terça-feira, 26 de setembro de 2006

Quem diria, o PFL...

Pois é, anda difícil entender o Brasil. No samba do crioulo doido que virou a política nacional tem sobrado que algumas das poucas notícias políticas boas tem cabido ao PFL. Primeiro tivemos com Cláudio Lembo uma das poucas falas razoavelmente razoáveis proferidas por políticos sobre a crise da segurança em São Paulo. Agora temos a câmara da cidade de São Paulo aprovando o projeto de lei de autoria da prefeitura – que está nas mãos do pefelista Kassab, ex-pittista – que proíbe outdoors e restringe publicidade em locais abertos da cidade – fachada de lojas inclusive. Além do impacto visual que tal medida terá (ela entre em vigor em 1 de janeiro de 2007), é de se supor o tamanho do lobby que prefeitura e vereadores tiveram que suportar – publicitários, agências de publicidade, anunciantes, grandes lojas – e suportaram (apenas um, Dalton Silvano, do PSDB, se opôs).
Quem conhece São Paulo, nem tenha só passado pelas marginais rumo a um destino para além da cidade, sabe que se a poluição visual da cidade pudesse ser traduzida em cheiro, federia muito mais do que o rio Tietê nos seus piores dias. A cidade possui cerca de vinte mil outdoors – 75% deles irregulares – que vão de propagandas banais de churrascarias a anúncios de filmes pornográficos ou “casas de acompanhantes” com direito a fotos “picantes”, assim digamos. A proibição de publicidade externa é um dos poucos casos de o Estado prestando um serviço Público, com p maiúsculo, ou seja, é para a população, toda a população, e não só para aqueles que não podem pagar seu equivalente particular. Não se trata apenas de tentar deixar a cidade menos feia, mas de respeito pelo cidadão: não ser bombardeado por propagandas que não quer ver, cansar ainda mais a retina fatigada, saber que limitar a influência da publicidade sobre os filhos dentro de casa não será um ato inócuo, já que hoje basta olhar pela janela e ter imagens convidativas impondo coma, beba, compre, trepe.
São Paulo é para mim o laboratório do mundo: se se conseguir consertar a cidade, acredito que o mundo tem solução. A medida de proibição de publicidade (ainda dependente de “pegar”) não tornará São Paulo uma cidade minimamente habitável, digna de viver, mas é um pequeno, mínimo passo, ainda mais se comparada com aberturas de avenidas e viadutos, rampas anti-mendigo, intervenção de prostíbulos...

Campinas, 26 de setembro de 2006

Dossiês e flagrantes, conversa com dona Emengarda

Dona Emengarda (do Clube da Sogra), na sabedoria dos seus 86 anos, diz que já viu muita coisa neste mundo, mas diz muito do que sabe ela não viu. É por isso que sempre fareja algo além do que se vê. Os netos chamam-na de paranóica, dizem que ela é adepta da teoria conspiratória, mas ela não liga, sabe que eles são ainda muito jovens para saber que no escuro coisas também podem acontecer.
Um fato que dona Emengarda anda cabrera é o do tal dossiê apreendido enquanto era negociado com membros do PT. Não que ache que tenha qualquer armação nessa história. Ela sabe, há muito já dizia, que “política tem mais sacanagem do que cinema de rua do interior na sessão da meia-noite” (ela é ainda do tempo que rua tinha cinema). Nunca aceitou tranqüilamente o discurso do PT, apostava para ver que eles eram iguais, mas percebia-se nos seus olhos a vontade de estar errada. “É, meu filho, o pior da velhice é que a busca por novidades fica cada vez mais árdua”.
O que ela não está achando direito é que só o PT esteja andando pelos esgotos nesta campanha eleitoral. “PSDB, PFL e os demais pararam de fazer o que sempre faziam? Eles furavam os olhos até dos aliados!”. Ela lembra do dinheiro da Roseana, que sacramentou a candidatura de Serra, com apoio do PFL, em 2002. Pergunto se ela acha que o PSDB tinha também seu dossiê. “É o mesmo”, me responde, “esse mafioso, o tal do Vedoin, você acha que ele ofereceu o dossiê só pro PT? Segundo o delegado o negócio falava mal de todo mundo, do PT, inclusive.” Quer dizer, então, que a diferença foi que o PT conseguiu efetivar a compra? “Não vou afirmar nada, porque também não sei de nada. Mas você lembra que o Vedoin queria R$ 20 milhões pelo dossiê? O PT ia pagar R$ 2 milhões. Se ele estava esperando 20 e recebeu 2, não pode estar satisfeito, pode? Pra um vende o dossiê, pro outro, o flagrante, e, se bobear, ganha 40.” Fiquei pensativo. “Conheço o Bornhausen desde a época da ditadura, se quiser pode acreditar nele.”
É, ainda sou mais a dona Emengarda. Por mais que não saiba de nada, tudo o que ela não viu nos seus 86 anos não permitem duvidar dela sem provas contrárias.

Campinas, 26 de setembro de 2006