; pelos amores que aquele ano me deu, mas logo tirou - a morte então tinha antes um sentido figurado e era positivo, abria espaço para o novo. Agora a melancolia que me abate é desse futuro que se estreitou, nas amizades perdidas - não para o tempo, mas para a morte, sem qualquer conotação figurada. Ao menos quesito amor, nunca estive tão bem, com uma pessoa como a que agora compartilho meus momentos. Pela manhã havia recebido uma mensagem de uma  mulher que estava lendo meu livro sobre a perda da Misson. As mortes morridas doem mais que as "matadas", mas um amigo ou conhecido se suicidando por ano, com a regularidade de Cronos, também dói. A crônica daquele restaurante, em 2012, eu escrevi, houve uma outra, anotei os pontos de minha caminhada por São Paulo em um papel, mas nunca a transformei em texto. Era também melancólica, e eu temia o "arcaísmo tecnicamente equipado" que vira no Viaduto do Chá, onde jogadoras de búzios em seus banquinhos, mesas e conchas eram soterradas pelos alto-falantes de pregadores evangélicos anunciando o inferno a todos que não fossem como ele - alguns pastores e políticos anunciavam a morte breve para quem eles não gostavam (ou gostavam demais?). Saio do restaurante, receoso de passar por algum outro fantasma. Meu destino é próximo à antiga rua dos Turcos, a 25 de março. A rua Florêncio de Abreu sempre me traz certo deslumbre, fico tentando imaginar o que não era ali no início do século passado, casas chiques no caminho entre a estação da Luz e o centro da cidade. Algumas casas estão bem conservadas, outras, abandonadas, à espera do tempo derrubá-las para poder entregar o terreno à especulação imobiliária - como não é um lugar da modinha, como a Paulista, não há nenhuma comoção com esse desdém histórico. Defronte a uma dessas casas moribundas está sentado um morador de rua, ao lado dele há uma gaiola. De longe não consigo identificar que bichos traz preso, parecem duas ou três pombas rolas - e me questiono onde teria conseguido, não me lembro de ver desses pássaros em São Paulo. Pouco antes de passar por ele, mexe na gaiola, para melhor ajeitar a comida, três ratos ocres se movimentam no exíguo espaço. Sinto um aperto no estômago - no tal do plexo solar. Uma nuvem negra se põe sobre mim. Certamente muitos veriam ali quatro ratos. Eu vejo uma sociedade doente. Um homem em companhia de três ratos. Três ratos fazendo companhia a uma pessoa, que ajeita com cuidado a comida deles. Será que se sente irmanado dos ratos? Conversa com eles quando tem alguma ideia ou vê algo que precisa compartilhar com alguém? Quanto de afeto dedica àqueles bichos - e imagina ser a recíproca verdadeira -, afeto negado por outras pessoas? Talvez tenha sido uma escolha deliberada daquele homem e ele seja feliz - e eu não consigo captar isso da minha visão de mundo classe média-pequeno burguesa. Talvez seja uma cena banal, e eu faço um dramalhão onde há apenas mais do mesmo, a cidade e aquilo que não queríamos que existisse e por isso viramos o rosto. O que sei é que, em meio a recordações dolorosas e melancólicas, o homem e seus três ratos rasgam feito navalha meu estômago, eu me equilibro para parecer uma pessoa normal enquanto caminho na cidade, até chegar em casa e tentar desabafar de alguma forma - a forma de um texto.

19 de julho de 2018

PS: A PM passa correndo e cantando enquanto escrevo esta crônica. "Subi o morro e tomei um tiro/ mas quem morreu foi o bandido". Um homem alimentando seus ratos tem mais dignidade.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Lula, o candidato antissistema [Eleições 2018]

Tenho dito em conversas que o capitalismo liberal (mesmo que sob a alcunha de neo) parece ter uma única solução na manga para as crises que ele próprio engendra: o fascismo. Falo isso sem acreditar em qualquer previsibilidade ou lei histórica, de que o futuro seria predizível, ou que a história acontece primeiro como tragédia e se repete como farsa: cem anos depois da experiência fascista, a resposta ao desalento neoliberal e à crise de 2008 segue pela mesma senda, Europa, EUA, nestes Tristes Trópicos e alhures. Precisa ser assim? Não, mas é a solução mais fácil ao capitalismo. Outra pergunta: quem são os personagens políticos (individuais, coletivos e coletivos "encarnados" em uma figura) capazes de fazer frente a esse zeitgeist do capitalismo de exceção ancorado no Estado totalitário? O que seria fazer frente a esse capitalismo de exceção e seus ferrenhos defensores? Mais liberalismo, como defendem os que ainda acham que a ascensão da extrema direita é apenas um lapso?
