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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Debate em SP: os presentes ganharam, a democracia perdeu

O primeiro debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, realizado pelo grupo Bandeirantes (um dos cinco Berlusconis do Brasil, não esqueçamos) na segunda, dia 22, não trouxe grandes surpresas nem grandes embates: os cinco presentes estavam ali para marcar posição, tentar garantir os eleitores que já tendem a neles votar. Analiso o desempenho de cada um a seguir.

Erundina, PSOL
Não esteve presente no debate, por conta da cláusula de partido (no mínimo 9 deputados federais ou então aprovação de 2/3 dos demais debatedores) que, se excluiu Erundina, também não deu voz a Ley Fidelix (aquele que em 2014 nos ensinou que sistema excretor produz partidos e candidatos). Não há como negar que perderam todos, eleitores, candidatos e nossa democracia-na-UTI. Curiosamente, quem parece ter se dado melhor com sua ausência foi justo Haddad, que defendeu sua participação.

Major Olimpio, SD
Tanto quanto a ausência de Erundina, deve ser sentida a presença de Major Olimpio, do SD (seria SD ou SS?), partido do notório Paulinho da Farsa Sindical. A presença dele não somente no debate, mas no pleito, é uma grave sinal da qualidade da nossa democracia e da nossa sociedade: Major Olimpio tem um discurso de ódio de clara inspiração nazi-fascista, apenas atualiza os termos: de "ratos" para "câncer" e "metástase"; sua proposta é militarizar e hierarquizar a sociedade, enquanto extingue qualquer contestação - fez questão de associar movimentos sociais ao tráfico de drogas e a população carente e da periferia ao PCC (mas ignora que o ministro da justiça (sic) do governo golpista foi advogado do "partido"). Termina sua fala falando em "força e honra", dois termos bastante afins aos regimes totalitários do século XX, além de várias vezes dizer que a cidade é terra sem lei e que vai "impôr" a lei - "tolerância zero". Tem como propostas repressão ampla e extinção do PT (provavelmente porque falar em extinguir a democracia não cairia bem). 

Doria Junior, PSDB
Em fevereiro, quando PSDB hesitava entre Doria e Matarazzo, eu dizia que "João Doria Junior seria a assunção do papel de legenda proto-fascista" e que o PSDB deixaria, definitivamente, de ser uma opção democrática. Faço uma correção: substituto o "proto" por "neo". O PSDB de São Paulo é um partido neofascista. Doria Junior claramente desdenha da política, dando novo alento à tarefa que o PSDB se põe há tempos, de esvaziar a esfera pública de toda e qualquer política. Doria Junior chegou a soltar o velho conhecido "nada contra, mas...": "não desrespeito os políticos, mas...", mas é isso que fica claro na posição atual do PSDB: sai o gerente, entra o patrão, e a política é varrida para longe de qualquer horizonte - temerosos tempos nos aguardam. Um partido que nega a política é um partido que bebe do fascismo - ainda que o PSDB tenha suas idiossincrasias, como ser anti-nacionalista. Doria Junior, a exemplo do candidato do SD (SS?), buscou marcar presença como candidato de extrema-direita e anti-PT: em todos os blocos o candidato tucano atacou o PT, no primeiro bloco os dois chegaram a rivalizar no discurso de ódio, a seguir Doria Junior diminuiu um pouco o tom, deixando ao PT a responsabilidade por ter "destruído o Brasil"; encerrou suas considerações finais não com uma mensagem positiva, como publicitários geralmente defendem, mas com mais ataques e ódio ao PT - outra figura lastimável que São Paulo apresenta ao Brasil.

Russomano, PRB
Russomano era quem mais tinha a perder com o debate, por ser líder e por ser fraco - já provou em 2012 e já deu mostras em 2016. Faltar, como havia ameaçado, o tornaria alvo fácil dos adversários - fez bem em comparecer. Apagado, falou pouco, e conseguiu, ao que tudo indica, se safar. Por ser o adversário ideal no segundo turno, foi também poupado por todos. Com entonação muito próxima a dos pastores televisivos, evitou se apresentar como candidato anti-PT, ao mesmo tempo que assumiu discurso de direita, falando em gestão, redução de impostos, liberdade de mercado (para a construção civil). Em suas considerações finais, fez um discurso de candidato próximo do povo e dos seus problemas, por ser apresentador de tevê e brigar pelos seus direitos de cidadão (sic), foi o único a marcar tal proximidade (ao menos a conseguir, Doria Junior foi risível ao dizer que vai fazer uma gestão na rua). Por fim, se apresentou como "zelador de São Paulo": um papel condizente com sua presença apagada, o que pode ser bastante perigoso (para o candidato): um homem como eu e você tem condições de ser prefeito? Lula tem má-recordação de discurso desse tipo. Além do mais, zelador é uma figura um tanto subalterna, que cumpre ordens e faz pequenos consertos, mas não tem autonomia para realizar grandes mudanças. A ver se esse seu discurso não lhe custa votos - se correr o risco de ficar fora do segundo turno, passa a ser alvo preferencial dos adversários.

