segunda-feira, 5 de setembro de 2016

"Fora Temer": O Cavalo de Tróia que os golpistas precisam [O Brasil para amadores]

Com 10% de aprovação, segundo o Ibope, apesar de toda a blindagem da grande mídia, o presidente golpista Michel Temer precisa de um milagre para não ser o próximo ex-presidente da República Bananeira do Brasil já em 2017. Ele é só o espantalho útil pro momento, e os donos do poder não terão nenhum remorço em ejetá-lo do Planalto dia 2 de janeiro de 2017, e promover uma eleição indireta para presidente. A grande preocupação do neoditadores que se escondem atrás de Temer é segurá-lo até 2017.
A equação é simples: Temer, impopular, vai apelar mais e mais para a repressão para se segurar no poder, enquanto as barbaridades são encobertas pela grande imprensa. Quando dezembro chegar, será hora de mostrar toda a revolta das ruas, pedindo "Fora Temer", em janeiro, os nobres deputados e nobres senadores ouvirão as vozes das ruas e farão o impeachment do golpista. A narrativa oficiosa será de que o parlamento (atenção para o uso intensivo desse termo, ao invés de legislativo) democraticamente eleito novamente ouviu a população e fez a vontade do povo. Botarão no Palácio do Planalto um nome com algum respaldo popular, de modo que os protestos arrefecerão, podendo diminuir o nível de repressão e partindo para ataques mais pontuais, a supostos "terroristas", conforme a nova Lei de Segurança Nacional.
Contratempos nesse caminho: quatro são os principais empecilhos dos golpistas para a consolidação do golpe: 1) a pressão das ruas ser tão grande, apesar da escalada da violência do Estado, que Temer caia antes de 2017; 2) a mudança do slogan-chave das manifestações de "Fora Temer" para "Diretas Já", desarticulando o discurso golpista de 2017, e podendo fazer o novo presidente perder respaldo popular que o "Fora Temer" garante quase que automaticamente; 3) os custos políticos da repressão policial serem altos demais e os governadores começarem a dar para trás (Alckmin, por exemplo, já tem um saldo negativo de 10% entre os que acham seu governo bom e os que acham ruim), e Temer apelar para o exército, que pode rachar (há ao menos duas alas bem delimitadas dentro do exército) ao ir para as ruas novamente - ainda que não admitam, 1964-85 tem sido bastante custoso à imagem das forças armadas -; 4) a pressão internacional crescer, partindo também de países importantes da Europa.
Tão importante quanto Temer sair, é a eleição do próximo presidente da república por sufrágio popular direto (idealmente, do legislativo também, mas sejamos realistas, e por ora conseguir só para o executivo já é um grande avanço).
DIRETAS JÁ!
CONSTITUINTE EXCLUSIVA PARA REFORMA POLÍTICA!

 05 de setembro de 2016


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O dia-seguinte do golpe: não chamem o ladrão (nem a polícia) [O Brasil em tempos de cólera e golpe]

Cinco da tarde do dia seguinte ao golpe de Estado no país - que por ora não é uma ditadura, dizem, afinal, não cancelou partidos e direitos políticos e afirmam que em 2018 teremos eleições para presidente. Em casa, não consigo ler, escrever e o pensamento gira em falso; decido dar um rolê por Sampa, sentir o clima da cidade, tratar de algumas pendências e, talvez, encontrar uma amiga. Não tenho ânimo para encarar um protesto, decido evitar a Paulista e sigo sentido Sé. Próximo da minha casa há um batalhão da polícia militar. Muitas muitas muitas viaturas e motos - estacionadas nas calçadas, apesar do grande fluxo de estudantes, afinal, a lei não vale para todos - e muitos muitos muitos policiais (é mais de uma quadra passando por um corredor polonês de militares esperando a hora de irem para a caçada). Por todo o aparato, a impressão que se tem é que há uma rebelião geral no Carandiru, e não apenas no Pavilhão 9. Estamos em 2016, não há mais Carandiru - mas os 111 mortos continuam! -, e hoje a rebelião atende pelo nome de democracia: algumas pessoas que vão para a rua achando que a constituição federal é algo respeitado (não aprenderam quando justiceiro Moro mostrou que está acima da lei e todos fora do judiciário estão vulneráveis aos seus arbítrios, até mesmo ex-presidente da república). Os militares parecem descontraídos, afinal, ganham um extra para um serviço sem qualquer risco à sua integridade física, com liberdade para bater em filhinhos de papai que invejam e ressentem, e ainda serão aplaudidos por apresentadores de tevê fascistas e políticos corruptos - só não podem matar, porque estamos no centro da cidade. Nos bairros do Bixiga e da Santa Cecília a vida parece normal - apenas um trânsito mais caótico que o habitual, não sei se fruto do protesto a começar dali uma hora ou dos policiais a postos para evitar o questionamento da ordem pública mesmo ao custo de causar grande desordem pública. O centro novo está hiper policiado, volto a lembrar do Carandiru: os sobreviventes do massacre de 1992 hoje estão aliados aos algozes e indicam ministros e secretários de Estado - bom fosse porque nosso sistema prisional recupera, contudo, isso significa antes o quanto nosso (narco?) Estado está corrompido. Minha amiga não me responde, e vou sozinho assistir a Por + Vir, da Cia de Danças de Diadema, na Olido - não estou no clima, mas o espetáculo é bom e tento abstrair que estamos na ante-sala de nova ditadura, sabe-se lá se de dois anos, duas décadas ou quanto (será que a polícia brasileira vai ser como a mexicana, e entregar estudantes para o massacre?). Ao chegar em casa, ligo o computador, dou uma olhada nas notícias: vejo que Alckmin, o Milosevic Bandeirante, proibiu protestos na Paulista, domingo, quando há um grande ato marcado, e que Temer, o Golpista, para ajudar o ex-chefe de seu ministro da justiça (ex-advogado do "Partido"), autorizou o exército a coibir manifestações contra a sua democracia. Mas não é golpe, é só uma questão de manter a ordem e o progresso - e cada um obediente e submisso no papel ditado pelo chefe. Há também uma mensagem da minha amiga: estava no centro de São Paulo, o centro hiper-policiado desta quinta, com centenas de militares de prontidão, indo ao meu encontro, quando teve o celular furtado. Ladrões, nas histórias da carochinha, têm medo da polícia. No Brasil de 2016, minha amiga, pessoa razoável, ao invés de pedir ajuda a um dos muitos PMs que estavam na rua, achou mais seguro voltar para casa.

01 de setembro de 2016.