Em 2015, durante as prévias para a eleição presidencial do império decadente, enquanto no partido Republicado Bush era tido por moderado e varrido de cara por pré-candidatos de verve mais radical, e o azarão Trump já despontava como futuro candidato, com fortes chances de vitória, li análises que apontavam que o partido Democrata precisava escolher entre uma trabalhosa possível vitória da candidata do establishment e uma vitória quase certa de Bernie Sanders. Optou por Clinton, e Trump pôs fim a quase três décadas de revezamento entre duas famílias nos principais cargos do país. Seu discurso era antipolítico e antissistema, o extremo oposto de Clinton, imersa no fazer político estadunidense (que não deixa de ser antipolítico, a depender de como se encare o termo) e abertamente comprometida com o sistema. Sanders, por seu turno, pode ser visto como um meio termo: assumia o comprometimento político, ao mesmo tempo que era antissistema - inclusive ao propôr um aprofundamento político, com seus comitês que permaneceram ativos mesmo depois da campanha. Há algo muito de errado no mundo, e os resultados das eleições ao redor do globo sinalizam isso. Que saída escolher?
O Brasil não tem prévias ao estilo estadunidense: aqui o debate público entre pré-candidatos é substituído por balões de ensaio lançados na mídia e postos à prova em pesquisas de opinião. O que tem se visto em tais pesquisas, desde que ficou claro, para parte da população que de boa fé seguiu o pato golpista, de que Lula é um perseguido político por parte do sistema, são posições consolidadas. Lula disparado, Bolsonaro firme, Marina, Ciro e eventual outsider da vez com razoável percentual, Alckmin e demais candidatos do establishment passando vergonha.
Falei acima do zeitgeist, o espírito do tempo atual, e creio que ele ajuda a explicar tais posições. Ainda que não caiba simplesmente transferir a situação dos EUA para o Brasil, guardada as distâncias, há pontos em comum no contexto de ambas as eleições, e o discurso dos candidatos mais bem posicionados aqui acaba, sem querer, mimetizando muito do espírito de Trump e Sanders - Alckmin poderia ser visto como a versão tupiniquim de Clinton. Se lá se discutia a decadência do império, aqui se discute o que fazer diante da terra arrasada após o golpe, a perda da qualidade de vida ganha nos anos dourados do PT no Planalto. Lá, Wall Street vista como vilã, comprando políticos para favorecer sempre os mesmos; aqui, ainda que o vilão não seja dito por interdição da mídia - que tenta imputar aos políticos e à esquerda -, parece ficar cada dia mais forte a sensação de instituições sequestradas por uma elite financeira e burocrática que tem como interesse apenas a si própria - políticos são a face mais visível do descrédito, mas o judiciário corre para fazer companhia, como apontou Marcos Lisboa em sua coluna desta semana na Carta Capital. Se parte da população ainda crê em juízes e procuradores - a ponto de se falar em bancada da Lava Jato - parte também ainda crê em políticos. A disputa é pelos corações, almas e votos dos que perderam a crença - mas terão que comparecer às eleições, por força da lei.

Bolsonaro, apesar de político profissional e bem inserido no sistema, se apresenta como o candidato anti: antipolítico e antissistema. Se de fato nada tem fora do sistema dominante, peitar o que foi definido pela direita xucra como politicamente correto, sem medo da justiça, bancando o macho valentão basta para cativar muitos dos que estão "cansados de tudo o que está aí" - e vemos não apenas a falha de politização da população quando o PT esteve no poder federal, como um completo fracasso educacional, incapaz de formar pessoas que enxerguem o óbvio. Sua movimentação política é claramente inspirada em Trump - e para esse tipo de argumentação não me parece que o esquerdismo esclarecido e bem intencionado de um Duvivier tenha qualquer apelo, é convencer as paredes do quarto para dormir tranquilo. Seus eleitores não se pautam em argumentos racionais: o voto em Bolsonaro é um voto feito com as entranhas - com o fígado, com o cu do machão que coça diante de outro homem -, são contra não sabem o que, mas são contra, e não querem pensar - Bolsomito, que também não pensa, fala por mim. Três são os desafios do homem que se afirma detentor do maior pau do certame: manter a pose e reforçar a ideia de alguém que não foge à luta, ao mesmo tempo que não se expõe, não fala, não tem tempo de propaganda para falas cuidadosamente calculadas. Pretendia fugir dos debates e sabatinadas, mas teve que recuar, ao menos diz que irá aos debates, justo porque isso arranha seu principal "capital político", o de valentão; resta saber se a imprensa vai aceitar as regras que ele impuser, ou vai colocar limites à verborragia de ódio do capitão-terrorista - se ele puder falar o que quiser, pode até se sair bem nos debates, se for bem enquadrado, acaba no segundo debate. Ademais terá que aguentar ataque contínuo de todos os adversário, à esquerda, por razões óbvias, e à direita, por estar na mesma raia que PSDB e afins.