Marta, PMDB
Confesso ter me surpreendido com a Marta, imaginava que ela seria mais crítica a Haddad e ao PT, apelando para a baixaria. Não foi. No debate tentou se apresentar como a velha Marta de 2004, a Marta petista - talvez tenha notado que tentar disputar os votos do anti-petismo com a extrema-direita seria tarefa inglória -, apenas se corrigindo em criar taxas e impostos. Seu anti-petismo ficou na discreta consideração final, em que se disse capaz de "acolher todos os cidadãos", o que faz coro com o discurso da grande mídia e da extrema-direita, de que o PT dividiu o Brasil e governa só para alguns - ao que tudo indica, vai guardar o anti-petismo para quando falar diretamente com anti-petistas, como os leitores do Estadão. Acenou com a direita em pouco pontos, como na defesa da repressão na região central de São Paulo como política anti-drogas; preferiu marcar sua experiência e fazer um discurso para a periferia. O que mais chamou a atenção durante o debate, contudo, foi a quantidade de vezes que usou "eu": sua forma ultra-personalista de fazer política é bem aceita na tradição política do país, e sua força nestas eleições vem justo daí (Doria e Olimpio foram pelo mesmo caminho, mas sem toda ênfase no "eu" porque tinham que atacar o PT).

Haddad, PT
Haddad era quem mais tinha a ganhar com o debate: por ser o governante de turno tem mais que promessas a fazer, mas como é boicotado pela grande imprensa, pouco espaço teve para notícias positivas durante seu mandato - seu marketing também parece ter sido falho, ao não se centrar em propaganda intensiva nos veículos tradicionais durante os quatro anos (tenho cá minhas dúvidas se não foi decisão tática). Soube usar o debate para elencar suas ações nos três anos e meio à frente da prefeitura: citando obras e localidades e bairros, ao invés de falar genericamente em "periferia" ou zona leste, oeste, norte, sul, seu discurso foi direcionado para as periferias citadas, com o objetivo de marcar para seus moradores o que são ações de seu governo. A tentativa desesperada da extrema-direita de colá-lo ao PT (e o PT à corrupção) demonstra minha tese de que ele conseguiu construir sua imagem acima da do partido. Foi o único candidato a falar "nós" e não "eu", ou seja, o único que assumiu a política como construção coletiva (seja de um equipe, de um partido ou da população) e não como desejo voluntarioso de um governante benfeitor - uma sutileza política talvez pouco notada, mas que parece ser um dos responsáveis pela sua (alardeada) baixa aprovação. Destaque para quando resolveu não responder Major Olimpio e sim desmascará-lo no que chamou de "provocação": não apenas por dizer que todos os partidos e corporações têm corruptos (Major Olimpio babou de raiva quando Haddad falou que havia PMs corruptos) e devem ser punidos, mas por recusar entrar nos termos postos pelo major da SS, digo SD.

Enfim, pode-se dizer que todos os candidatos presentes ganharam com o debate, em que pouco, quase nada, se debateu, o que talvez explique seu "bom" nível. A ausência de Erundina e a presença de Major Olimpio e Doria Junior, entretanto, podem ser encarados como uma grande derrota da democracia e da população da cidade. Há ainda cinco debates pela frente, e é de se esperar que o nível caia muito - resta-nos torcer pra que nossa democracia-na-UTI resista.

23 de agosto de 2016

Erundina, apesar de sua relevância política, foi barrada do debate por Marta, Doria e Olimpio

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Eleição paulistana: disputa pela sobrevivência

