Além das medidas tomadas pelo governador (mudança na composição do CRUESP, contingenciamento de verbas das universidades, necessidade de autorização do governo para mudanças nos gastos das universidades), soma-se a proximidade da data tradicional para reivindicações salariais (normalmente começa em março/abril), que sempre trazem a discussão da necessidade de aumento na participação do ICMS. Ou seja, é a oportunidade das diversas correntes de pensamento discutirem suas idéias sobre o ensino superior público, a relação das universidades com Estado, sociedade e mercado; financiamento, pedagogia e funções de uma universidade pública. Debates esses que nunca acontecem realmente, por só surgir em momentos extremos – como as greves e/ou paralisações por reajuste salarial –, em que os professores ditos de “esquerda” querem greve – antes por hábito do que por ser a melhor alternativa para conseguir os reajustes –, e rejeitam discutir qualquer coisa antes de ter a greve por ponto comum; enquanto os professores ditos de “direita” – alguns por não quererem perder as férias, outros por não julgarem oportuna a greve – são recusados desde o princípio sua entrada no possível debate.
Como o movimento contestatório não sabe agir, apenas reagir (ou então haveria uma discussão ampla sobre ensino superior, com propostas de mudanças, há pelo menos dez anos, e não somente depois da proposta do governo Lula ter sido levada ao congresso), as decisões tomadas pelo governo José Serra dão a chance de uma reação que, se conseguir ir além da mera questão pontual, será de grande proveito para o ensino superior brasileiro – uma vez que as universidades paulistas, com 45% da produção científica nacional, são uma referência no país. Resta saber se os professores das três universidades saberão ir além do estímulo-resposta, e questionarão, para além da autonomia universitária, formas de financiamento, a forma como capital privado tem adentrado a universidade pública, ao mesmo tempo que a população sem capital tem sido privada da universidade. É a hora de se questionar o modelo “consagrado” de universidade: vestibular, modo de ingresso, grades curriculares – a UFBA dá um grande passo além nesse quesito, e já é tempo das universidades paulistas, famosas por sua postura mais aberta, tentarem algo no mesmo sentido –, a prática de resolver os problemas que surgem com arremedos pontuais, como as fundações, cursinhos para alunos carentes, ou pontuação extra no vestibular.
A oportunidade foi dada. Se não for aproveitada, e se a partir de agora o ensino superior em São Paulo continuar decaindo, ou se aumentar sua taxa de decadência, a culpa não vai poder ser atribuída ao governo Serra ou a qualquer fator externo à própria universidade.
PS: é curioso que um partido famoso por defender a autonomia completa do BC defenda o aumento à restrição às universidades sob a alegação de que "as universidades não são ilhas isoladas. Elas devem estar abertas à sociedade, buscar o entrosamento e o governo é um instrumento importante para isso", como disse à Folha Aloysio Nunes Ferreira. Com todas as medidas tomadas, resta a dúvida do que seria essa tal de “sociedade” que o governo quer entrosar com as universidade.
Pato Branco, 03 de fevereiro de 2007