Alckmin, como disse, pode ser visto como a Clinton: alguém completamente inserido e aceito pelo sistema - político, econômico, judiciário. A exemplo do que houve em 2002, esta eleição dá sinais de que discurso de mudança, ruptura - e ordem - terá apelo. Um candidato "do bem" não apresenta as credenciais que os eleitores querem - eu não me surpreenderia se numa pesquisa qualitativa Alckmin fosse muito bem avaliado: suas qualidades não são as demandadas pelo momento. Possivelmente vai abusar no discurso da ordem e do apoio irrestrito da mídia. Curiosamente, soa quase um azarão para esta eleição.
Ciro e Marina tentam equilibrar seu discurso entre palatável ao sistema e antissistema ao mesmo tempo - Marina também tenta se pôr como antipolítica. Podem, sem querer, achar um ponto que os catapulte para o segundo turno - algum ponto do fígado dos eleitores desiludidos com Bolsonaro. Marina, correndo como outsider de centro-direita, deve ter menos apelo que Ciro - que corre como semi-outsider de centro-esquerda - entre eventuais desertores de Bolsonaro. Como dito de maneira um tanto infeliz por Ciro, Marina carece da pose de valentão que o momento pede - além de outros preconceitos que tiram votos seus entre os que ela flerta, o fato de ser mulher, negra, do norte. Ciro, é sabido, tem como grande adversário sua própria língua - mas o tom de coronel do sertão que muitas vezes adquire pode ser encarado como valor positivo neste momento. Conforme Luis Nassif, Ciro seria, caso Lula seja deveras alijado da disputa, o nome mais à esquerda capaz de governar.
A presença de Boulos e Manuela tende a elevar o nível dos debates e dar um mínimo alento de política ao pleito, são candidatos antissistema porém políticos - a questão é como desfazer em quarenta dias os anos de doutrinação ideológica (para usar termo que a direita tanto adora) da mídia satanizando movimentos sociais e de minorias. Suas candidaturas devem servir antes para pôr suas bandeiras em evidência, sem chances de vitória - salvo se forem ungidos por Lula -, por mais que sejam bem articulados e devam crescer. Inclusive, penso que uma vitória deles, por mais que sejam bem preparados e qualificados, seria uma vitória de Pirro: dada as correlações de forças atuais e das expectativas que engendrariam, não durariam um ano no Planalto.
E Lula, enfim, a peça em torno do qual se move todo o tabuleiro político, eleitoral, midiático, judiciário, golpista - ele pode ser visto como agnus dei de direitos sociais e um projeto de nação independente. Costuma-se dizer que a diferença entre o veneno e o remédio é a dose. As elites brasileiras, ao que tudo indica, tem se envenenado bastante - e não apenas de agrotóxicos que ela bebe no almoço. Não há como negar o caráter político de Lula - mesmo que durante seu governo tenha sido usado, conforme acusam muitos, para despolitizar a população. Seu tom conciliador - esse que despolitizou a população durante seu governo - tampouco pode ser encarado como antissistema. Ou poderia. Quando se tem uma percepção geral - da esquerda à direita, dos alienados aos ilustrados - de falência das instituições, do sistema, e uma busca de alguém que rompa "com tudo o que está aí", se possível mantendo as partes boas, positivas, pode-se preparar um discurso de "eu sou contra", como Bolsonaro, ou pode ser apresentado em atos, sem necessidades de palavras, como esse pária do sistema - é o que tem sido feito com Lula. Lula é o cara contra tudo o que está aí,  não porque ele afirme sê-lo, mas porque as instituições o dizem, diariamente, em atos. Com uma vantagem: se "sabe", por conta de seus oito anos à frente da nação (quando o Brasil ainda era algo como uma nação e não mera pátria de chuteiras e enxadas high-tech), que ele também traz ganhos. Daí ver muitas pessoas na internet (sem formação específica nem capacidade de compreensão da realidade, mesmo de si própria) defendendo uma chapa Lula-Bolsonaro [http://bit.ly/2uFJxXe]. A