Desde a ascensão do PT ao executivo federal os analistas políticos da grande imprensa (que entendem tanto de política quanto Miriam Leitão de economia e eu de modelagem teórica em monocamadas anfifílicas) tentam ligar as eleições municipais a uma prévia da presidencial de dali dois anos, como se fosse um equivalente às eleições legislativas de meio de mandato no Estados Unidos. Erram sempre, claro, porque o objetivo é criar uma narrativa de início de decadência do PT, que se consumaria na próxima eleição federal. Nas eleições de 2016, por conta da polarização política conseguida pela extrema-direita (bem ao gosto do fascismo e nazismo do século XX), consagrada com o golpe de estado encabeçado por Temer e Serra, e com o desenho institucional de uma "ditadura pós-moderna de linhas neofascistas", ao menos nas grandes cidades, talvez a política federal tenha  - finalmente! - alguma relevância na decisão do eleitor. Entretanto, na principal cidade do país, São Paulo, o que chama a atenção é o enredo de reality show que a eleição deve ganhar. Não se trata apenas de vencer a disputa, mas de sobrevivência política. Com um adendo a mais: não se sabe se e em que condições o vencedor concluirá o mandato, ainda mais se for Erundina ou Haddad.
Em fevereiro, quando Datena desistia da disputa e Erundina ainda não era cotada, Haddad podia ser considerado favorito [http://j.mp/cG160201]. Com o grau de perseguição e ódio ao PT que superou as expectativas dos mais entusiastas goebbelsianos e a entrada de Erundina, a situação se complicou ao atual prefeito, que está longe de ser carta fora do baralho, ao contrário do que apregoa a grande imprensa. Convém lembrar que os institutos de pesquisa tem índice de acerto de 0% nas suas pesquisas de boca-de-urna (como bolão, Ibope, DataFolha e afins chegam perto dos 50%, mas pesquisa estatística e bolão são significativamente diferentes [http://j.mp/cG10410]). Não por acaso, pesquisas internas de partidos e candidatos são feitas por outros institutos, que numa estratégia de mercado optaram por não divulgar resultados na imprensa, e garantir seu ganha pão com índices de acertos relevantes (ouvi isso de um professor de estatística, dono de um desses institutos menores mas mais bem conceituados). Mesmo assim admito; é difícil pensar que tudo o que se vê na grande imprensa sobre as pesquisas de intenção de voto seja mentira - mas ouso dizer que se não é tudo é quase tudo: o The Intercept mostrou como Folha de São Paulo não tem nenhum pudor em manipular e distorcer dados (Globo, Veja e quetais menos ainda) [http://bit.ly/2bcjdbG]. Enfim, faço uma breve análise dos principais candidatos do pleito:
João Doria Junior, PSDB: o azarão
Dos principais candidatos, apenas Doria Junior pode perder: o PSDB não possuía nome para a disputa (graças a seus caciques personalistas, que não permitiram a emergência de outras lideranças), e Doria Junior foi ungido para ser escada do Milosevic bandeirante, Alckmin, no seu plano de alcançar a presidência de nossa república bananeira. Disputa a prefeitura para ganhar visibilidade com vistas à eleição estadual em 2018 (se houver eleições em 2018). Tem pequena chance como voto útil contra as esquerdas, caso Russomano abra a boca e desidrate, como em 2012, e Marta não consiga anular o fato de ser ex-petista. Seu veto a Erundina participar dos debates televisivos mostra que sua preocupação maior é combater as esquerdas e não vencer as eleições.
Luiza Erundina, Psol: para provar que é alternativa
Mais que Erundina, quem testa sua sobrevivência nas eleições de 2016 é o Psol. Vencer a disputa na capital paulista seria sua consagração como alternativa de esquerda ao PT. Ainda que uma derrota não seja desastrosa para a legenda nem para a candidata, dificultará a construção de um discurso para 2018 (se houver eleições em 2018). O problema da candidatura de Erundina é se resolver centrar fogo em Haddad, como alguns de seus apoiadores têm feito: além de ajudar a enfraquecer a esquerda como um todo, num cenário de criminalização goebbelsiana das esquerdas, seu passado tem deslizes que contradizem abertamente seu discurso atual. Seu ponto forte é que deve ter a militância mais aguerrida da disputa, o que pode fazer diferença num eleitor de esquerda hesitante entre ela e Haddad e a força de cada um no segundo turno.
Celso Russomano, PRB: o candidato sabonete não pode falar
