quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Relato de viagem 1

Bs As, 2,6,1,6
Pensamento do dia: nunca subestime o tamanho de um país.
Turista bobo é mesmo uma alegria: qualquer coisa que vê acha o máximo, maravilhoso: "mira vos, que hermosa vaquita!", "mira vos, que linda praza de pedágio para pista simples y sin acostamento!". Bem, se eu estiver de bom humor, eu sou um turista bobo. E ontem eu estava: troquei a passagem de uma empresa nacional pela concorrente argentina e ao invés de carro convencional de um eixo, carro leito, com dois, café da manha, janta e 10% mais barato.
Nao cheguei a achar as vaquitas lindas, mas a aduana em Puerto Iguazu foi interessante: parecia saída de um conto do Quiroga (só nao consigo me lembrar o nome). Uma sala com as paredes internas forradas de madeira, meio caindo, tudo muito sujo, um ventilador de chão que só tinha hélice e haste, na mesa do funcionário o valque-talque e um rádio pra escutar o jogo. As luminárias, algumas queimadas, outras quebradas, e as demais sujas que não iluminavam muito. Como a casinha tinha janela dos dois lados, via-se do outro lado mato. Cena quirogueana. Sem contar pisar na espuminha com sabao, e os carros passarem no tanque com sabao para entrar no país, digno de explicacoes científicas que o Quiroga adorava dar em seus livros - explicacoes da mesma época, diga-se de passagem
Enquanto espero meu irmão (que era para chegar as 11h, mas deve chegar lá pelas 15h ou 16h) uma volta pela Buenos Aires. Nao achei que está mais sul-americana que na outra vez que vim, sete anos atrás. Um pouco mais suja, mais pedintes e vendedores ambulantes, mas nada comparado ao centro de Sao Paulo. Só não está mais conseguindo esconder os pobres dos turistas, coisa que a Europa também não tem conseguido. Mas segue hermosa e chique. Qualquer butecão é chique, o que me inibe um pouco.
Também não sei se entendi direito o que falaram no rádio: parece que hoje é o último passeio das madres de la plaza de mayo. Foram 1500 quintas-feiras de protesto. Segundo a entrevistada: ´los desaparecidos estan desaparecidos´. Acham que o presidente, ´el loco´, segundo pichações que vi na estrada, assumiu a causa delas e está tratando bem. Agora se dedicarão a outras causas: desempleados, niños con hambre, etc.
E como eu disse: nunca subestime o tamanho de um país: Buenos Aires - Puetro Madryn, 17 horas de viagem, e nãoo as 9 ou 10 que eu esperava...
Pois bem. Volveré ao terminal rodoviário, onde estive as últimas duas horas e meia, esperar mi gracioso hermano.
Saludos,
Dalmoro

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Pré-relato de viagem

Seres, Ceres e Serafins,

Eis-me aqui novamente a vos encher a caixa de e-meio. Poderia prometer ser breve, mas como sei que não o serei, prefiro não prometer nada. Incomodo esta vez mais para avisá-los de que incomodarei mais vezes. Mas, calma! Não se trata de algo tão fatídico. Como muitos devem estar sabendo – e vários outros devem estar cansados de saber –, pois repito desde setembro a mesma ladainha, irei, acompanhado do meu irmão, desvendar novas terras – novas para mim e para ele, é bom deixar claro.

A idéia original era puxar as barbas do Fidel. Como sairia claro, decidimos um passei pelo cone sul, visitando Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai. Como faltaria tempo – nem cheguei a ver os custos –, optamos por algo más sensillo: Patagônia e Terra do Fogo. Tenho sérias pretensões de escrever, vez ou outra, relatos dessa viagem. Vontade tenho, mas não sei se terei tempo, meios materiais e condições psicológicas. Portanto, este e-meio serve de alerta: pode ser que vocês recebam e-meios com "relatos de viagem". Se não quiserem receber essas abobrinhas, podem me mandar um e-meio pedindo, ou então podem simplesmente bloquear o endereço, sem dó – já estou mandando pelo gmail para deixar essa possibilidade. Já se alguém estiver interessado em ver pingüim e passar frio conosco, é só mandar um e-meio que eu dou nossa coordenada e seguimos todos juntos rumo ao fim do mundo!

O roteiro da viagem é muito simples. Primeiro, Buenos Aires hermosa, que dizem não estar mais tão hermosa assim. Depois, Puerto Madryn e Península Valdés, ver pingüim. Daí, descemos um pouco mais, para ver mais pingüins, e assim vamos, descendo e vendo pingüins, até chegarmos em Ushuaia, já na Terra do Fogo. Dali subimos pelos oeste argentino, vendo morro, gelo e passando frio, até chegarmos em Bariloche, ou alguma cidade mais barata nas redondezas. Novamente Buenos Aires, comprar livros do Quino, e tomamos o caminho da roça. Serão cerca de 30 dias de viagem, mais de seis mil quilômetros, que faremos com a cara e a coragem. Coragem essa feita especialmente para a viagem, que atende pela alcunha de Visa, e nos dá a esperança de não passar nenhum grande aperto. Meu pai já me avisou: gaste somente se tiver necessidade. Ocorre que esqueceu de dizer que tipos de necessidades. Mas como sou um filho cônscio, não irei gastar em extravagâncias – até mesmo porque sei que o limite não me permitirá voltar para casa em carro próprio.

Antes que me cobrem fotos: esse departamento fica a cargo do meu irmão, chamado Fabrício, conhecido nas bocas como Gã, e doravante tratado como Phah. Se ele baixar as fotos em alguma página, alguma coisa do gênero, eu aviso; senão, sei lá – minha máquina ainda é das analógicas.

Bem é isso. Espero que a viagem seja tranqüila, sem ônibus pinga-pinga, bêbados gritando e motoristas que gesticulam enquanto dirigem – como na minha última viagem Campinas-São Paulo. Nos vemos na volta! Ou, como diria aquele famoso governador daquele famoso estado mexicano: hasta la vista, beibe!

Saudações,

Dalmorito


ps: aquela máquina anunciada outrora continua à venda!

(Pato Branco, 23 de janeiro de 2006)