segunda-feira, 15 de março de 2010

Passeio pela blogosfera política

Não tenho o hábito de acompanhar a blogosfera política. Não só por não gostar de ler no pc, como porque - me parece - boa parte dos blogues é requento de pressupostos e preconceitos, e porque o número de blogues é enorme e eu não faria outra coisa na vida, caso resolvesse seguir apenas os principais. A leitura diária da Folha me parece dar alguma precária (porque a qualidade do jornal está cada vez mais lastimável) noção do que acontece por aí - não que eu acredite em tudo. Eventualmente leio algo no Fazendo Média, Observatório da Imprensa, New York Times, Finantial Times, Apocalipse Motorizado.
Dia desses, dando uma fuçada nos favoritos do meu pai, vi alguns blogues de jornalistas que me parecem sérios. Resolvi, então, acompanhar, dentre outros, o blogue do Paulo Henrique Amorim. Confesso que fiquei decepcionado: encontrei ali o Gre-nal (ou Fla-flu, se preferirem algo mais carioca) que situação, oposição e imprensa (golpista, conforme Amorim) querem (e precisam) para manter tudo como está. Gritos de torcida, hinos contra o adversário, muita fala inflamada e reflexão primária, precária, quando não inexistente.
Nessas horas lamento que convites à reflexão política, como os que Maria Ines Nassif faz toda semana, sejam extremamente raros.

Campinas, 15 de março de 2010.

publicado em www.institutohypnos.org.br

quarta-feira, 10 de março de 2010

O fim do encarte

Minhas ex-namoradas, depois de terminarem comigo, costumavam me dar um cedê do Pato Fu. Não, não se tratava de uma dose extra de sadismo: eu gostava mesmo da banda e acontecia deles lançarem álbum novo mais ou menos na mesma época – todo mundo costuma ter uma queda por coisas de qualidade questionável, como Pato Fu, Girls Against Boys, Del-O-Max ou comida do bandejão. Minha última namorada rompeu com esse hábito: bem que eu esperei, mas nada dela me presentear com o último disco da banda – isso já faz dois anos.
Retomo o lançamento de um disco já velho (para os parâmetros da sociedade atual) porque só lembrei disso dia desses. Fui ver de comprar o disco: R$ 25,00. Já há um bom tempo que não pago mais do que dez reais por um disco – desde que descobri as promoções da gravadora Trama. Optei, então, por baixar da internet, como é o mais comum de se fazer hoje. Admito que fiquei um tanto chateado por isso. Não por estar cometendo um “crime”, definitivamente. Um artista viver da arte é para poucos e em poucas épocas: se um artista diz que vai se sentir desestimulado a produzir por conta da “pirataria”, é de se questionar se se trata realmente de um artista, ou não seria apenas um operário da indústria cultural – daí, até melhor que pare mesmo de (re)produzir.
Minha chateação se deu, primeiro, por causa da qualidade do som: o som do computador, a não ser que se tenha excelentes acessórios, é bem mais fraco do que o de um aparelho de som mediano (os entendidos dizem que a diferença do cedê pro vinil já é uma queda medonha de qualidade). Segundo, por não ter o encarte. Há encartes e encartes. Muitos – a maioria – são dispensáveis. Mas há aqueles que são imprescindíveis: o disco possui uma concepção estética que vai além do som e das letras, passa também pelo visual. Ok computer, do Radiohead, de 1997, para mim é o melhor exemplo. Em mp3, essa outro aspecto do disco, da banda, se perde. Por fim, não sei se é só comigo – creio que não –, computador é um aparelho multi-tarefas compulsório: não consigo ficar parado em frente a ele apenas aproveitando a música.
Não lamento a emergência do mp3 e o fim do cedê, o que me pergunto é se não haveria como transpor para o mundo virtual essa outra dimensão dos artistas musicais, perdida com o fim dos encartes.

Campinas, 10 de março de 2010.

publicado em www.institutohypnos.org.br