Em 2016 Russomano precisa provar que é capaz de disputar de verdade uma eleição majoritária: se fizer o papel de cavalo paraguaio novamente deverá se consolar com eleições legislativas, apenas. Em 2012, tão logo abriu a boca para fazer uma proposta política, perdeu votos e ficou fora do segundo turno. Promete não fazer muito diferente em 2016, de modo que ameaça não participar dos debates no primeiro turno - sua sorte também é o menor tempo de campanha. Tem ido em busca dos viúvos do Datena, assumindo discurso militarizado e de repressão. Uma de suas promessas é de revista geral para garantir que só os "cidadãos de bem" circulem pelo centro da cidade: proposta capaz de desagradar parte de seu eleitorado - pretos pobres periférico - sempre vistos como suspeitos, que ganhariam uma revista bônus da polícia e da GCM, sempre que resolvessem sair de casa. Também pesa contra o político ser do partido da Igreja Universal do Reino de Deus - para sua sorte o pastor-estuprador Marcos Feliciano apenas declarou apoio, não havia chegado a gravar um vídeo. Ainda assim, tem grandes chances de ir para o segundo turno, se ficar quietinho. Ganhar a eleição, dificilmente. Se não cair nas pesquisas, deve ser poupado de ataques no primeiro turno: Marta, Haddad e Erundina sabem da fragilidade do adversário, e que quem for disputar com ele tem boas chances.
Marta Suplicy, PMDB: tudo ou nada
Numa disputa onde todos tem muito a perder, quem está com a pele mais em risco é Marta: derrota em 2016 pode significar o fim da sua carreira política (pressupondo a continuidade de certa democracia). A disputa à prefeitura serve para pôr à prova se seu capital político é mesmo dela, ou é do PT. A sexóloga homofóbica (basta lembrar a campanha contra o Kassab, em 2008) abandonou o PT ressentida e assumiu o discurso mais tacanho da grande imprensa: defendeu a moralidade e o fim da corrupção ao lado de Temer e Eduardo Cunha, se aliou a Serra na entrega do pré-sal, foi voz ativa dos golpistas na farsa do impeachment, e até se disse vítima de "racismo reverso", por ser loira de olhos azuis. Resta saber se isso será suficiente para que ela perca a pecha de petista para o paulistano classe-média típico - até que prove o contrário, Marta é o mais petista dos candidatos. Seu ponto forte está na periferia, ainda em conseqüência de sua gestão à frente da prefeitura, em governo bastante personalista. Ganha votos também graças ao discurso de destruição do PT, e ao erros de publicidade da gestão Haddad. Entretanto, por estar aliada ao que há de mais nefasto na política nacional, pode perder parte do seu capital político numa periferia que não tem vocação para massa de manobra. Deve fazer uma campanha das mais vis, de fazer Regina Duarte mirim no seu discurso do "eu tenho medo", centrando ataque contra Haddad e Erundina.
Fernando Haddad, PT: a negação da tese, novamente?
Em 2012 Haddad já foi a negação da tese da grande imprensa, judiciário e grande capital (o triunvirato da ditadura pós-moderna em que vivemos): mesmo com julgamento do chamado mensalão do PT nas manchetes de todos os jornais, o petista conseguiu ganhar a prefeitura paulistana, derrotando ninguém menos que o cacique tucano José Serra. Mas o discurso de 2012 era primário perto do que foi feito desde então, em especial desde a eleição de 2014: o objetivo não é mais derrotar o PT, mas destruí-lo, aniquilá-lo (ao gosto nazi-fascista de Coronel Mendes, irmãos Marinho, PSDB paulista e asseclas menores). Vencer a eleição de 2016 seria a prova de força do PT, mais que do candidato, apesar de tudo o que tem se passado. A seu favor, Haddad conseguiu construir uma imagem desvinculada do partido, a exemplo de Eduardo Suplicy, vencendo barreiras, inclusive, nos cinturões endinheirados da capital. Sua fraqueza estaria justo onde o PT costuma ser mais forte: nas periferias - ainda mais depois de Erundina ter entrado na disputa. Também é ponto fraco o pouco conhecimento da população acerca das ações de seu governo - ações que não são visíveis, mas são sentidas e foram fácil e rapidamente incorporadas ao dia-a-dia do paulistano, como o bilhete único mensal -, e o tempo reduzido de campanha, aprovado pela mini-reforma eleitoral Cunha-Dilma. Esse desconhecimento, contudo, pode ser o seu trunfo: se conseguir reverter os índices de rejeição que os institutos de pesquisa lhe atribuem e ter um crescimento significativo, é capaz de se tornar uma onda difícil de ser parada - para isso, é importante a militância não aceitar o discurso da grande imprensa de candidato derrotado. Por ora tem centrado ataques em Marta, Dória e Russomano, como forma de não deixar dúvidas como candidato de esquerda.

