domingo, 31 de outubro de 2010

A queda da Folha conforme a decadência dos seus ombudsmen

É possível notar a decadência da Folha de São Paulo nos últimos anos pelo nível dos seus ombudsmen. Sou eufemístico ao falar decadência, mais condizente é dizer seu despencamento de qualidade. Decadência era no início da década, quando parecia que havia possibilidade de reversão relativamente tranqüila.

Os últimos jornalistas a ocuparem o cargo apenas atestam o caminho da Folha rumo ao título de veículo mais mau caráter da Grande Imprensa – o que tem algo de honroso, dada a qualidade dos adversários, convenhamos. Eles realmente imaginam que alguém minimamente vivo acredita que eles são plurais, imparciais, independentes? E como já disse alhures, não vejo ser parcial como algo necessariamente negativo – até porque não creio na imparcialidade. Contudo, tampouco acho louvável a busca pela parcialidade, como é a tônica na internet.

Mário Magalhães era um ombudsman moderado, mas mesmo assim, por desagradar ao chefe, seu mandato acabou não sendo renovado ao fim do primeiro ano. Carlos Eduardo Lins da Silva parecia mais um office boy – moço de recado, como chamam em Portugal – do que ombudsman: levava e trazia mensagens dos leitores e do jornal pra lá e pra cá, pouco acrescentava.

Já Suzana Singer só não beira o patético porque o que ela faz como ombudsman é patético. Ela simplesmente inverteu o que faria o ombudsman: ao invés de fazer a crítica do jornal a partir do que recebe dos leitores, ela defende o jornal das críticas dos leitores! E defende de maneira muito pobre, o que é pior. Diz ela em sua coluna do dia 31 de outubro que a cobertura do jornal, depois de escorregadas (escorregadas? Eram tombos!) no primeiro turno, foi equidistante com relação aos dois candidatos no segundo. Aham. Numa eleição que mais parecia ser pela paróquia de Aparecida do que pela presidência do Brasil, na capa de 12 de outubro o jornal mostrava Dilma não comungando, ao contrário de todos ao seu redor; já na capa do dia 29, a foto era de Serra beijando uma Santa. Se isso é equidistância, Singer deveria explicar o que é “equidistante” na novalingua da Folha, que não achei a definição no seu Manual de Redação.

Se Folha um dia quiser provar que não é tão mau caráter assim e não tenta enganar seus leitores, que nomeie para o que eles chamam de ombudsman a Eliane Catanhêde, ou o Clóvis Rossi, ou o Otávio Frias Filho de uma vez, por que não? Aí, então, podemos conversar.

Campinas, 31 de outubro de 2010.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Falta de educação

Lembro da primeira vez que assisti a uma orquestra sinfônica ao vivo. Cidade do interior, há dez anos uma sinfônica não pisava por lá, o maestro achou por bem pedir que não aplaudissem entre os movimentos. Começou com Mozart, não lembro o que. Ao final do primeiro movimento, aplausos esfuziantes de boa parte da platéia – deste escriba, inclusive. Espertinho, imaginei que o maestro não ter agradecido devia ser sinal de que aplaudíamos na hora errada. Esse tipo de educação, de etiqueta, se aprende mesmo com o uso.

Com o advento do correio eletrônico, aquele cabeçalho de carta caiu. Salvo um professor aposentado da Unicamp que ainda punha “Paris, data tal do ano tal” (será que era só para ele dizer que estava passando uma temporada em Paris?), começa-se logo com um “eae’smaluco”, ou um “olá, tudo bem”. A carta tradicional, em compensação, até ano passado, ao menos – que até 2009 eu ainda trocava cartas com alguns amigos –, seguia com o tradicional cabeçalho.

O Orkut dispensou até o olá e o sds do final dos e-mails, que atualmente já vão dispensando tais “formalidades”. Porém não se pode fazer o mesmo nos mensageiros instantâneos – falta de educação que eu reiteradamente acabo por cometer.

Etiqueta que eu ainda não consegui descobrir é o que fazer quando comentam texto meu por aí, em fórum aberto. Se o fazem privadamente, fácil: é um correio eletrônico, respondo – ainda que por vezes leve dois meses para enviar a resposta, o que acaba por ser quase tão mal-educado quanto a não-resposta. Agora, e comentário em blogue? Se é um mal entendido, um convite à peleja, há, sim, o que responder. Porém, quando se trata de um comentário mais tranqüilo, um gostei, um interessante complemento – como o do Anderson em meu último texto –, o que responder? É um pouco da minha dificuldade em lidar com elogios, e dizer simplesmente obrigado; um certo senso de utilitarismo estrito (nem sempre seguido) nos comentário, em que um valeu só para dizer que li o comentário me parece dispensável – porque é óbvio que li e que gostei do elogio. Isso pouco importa: se é essa a etiqueta, já há um bom tempo sou um baita de um mal educado virtual.

Num eventual próximo comentário, a me surgir novamente tal dilema, não me tendo ainda decidido o que fazer, remeterei a este texto: lê lá, eu me enrolo, me enrolo, me enrolo, mas no fim digo obrigado.

Campinas, 29 de outubro de 2010.