implacável perseguição ao líder petista, aliado à narrativa da mídia e aos resultados do golpe perpetrado por mídia, judiciário, endinheirados e políticos têm feito Lula falar dia sim, outro também, mesmo preso, incomunicável: Lula se torna cada dia mais a afirmação da política contra o sistema de privilégios - o que era para ser veneno ao petista se torna remédio, cura até as lembranças das debilidades do seu governo. (Parênteses: se os partidos de direita definham por errarem na dose do antipetismo, a esquerda e forças progressistas precisam estar atentos para ganhar a batalha narrativa, e conseguir enquadrar a mídia, esse quarto poder sem freios ou contrapesos). Para minha surpresa, parece que foi acertado seu se entregar à polícia, apesar do julgamento injusto - e isso não apenas num plano de "a história me absolverá", mas de eleições 2018 -, assim como é forçar sua candidatura até o judiciário assumir mais uma vez seu lado, o golpe, e o ônus à sua imagem. Se deixarem o homem concorrer, sua vitória não apenas parece líquida e certa, como tende a ser acachapante - o que lhe daria mais poder de pressão para reformas profundas (finalmente!) assim que assumisse o poder, desarticulando as forças golpistas. Força que seria ainda maior caso tivesse sido dado a devida atenção às eleições legislativas - esquecidas pela esquerda, como sempre.
A questão agora é quem seria seu vice/plano B, para caso sua candidatura seja registrada e depois cassada. Há três nomes principais sendo alentados: Fernando Haddad, Jacques Wagner e Celso Amorim. Quão inserido no sistema deve aparentar seu vice? Ainda cabe esse tipo de avaliação, ou esse vice seria apenas o cavalo de Tróia do projeto lulopetista de volta ao poder e desarticulação do golpe? Haddad me parece o nome mais "Clinton" e Amorim o mais "Sanders", por dar a impressão de estar não apenas fora dos conchavos do poder, mas acima deles - uma espécie de Eduardo Suplicy sem filhos chatos e ex-mulher traidora. De qualquer modo, independente de quem seja o vice-alçado a cabeça de chapa, será acusado de "petismo" e de ser de "esquerda" - nossa mídia já mostrou incapacidade de reflexão, para notar que essa tática não funciona para além dos 30% que não votarão no PT ou na esquerda de forma alguma -, com fortes chances de vencer. 
É por essa sinuca de bico que, creio, Bolsonaro não será cassado: acreditava nessa possibilidade - até o chamava de "boi de piranha" - por ser um candidato que não agrada ao sistema, com pendências na justiça, e a cassação de sua candidatura permitiria não apenas tirar do jogo alguém que está na frente do Alckmin como tentar passar a imagem de judiciário isento, imparcial: cassou um candidato da esquerda como cassou um da direita. Questão que muitos brasileiros não compreendem o que é esquerda e direita, e vão ver apenas como mais um arbítrio contra alguém que é contra o sistema - e esses votos não devem ir para o PSDB, MDB ou partidos desse espectro.
Para encerrar esta análise de momento, duas observações gerais: da consumação do golpe até abril eu tinha seríssimas dúvidas sobre a realização das eleições. A derrota quase certa dos golpistas e o (des)arranjo institucional me faziam crer no seu adiamento - com qualquer desculpa esfarrapada por conta da intervenção militar no Rio de Janeiro -, ou na mudança do regime para semi-presidencialismo ou qualquer gambiarra mal feita. Creio ser graças a Donald Trump que nossas eleições devem ocorrer - a se conferir se sem grandes fraudes, se de repente Alckmin não dispara sem motivo nas pesquisas de opinião de institutos enviesados e acaba por vencer até mesmo o Lula: ao recusar a entrada do Brasil na OCDE, por falta de respaldo democrático, deixou claro que tipo de relação o Brasil teria caso insistisse na senda golpista (orquestrada pelos democratas ligados a Clinton e ao establishment estadunidense?), e acabou com qualquer clima para uma nova etapa no golpe, ao menos tão descarada.
