sábado, 8 de fevereiro de 2003

Não à guerra!

Belicistas, capitalistas, direitistas e filhos da puta em geral estão com um sorriso de orelha a orelha, afinal, vem aí mais uma guerra! Mais realistas e mais emocionantes – apesar de não ter sangue – que os jogos de computador, as imagens da Fox vão fazer a alegria de milhares de pessoas. Claro que nem tudo são flores, analistas analisam que essa guerra será curta – uma pena. Todavia, mesmo sendo curta, será considerável o montante de dinheiro gasto (creio que a indústria bélica também esteja contente).

Enquanto o video-game real não começa, nos divertimos com o Bush e sua cara do tio da revista Mad e suas desculpas esfarrapadas para argumentar a tão sonhada guerra: Saddam tem ligação com Bin Laden, tem armas de destruição em massa, oprime seu povo, é um perigo para os Estados Unidos. Curioso também é a falta de memória dele e da imprensa: tanto Saddam quanto Laden são crias dos EUA, da época da guerra fria; as armas de destruição em massa são presentes do Tio Sam, o perigo que o Iraque representa para os Estados Unidos, analisam os analistas, é menor do que dez anos atrás quando Bush pai fez o primeiro ataque ao bigodudo; e quanto a oprimir o povo, finjamos esquecer o apoio estadunidense às ditaduras do Chile, Brasil, Argentina, Iraque... Não entendo porque o Saddam não pode ser simplesmente chamado (e aceito com naturalidade) como “efeito colateral”.

Também não entendo porque tanta insistência em achar uma desculpa para a guerra. Salvo o Berlusconi e o Blair, todo mundo sabe que a guerra vai sair porque a indústria bélica precisa gastar as balas que faz (e como atirar em colegas de trabalho, escola está um tanto demodé, nada como uma guerra, sempre na moda); e que a indústria petrolífera não vê a hora de abocanhar uma das maiores jazidas de petróleo do mundo.

Mesmo que Bin Laden e toda a Al Qaeda se entregue, que Saddam dê a independência aos curdos, que prove que suas fábricas de armas químicas são, na verdade, fábricas de leite em pó (como a destruída tempos atrás pelos “ataques preventivos”), convoque eleições pluripartidárias e ganhe, se converta ao cristianismo e não deixe as petrolíferas do mundo civilizado explorar as jazidas iraquianas a guerra irá acontecer. Com que desculpa? Isso é o de menos. Pode ser a extinção do mico-leão-dourado, por que não? Ou então a explosão da nave espacial, a queda da Nasdaq, a morte da bezerra, qualquer desculpa serve (mande suas sugestões!). Olhando pelo lado bom: enquanto a guerra não começa, nos divertimos com o Febeapá (versão Febeamu) do Bushinho, seus secretários e seu poodle-Blair.

Por que resolvi escrever sobre a guerra, um assunto tão batido? Ora, não é todo dia que surge a oportunidade da nossa opinião ser tão relevante quanto à do Chirac, do Schroeder, do Papa...

Não à guerra!


Pato Branco, 08 de fevereiro de 2003

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2003

Quem são os radicais do PT?

Está o maior bafafá o fato da senadora Heloísa Helena não ter comparecido na votação para a presidência do senado. Ela argumentou que não iria votar no oligarca Sarney, pois se filiou ao PT justamente para combater políticos como ele.

A resposta do PT ao ato da senadora foi dado pelo presidente do partido, José Genoíno, que avisou não admitir que alguém vá contra as indicações do partido.

Que o partido deve manter uma linha e impedir que cada deputado e senador da sua bancada vote conforme lhe der na telha, é difícil ser contra. Afinal, caso todos os partidos fossem bem organizados como o PT, a “democracia” brasileira seria bem diferente. Todavia, a atitude do PT com a senadora é típica dos governos extremistas – fascista, comunista ou neoliberal, tanto faz –, que não admitem opinião contrária. Vale lembrar, a senadora não votou contra o partido, ela simplesmente não aceitou a indicação e fez da sua abstenção uma forma de protesto. Ameaçá-la de expulsão do partido por causa disso remete ao bondosos Stalin, Hitler e Mussolini, ou mesmo à FHC e a imprensa chapa branca, que tratava de neo-bobos, perfeitos-idiotas aqueles que criticavam o neoliberalismo.

Já Antônio Malan (desculpem, ato falho, Antônio Palocci), comentou que a rebelião dos “radicais” do partido era contrária à vontade da população, quando esta elegeu Lula e seu plano de governo. Será mesmo? Superávit primário, aumento de juros, cortes de gastos, não foi justamente contra isso que a população votou?

Apesar da palavra radical ter uma conotação negativa, sinônimo de extremismo e intransigência, sua primeira definição, segundo o Houaiss, é “relativo ou pertencente à raiz ou à origem; original”. Ou seja, os radicais é que estão sendo coerentes com as origens do partido – com algumas mudanças, provavelmente, mas sem fugir da linha vermelha para a cor-de-rosa, ou qualquer outra cor (não sei qual a cor do neoliberalismo). Radicais, no sentido pejorativo do termo, estão sendo Palocci e Genoíno, que não aceitam opinião contrária.

É hora de Lula parar de falar em mudanças e começar a sinalizá-las. Não serão feitas da noite pro dia, nem em poucos meses, é óbvio, mas a história de agradar os mercados e fazer discursos sociais é mera continuação do governo FHC. De La Rua também seguiu os passos do antecessor, e nós sabemos no que deu..


05 de fevereiro de 2003