terça-feira, 26 de dezembro de 2006

O mundo é indie!

O mundo é indie! Ou será que o indie é pop? Foi-se o tempo em que, fora daquele círculo de meia dúzia de iniciados, o que se conhecia de rock dito alternativo era Oasis, a música do Carlinhos, o clipe do Bitter Sweet Simphony e a música do Fifa Soccer. Aqueles iniciados, diga-se de passagem, que não só sabiam toda a discografia do Sonic Youth, a formação do Pavement e a data do último show do Pixies, como também liam Kerouac e eram fãs de Trainspotting. Usar tênis All-Star e camiseta “estilosa” eram o sinal de que ali se encontrava um indie, por mais que ele insistisse que não era.
Mas as coisas estão mudando. Creio que começou com a moda emo, que não foi nenhuma moda que arrebatou multidões, mas fez um monte de adolescentes que assistiam Malhação e MTV e precisavam parecer moderninhos trocarem o sertanejo pelo rock – até então tido por alternativo, uma vez que ninguém nunca tinha ouvido falar em Get Up Kids, Sunny Day Real State, Gloria, Ataris, felizmente! Foi quando All-Star e presilhas viraram pop.
Então vieram os Strokes, tornando pop o tal de “garage revival”, até então confinado a shows de garagem. Foi quando o All-star e estilo anos 60, que os indies tentavam garantir como marca diferenciadora, começaram a ganhar espaço lentamente. O All-star já há um bom tempo não é sinal de nada – tanto é que foi substituído pelo Converse, que logo, logo segue a mesma trilha. Já o estilo anos 60, ou a roupa “estilosa” (como dito acima) começam a virar padrão por estes tempos.
Camisetas típicas de indies hoje são encontradas em qualquer loja – não é necessário mais ir a uma loja especializada ou a um festival com suas tendinhas de roupa. Uma camiseta básica de uma marca qualquer tem desenhos que parecem feitos pela Mono, o saquinho de chá vem com um desenho que parece o símbolo do barzinho indie Mondo 77, em Campinas.
Pobres indies (os originais). Devem sentir falta do tempo em que encontrar alguém com seu estilo era garantia de poder conversar sobre cultura pop, Lichtenstein, Bukowski, David Lynch e bandas desconhecidas (hoje até Sebastião Estiva já é pop!). Se bobear, hoje em dia, indie que é indie precisa afirmar sê-lo.

Campinas, 26 de dezembro de 2006

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Estelionatos

Em 89 Collor foi eleito para caçar marajás, nem bem assumiu e já foi abocanhando a poupança da classe média. Em 94 os dedinhos de FHC não falavam em privatização, mas seu primeiro mandato se resumiu quase que à venda de estatais para financiar batatas Pringles a preços acessíveis e as compras em Miami dos novos ricos e da classe média deslumbrada. Dizia querer acabar com o legado getulista, o Estado pai dos pobres. Conseguiu, substituindo-o por um Estado mãe dos ricos (e sócia prioritária dos amigos do presidente). Era para o bem dos brasileiros, que tão bem perceberam esse bem a ponto de hoje a grande maioria da população seguir sendo contra as privatizações. Em 98 veio a reeleição para manter o (falido) plano real, que sequer chegou ao final do primeiro mês do segundo mandato. Em 2002 veio a vitória da esperança sobre o medo, mas Lula se mostrou o governo mais medroso, mais pusilânime da nova república – teve uma política externa mais independente, mas internamente foi completamente subserviente aos donos do poder.
Com esse histórico, já era tempo de aprender alguma coisa sobre o sistema representativo brasileiro, mas muita gente insiste em ter fé no santo do pau oco, e passada as eleições mais do que indignação, o que se vê é surpresa.
Em 2006 Lula assumiu o discurso ou eu ou o caos, utilizado por Serra em 2002 (é certo que Lula foi menos grosseiro, e não apelou para a Regina Duarte): ao pintar diabolicamente Alckmin como O privatista, conseguiu fazer com que o candidato tucano tivesse menos votos no segundo turno do que no primeiro turno. Muita gente – gente ilustrada – engoliu esse discurso. Me criticavam durante o segundo turno por eu dizer que, salvo a política externa, os dois eram idênticos (dois malufistinhas: rouba mas faz, Rota na rua, a imprensa me persegue) e, portanto, tanto fazia quem vencesse.
Mas venceu Lula, e com isso extirpa-se o risco de novas privatizações, certo? Certíssimo, dirão muitos petitas. O que o governo Lula está planejando não é privatizar as rodovias, tal qual noticiado pela imprensa, mas repassar a administração delas à iniciativa privada. Privatizar é coisa do neoliberalismo tucano, o neoliberalismo petista fala em parcerias! E olha que ainda sequer começamos o segundo mandato, nem se trata de nenhum tema espinhoso! Brasileiro está acostumado a pagar pedágio, pode-se mostrar meia dúzia de experiências bem sucedidas feitas pelos tucanos em São Paulo, e estão dissolvidos os mal-entendidos. Imagina o que não pode estar em gestação para o início do ano que vem, quando PT-PMDB chegam unidos no congresso para uma nova legislatura.
É por essas e outras que digo que eleição no Brasil é como ópio: vicia, dá três segundo de alegria, depois vem aquela ressaca gigantesca, e a gente passa o tempo todo correndo atrás daquele primeiro efeito (no caso, do quase efeito do Lula Lá, de 89). Por isso que defendo abstinência – a ressaca é a mesma, mas não há a decepção de se dar conta de ter caído, uma vez mais, no conto do vigário.
Por fim, de que adianta participar das eleições de sistema representativo em que o candidato não cumpre o que promete e faz o que não prometeu?

Campinas, 04 de dezembro de 2006