Estamos aqui, desde sempre, discutindo eleições executivas, tratando as legislativas como perfumaria. O golpe parece não ter nos ensinado da importância de deputados e senadores - que seja das suas funções negativas. É urgente começar campanha de rua, de internet, de Fakebook, boca a boca, whatsapp a whatsapp, para candidatos progressistas ao congresso nacional, senado federal e assembleias estaduais. Se for eleito um congresso como o atual, e se o próximo presidente for do campo progressista, dificilmente conseguirá fazer muita coisa - que seja desfazer as absurdidades golpistas. Vai depender de ser um líder carismático com forte apoio popular, alguém com prática em negociações espúrias para compactuar com as raposas legislativas, ou vai ser derrubado em pouco tempo - na falta de crime de responsabilidade vale até acusação de não ter dado a descarga, é só pro-forma mesmo. Penso que a campanha para legislativo não deva ser uma semana, dois dias antes das eleições postar uma foto e declarar voto, mas desde o início, todos os dias, anunciar candidatos ao qual cabe conhecer melhor e votar.
Por fim, ainda me soa absurdo estar escrevendo isso como se estivéssemos numa democracia minimamente séria. Mas é preciso forçar: ou uma reforma que permita uma democracia de fato, ou mídia, judiciário, donos da grana, políticos, militares assumem de vez o golpe e o escancaram para o mundo.

17 de julho de 2018

domingo, 15 de julho de 2018

A construção (e naturalização) da anti-cidade

Pelo (pouco) que conheço de Paulo Mendes Rocha, deve ter sido de caso pensado que a frente do Sesc 24 de Maio, no centro de São Paulo, seja apta para que personae non gratae do estabelecimento - mas assíduos viventes do entorno - pudessem se sentar. A primeira vez que me dei conta disso, o espaço era ocupado por humilhados do parque com os seus jornais - pedintes, moradores de rua - e imigrantes negros. Hoje, ao passar em frente, os imigrantes seguem ocupando parte do espaço, porém dividem-no agora com pessoas aparentemente inseridas na ordem produtiva, que ali descansam enquanto observam o movimento da rua Dom José de Barros - talvez seja por conta do horário que eu tenha passado. Com a prefeitura tendo retirado os bancos da quadra de baixo - além de toda a lógica (urbanística e ideológica) que marca as praças de São Paulo -, esse pequeno espaço se tornou um dos raros pontos de estar e não de circulação - de pessoa ou de dinheiro: pode-se sentar ali despreocupadamente, sem ser obrigado a consumir ou seguir para algum lugar. A ver quanto tempo o Sesc resiste antes de "enfeitar" o vão sob sua marquise com estacas ou grades, como sói acontecer na cidade, com exemplo da própria prefeitura (não nos esqueçamos das rampas anti-pobres do PSDB de Serra).
Por enquanto, quem dá o exemplo da "cidade linda" almejada pela nossa elite é o Metrô. Em comunhão com a prefeitura e o CCSP, o Metrô entrou na luta para limpar a região da Vergueiro de não-pessoas - esses homo sapiens que não tomam banho todo dia e não consomem o suficiente para terem direito à cidadania. O CCSP, ainda durante a gestão Haddad - dando continuidade ao que havia começado com Kassab -, limpara os seus espaços internos e corredores de quem está lá para usar o centro cultural sem promessas de consumo - mesmo que alhures. Acompanhei de perto o processo de limpeza social, do um real para assistir a um filme, passando pela exigência de RG para entrar na biblioteca, ao cerco da assistência social a todo morador de rua que se utilizava do local (para funções designadas, nada subversivo, nem mesmo desrespeitosa com outros usuários) - até fazer com que fossem para longe, ou trocassem de calçada, ao menos -, assim como os seguranças perseguiam negros desprovidos de crachá funcional (é certo que nada comparável aos atos de manutenção da "higiene e harmonia social" que presenciei próximo ao Colégio Bandeirantes, cinco quadras distante).
Ao lado da estação Vergueiro, entre o elevador e a construção privada mais próxima há uma mureta. Espaço para passagem de ninguém, costumava ser ocupado por alguns desses pobres expulsos do CCSP, além de grupos de amigos, pessoas sem nada para fazer e casais paquerando. Talvez por conta do perigo para a ordem pública que seja pessoas paradas em local (iluminado e visível) onde não se vai a lugar nenhum - ainda mais mendigos, sem poderem ser enxotados -, mal exemplo para as crianças pessoas se beijando (inclusive pessoas do mesmo sexo, olha a pouca vergonha!), o Metrô tratou de isolar o local. A questão é que um raro ponto público para se permanecer foi desativado, como um aviso: "este local é de passagem, esta cidade se presta unicamente à circulação e ao consumo. Quer ficar de boa? Fique em casa, consumindo programação televisiva".
