sexta-feira, 26 de março de 2010

Folha, PSDB e o discurso de imparcialidade

Dos jornais diários e pretensamente sérios que mal-e-mal conheço, Gazeta do Povo, de Curitiba; Correio do Povo (pré-Universal), de Porto Alegre; Correio Popular, de Campinas; Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, considero a Folha o melhor. Não, isso não é um elogio, é uma frase de desespero.

Leio a Folha desde 1996 e acompanho in loco sua decadência. Por um tempo imaginei que se tratava de amadurecimento meu – afinal, em 1996 eu não tinha 15 anos –, porém é evidente que se trata mesmo de demérito do jornal.

Além de ter perdido uma série de bons – ainda que controversos – colunistas ao longo desse tempo, a Folha tem cometido quase que semanalmente erros os mais elementares a qualquer cartilha de jornalismo, e mesmo ao seu manual da redação. Exemplos há aos borbotões: editoriais com referência ao “aiatolá Stedille” ou à “ditabranda brasileira”, artigos sobre abuso sexual cometido na prisão pelo presidente Lula, em 1980, algo de conhecimento exclusivo de Cesar Benjamin, negado até pelo suposto abusado.

Mas o que mais tem me irritado é o jornal seguir se dizendo independente e imparcial. Claro, a busca pela imparcialidade é o ideal, mas chegar a ele é impossível. De qualquer forma, um primeiro passo para quem almeja isso é admitir sua parcialidade. A Folha é claramente um jornal liberal demi-conservador, com grandes afinidades com o tucanato paulista. Isto é uma constatação, não uma crítica, e não implica necessariamente que o jornal seja partidário, mero propagandista do PSDB. Ao subestimar a inteligência dos seus leitores, porém, essa imagem se reforça a cada dia. Como as reportagens favoráveis à rede estadual de educação que têm pipocado em suas páginas.

Todos sabem que a condução da educação nos governos tucanos é temerosa, não só no estado de São Paulo como em nível federal, impossível de ser defendida por quem seja, além do Paulo Renato e dos donos das instituições privadas – e olhe lá. O Anderson reiteradamente trata do tema na Hypnos. Mas eis que Folha descobre que há pontos positivos, que nem tudo está perdido, muito pelo contrário: a salvação está próxima – talvez em outubro, é o que se pode deduzir. Se a Folha acredita mesmo que educação pública paulista não é uma lástima, cabe então informar seus leitores quantos (e quais) dos cabeças do jornal possuem filhos em escolas estaduais. Até lá, não adianta vociferar contra quem acusa o jornal de parcial e partidário.


Campinas, 26 de março de 2010.


publicado em www.institutohypnos.org.br

segunda-feira, 15 de março de 2010

Passeio pela blogosfera política

Não tenho o hábito de acompanhar a blogosfera política. Não só por não gostar de ler no pc, como porque - me parece - boa parte dos blogues é requento de pressupostos e preconceitos, e porque o número de blogues é enorme e eu não faria outra coisa na vida, caso resolvesse seguir apenas os principais. A leitura diária da Folha me parece dar alguma precária (porque a qualidade do jornal está cada vez mais lastimável) noção do que acontece por aí - não que eu acredite em tudo. Eventualmente leio algo no Fazendo Média, Observatório da Imprensa, New York Times, Finantial Times, Apocalipse Motorizado.
Dia desses, dando uma fuçada nos favoritos do meu pai, vi alguns blogues de jornalistas que me parecem sérios. Resolvi, então, acompanhar, dentre outros, o blogue do Paulo Henrique Amorim. Confesso que fiquei decepcionado: encontrei ali o Gre-nal (ou Fla-flu, se preferirem algo mais carioca) que situação, oposição e imprensa (golpista, conforme Amorim) querem (e precisam) para manter tudo como está. Gritos de torcida, hinos contra o adversário, muita fala inflamada e reflexão primária, precária, quando não inexistente.
Nessas horas lamento que convites à reflexão política, como os que Maria Ines Nassif faz toda semana, sejam extremamente raros.

Campinas, 15 de março de 2010.

publicado em www.institutohypnos.org.br