A estação São Bento segue lógica semelhante, talvez menos explícita, porque "justificada" - conforme fomos adestrados a aceitar esse tipo de argumento como justificativa válida. Parte da estação vai se tornar um centro de compras, logo, "logicamente", precisa ser cercado - até para explicitar que ali agora é um local privado, aberto ao público por um ato de vontade do dono, não por direito dos cidadãos. Grades já foram fixadas nas entradas da estação. O quê mais perverso nesse processo do largo São Bento-transformado em metrô-transformado em shopping privado é o slogan da propaganda do futuro centro comercial: "um oásis no centro de São Paulo". Nada mais óbvio que a publicidade valorizar aquele que lhe paga para falar bem, e o faça muitas vezes depreciando concorrentes. O slogan do shopping do metrô São Bento, contudo, não apenas se diz melhor que a "concorrência": ele diz que o entorno, mais que desinteressante e pobre, é estéril, praticamente morto - mortal. E a tal concorrência a que ele se opõe não são outras lojas, é uma cidade, a cidade que abriga esse "oásis", garante seu funcionamento - e tolera ser desqualificado dessa maneira (imagino se a prefeitura passasse a fazer publicidade em termos parecidos, chamado shoppings de pulgueiros existenciais em favor dos parques e praças, isso nos próprios shoppings). Porque oásis, convém lembrar, não surge em meio à mata tropical, e sim em meio ao deserto, onde poucos seres vivos estão aptos a sobreviver - e o ser humano se encontra em situação extremamente vulnerável. 
Pode-se argumentar que se trata de força de expressão, o que estou totalmente de acordo: expressa uma concepção de cidade, preconceituosa e desqualificadora - e até um pouco desatualizada. Quem circula pelo centro sem preconceitos (e sem dar vacilo, é preciso admitir) sabe que São Paulo se parece com tudo menos um deserto: é rica arquitetonicamente (ainda que seja triste só haver construções recentes), é rica a "fauna" de tipos humanos, dos engravatados aos mendigos, é rica de situações banais a situações excêntricas, quase surreais - em compensação, é mais que conhecida a normopatia anódina que rege espaços privados de uso público como shoppings e Sescs, o que me faz perguntar se a propaganda não tenta justamente ocultar que se trata do exato contrário: o tal Pátio São Bento é, na verdade, um deserto em meio a uma abundante floresta tropical (de concreto e aço) que é o centro de São Paulo (nada diferente de golpistas que diziam, desde 2003, que o PT preparava um golpe). Em tempo: ainda que eu creia que um uso mais diversificado seria mais interessante - com comércio, área cultural (como salas de ensaio para teatro e dança), centros de referência a minorias ou migrantes, etc -, um uso comercial de todo aquele espaço da estação São Bento me parece muito melhor que o não-uso que dele era feito até pouco tempo atrás. O que questiono é cercar esse espaço público e ainda explicitar tal oposição com o entorno.
Cito esses exemplos - e o contraexemplo surpreendente do Sesc 24 de maio - da construção da anti-cidade, da cidade hypster, por serem mais facilmente visíveis - ainda que já estejam naturalizados. É possível a construção da anti-cidade de modo mais insidioso: a cidade hypster é essa cidade da pura positividade classe-média-alta que ofusca pelo brilho toda a sujeira que ela joga para debaixo do tapete - ou para as periferias. É a anti-cidade cuja assepsia social se faz (quase) sem grades e sem slogans toscos - basicamente com a força da grana e, vez ou outra, da polícia. 
É o processo que visualizo na Boca do Lixo, no centro de São Paulo, com seus novos barzinhos ajeitados se sobrepondo aos velhos botecos de gays de poucas posses e imigrantes que tentam a vida em SP, baladas descoladas fechando velhos puteiros, e novos edifícios para quem tem dinheiro - sem nenhuma contrapartida para quem trabalha nos serviços desvalorizados e não tem condições para pagar alugueis abusivos que filhinhos e filhinhas de papai podem. Crackeiros já foram expulsos da região, michês e travestis que faziam ponto por ali minguam - provavelmente porque os cliente se sentem intimidados diante dos conhecidos que agora frequentam o local, não porque essas pessoas encontraram empregos melhores. O ideal da anti-cidade hypster é Vila Madalena, Pinheiros, onde não fossem os porteiros, manobristas e pedreiros, poderia jurar que é Oslo, ou a novela da Globo: só gente branca com boas posses fazendo pose. Uma cidade que busca se ver limpa de diferenças sociais e raciais - não pelo fim das desigualdades, mas pela ocultação e exclusão dos diferentes não aceitos. 
A aceitação da anti-cidade hypster é um processo longo e permanentemente inculcado, via mídia e educação, segue à mesma lógica que nos anos 1980, 1990 e 2000 dizia que o centro da cidade era perigoso, porque habitado por pretos, pobres, putas, gays, drogados e gente "dessa raça", e chique era morar num condomínio fechado e passear nos fins de semana no shopping (porque a semana deve ser devotada ao trabalho em glória do deus dinheiro). Diante do fracasso desse tipo de vida - estreita, pobre e vazia -, volta-se para o centro da cidade - desde que ele seja limpo dos elementos perturbadores da harmonia social-racial, ou seja, desde que dada as condições para uma vida estreita, pobre e vazia, como a dos condomínios e shoppings. É exatamente a mesma lógica, que se não cativa exatamente os mesmos patos, cativa seus filhos, propondo basicamente a mesma solução. É a lógica da valorização do capital e exclusão dos sem-dinheiro-portanto-sem-direitos. Tão naturalizado que nós sequer vemos - quando não louvamos a "revitalização" do centro "degradado". E a anti-cidade vai se construindo com nossos aplausos, para usufruto apenas de alguns.


Reparem em como prejudicaria toda a cidade ter cinco ou seis seres humanos sentados nessa mureta recuada

15 de julho de 2018.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Poesia alucinada para uma guerra civil (mal) disfarçada [diálogos com o teatro]

Se eu tivesse que resumir Buraquinhos ou o vento é inimigo do picumã em uma palavra, talvez fosse "fracasso". Ao salientar o fato de que dramaturgo, atores, equipe técnica serem negros, tratando de um tema negro, Buraquinhos deixa claro nosso fracasso enquanto sociedade: somos um enorme  fazendão, uma gigantesca sesmaria, onde casa-grande e sensala seguem firmes, fortes e hipocritamente disfarçados, repaginados de "o agro é pop", um pop onde negros seguem descartáveis e a meritocracia contempla sempre os mesmos, sempre brancos - de novidade um pouco mais democrática, o veneno na comida de quase todos. Quem sabe o dia em que haja realmente igualdade de oportunidades, descartável seja uma peça como Buraquinhos, e dramaturgos negros - assim como trans ou mulheres ou que minoria for - sejam apenas dramaturgos e dramaturgas, e o foco esteja inteiramente no seu texto, no seu trabalho, com sua questão identitária sendo um detalhe que perpassa o texto e não que o marca para fora do palco. Ressalto isso porque me pareceu importante o reforço nessa negritude nos agradecimentos ao fim da peça, ainda mais diante da qualidade do texto e da montagem: o texto de Jhonny Salaberg (que também atua) não entrou ali por cota, mas ser o primeiro negro contemplado em doze peças dos quatro anos de edital do Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos, do CCSP (no qual este escriba ficou como primeiro suplente em 2017, com Linha de produção), mostra o quanto de talentos negros e periféricos são descartados pela nossa meritocracia - pela minha experiência, me recuso a acreditar que Jhonny seja um talento fora do comum na periferia, incomum foi ter conseguido sair de lá.
Buraquinhos tem um enredo simples: uma criança negra que vai comprar pão em uma padaria em Guaianases, periferia de São Paulo, no primeiro dia do ano, e é abordada pela polícia militar - essa que tinha autorização de Alckmin para matar quem reagisse (e a ideia de reação é bem elástico nesse caso, respirar pode ser encarado como reação à abordagem da polícia). Nada de novo no front - de comprar pão e do que acontece no caminho. Se se trata de um drama típico da periferia, reverbera como drama humano em todos que resistem ao canto da sereia fascista, como atestam, próximo ao fim da peça, narizes fungando de negros, brancos, amarelos da plateia.
Buraquinhos poderia ir por um caminho fácil, pregar para convertidos, mas opta por uma trilha mais desafiadora e, apesar da temática, não se apresenta como uma peça de denúncia: afinal, o que há de novo para denunciar? Apesar de escrita em 2017, poderia ser a denúncia do assassinato de Marcus Vinicius pelo estado, no Rio de Janeiro. Eles não viram que eu estava com uniforme da escola? Eles não viram que eu tinha doze anos e só fui comprar pão? Daqui dois dias ou dois meses poderia ser a denúncia de outra criança assassinada pelos Estado - ou de jovens, ou de adultos, ou de velhos, sempre pretos pobres periféricos. Salaberg poderia enfileirar nomes e com breves dramaturgias denunciar a situação em que foram assassinadas pelo Estado, numa estratégia que parece antes dessensibilizar as pessoas que mobilizá-las ao agir - ou mesmo ao reflexionar. É, curiosamente, a mesma estratégia do futuro senador Datena e seus seguidores: apresentar tudo explícito, ao ponto de nada mais chocar, e anestesiar para a barbárie, para o sentir, tanto as pessoas que ainda se comovem com o Auschwitz a céu aberto que o Brasil tenta imitar sob a locução de Datena, Galvão Bueno, Bonner e afins - porque não podem se abater com toda atrocidade diária, de hora em hora, de cada 23 minutos, por uma questão de sobrevivência -, como as que não se comovem, porque não conseguem enxergar no outro um igual a si, uma pessoa, por ser negro, periférico, homossexual, transexual, imigrante, nordestino, crackeiro, estigmatizado qualquer (talvez porque essas próprias pessoas abdicaram de se reivindicarem humanas, brutalizadas por cobranças e resultados, no trabalho, na vida social, na vida pessoal, na vida íntima). Enfileirar mais do mesmo, apelar para escatologias (como certos dramaturgos brancos de classe alta que receberam para escrever sobre racismo), poderia servir para o autor se sentir mais leve, convencer as paredes do quarto que está mudando a realidade do país e dormir tranquilo, mas muito pouco serviria para tentar fazer as pessoas enxergarem aquilo que diariamente passa por seus olhos, se darem conta do que realmente significa. É uma criança, foi comprar pão, não voltou para casa porque a polícia a assassinou. Eram cinco jovens, iam a uma balada, foram parados por 111 tiros - o mesmo número de assassinatos na chacina estatal do Carandiru, 111 pessoas mortas covardemente.
Sua tentativa é, sem negar a razão, sensibilizar também pela emoção - pode até ter um efeito catártico, mas quebra com o discurso racional-acadêmico que põe tudo à distância e explica com a pretensa certeza de uma análise de texto de vestibular; ou com a escatologia que gera emoção pela emoção, e ao fim do espetáculo nem lembramos do que tratava, só que deu um aperto no estômago em algum momento e... por falar em aperto no estômago, que tal uma pizza? 
E não parece mesmo fazer sentido se centrar no discurso estritamente racional diante de toda a irracionalidade ali tratada. Um Piva periférico e negro vomitando espasmos de quotidiano e dor - dor evitável de um quotidiano que merece ser revolucionado. O rim, o pulmão que vazam pelos furos de bala enquanto a criança baila por cima os fios que enquadram o céu azul da periferia, preocupada em não deixar os pães cair, são poesia alucinada que emerge das marcas de sangue que o Estado estampa no asfalto; o coração que escapa pela abertura feita pela bala e voa sob a forma de uma borboleta-chuteira (teria feito um gol?) até a mãe arrasta gritos de sonhos que crianças e adultos - pretos - insistem em ter, junto ao cheiro do café, à pressão do feijão, e a casa típica da maioria dos brasileiros - retratada como pitoresca, por não aparecer glamurizada na novela (no máximo escarnecida em programas de "humor"), com carne de segunda, refrigerante de segunda, gente de segunda... gente como os soldados da PM, retratados como cães, verdadeiros chacais - o que me faz perguntar sobre o dito de ser o cão o melhor amigo do homem: o que é a amizade em uma sociedade como a nossa? 
Inclusive, me pergunto como não reagiria um PM sério - que não seja um perverso, como os retratados na peça e os que fazem muito da (má) fama da corporação [http://bit.ly/2KFiPZo] -, que tenha já sido brutalizado mas não de todo, diante de uma peça como essa: conseguirá se emocionar como os demais presentes, reconhecerá a necessidade de mudanças; ou seu espírito corporativo falará mais alto e preferirá negar o óbvio para preservar seus comparsas e a instituição? 
Me faço outro questionamento: diante do caminhar de nosso país, por quanto tempo Buraquinhos poderá ainda ser encenada sem ameaças a dramaturgo, diretor, atores e público? Mais quantas edições um espetáculo como esse poderá ser contemplado - ainda mais por um edital público? Que a presença de Buraquinhos na programação do CCSP este ano não seja recordada como um último suspiro antes de um período de trevas.


02 de julho de 2018

PS: A peça fica em cartaz até dia 15 de julho, de sexta a domingo, no Centro Cultural São Paulo, no metrô Vergueiro, com ingressos a R$ 20,00.