Com a situação dada, é difícil arriscar um favorito. A grande imprensa fará seu papel: desinformação, boatos, mentiras, acusações e reportagens e entrevistas tendenciosas, com o principal objetivo de tirar os dois candidatos de esquerda do segundo turno. As campanhas oficiais louvarão os pontos positivos de seus candidatos, e na internet, padrão-Veja de ataques e boatos deve ser a norma. Esta é, contudo, uma eleição extremamente peculiar, seja pelo contexto nacional, seja pelo contexto dos candidatos - poderia fomentar um rico debate político, mas tudo o que os donos do poder querem agora é política nos debates. A esperar se e como Haddad e Erundina contornam essa interdição, e são capazes de ventilar um mínimo de inteligência num ambiente marcadamente neofascista.

22 de agosto de 2016



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Eleições 2016 em São Paulo: porque Haddad é favorito

Boa parte das análises que li sobre a disputa eleitoral para a principal cidade do país entoam um réquiem para o atual prefeito, Fernando Haddad. Como embasamento para essa visão, as pesquisas sobre a aprovação e reprovação do prefeito, e umas poucas sobre intenção de voto. Ainda que não considere descartáveis pesquisas de opinião, não me fio muito nelas, visto que Ibope, Datafolha, Vox Populi são especialistas em cometer erros retumbantes a cada eleição [http://j.mp/cG151010e], erros que nada têm de inocente.
Recentemente, o Ibope divulgou uma pesquisa, feita em fins de 2015, com a avaliação dos paulistanos sobre seu prefeito: apenas 13% aprovam sua gestam, com 56% de desaprovação [http://j.mp/20laEzr]. Índice que se aproxima dos apontados pelo Datafolha, em novembro do ano passado [http://j.mp/1TgGJqg]. Em comum aos dois institutos, o movimento de queda da aprovação e aumento da rejeição ao longo de 2015. Sobre intenção de voto, pelo Datafolha de novembro, Haddad estava tecnicamente empatado com Datena (PP) e Marta (PMDB) na segunda colocação, atrás de Russomano (PRB).
A despeito desses números, sigo acreditando que Haddad é o candidato com mais chances de vitória no pleito do segundo semestre, por mais que seu favoritismo seja muito tênue. Me explico.

Os opositores à direita
O PSDB, principalmente o de São Paulo, é a incompetência em partido: desde 2000, só duas vezes o partido teve outro nome que não Serra ou Alckmin em uma eleição majoritária, seja para prefeitura, governo estadual ou senado: nas disputas para o senado de 2002 e 2010, com José Aníbal e Aloysio Nunes Ferreira, quando eram duas as vagas em disputa [http://j.mp/cG150105ms]. Diante da falta de nomes novos de conhecimento público, o partido deverá ser figurante: pode no máximo lançar um candidato com vistas a 2018 ou 2020. Outra opção é a de assumir o papel de legenda de apoio, mantendo o discurso anti-PT, para depois negociar cargos. Uma escolha interessante - não apenas para a disputa como para o próprio partido - essa sobre qual linha o candidato tucano assumirá: se vai manter a retórica raivosa de direita, beirando o extremismo, ou vai tentar se construir com um discurso mais ponderado, buscando o centro, a centro-direita - mais próximo do modelo do "catch-all-party" da ciência política. Pode ser uma verdadeira refundação do partido, ou selar o seu fim enquanto opção política democrática para o país (João Dória seria a assunção do papel de legenda proto-fascista, a espera de Luciano Huck para presidente).
Datena desistiu de seu sonho político, e isso tende a favorecer Russomano. Ambos corriam na mesma raia, a de uma classe-média amedrontada com a possibilidade de perder o que conseguiu a duras penas (dizem). Uma classe-média (que vai da baixa à alta-classe-média) sem qualquer formação política - apesar da sua formação superior -, que entende cidadania como direito do consumidor, e defende a ordem e o progresso - na base do pau-de-arara, se for o caso. Datena seria o legítimo cadidato do público do "bandido bom é bandido morto", enquanto Russomano se vende como tendo o perfil de síndico de condomínio, que chama todos à ordem antes de chamar os militares (da polícia ou do exército), defensor do cidadão-consumidor pagador de impostos. Um PSDB desesperado pode tentar buscar os órfãos do Datena; se não o fizer, eles tendem a votar em Russomano, que deve vencer o primeiro turno - até pelo período mais estreito de propaganda política na televisão. A questão é se o candidato do PRB tem fôlego para um segundo turno. Em 2012, tão logo o candidato-sabonete do partido da Igreja Universal resolveu fazer uma proposta política, definhou espetacularmente. O PSDB pode ser seu fiador num segundo turno - mas isso não somaria muito, visto que essa seria a tendência natural dos atuais eleitores tucanos, movidos antes pelo ódio ao PT do que por alguma causa positiva.
Marco Feliciano, pelo PSC, ameaça disputar. Seria interessante ele como candidato, pois se trata de um nome de projeção nacional (graças ao PT!) que apresenta de forma crua o reacionarismo mais perigoso - sua candidatura poderia dar uma dimensão do tamanho da extrema-direita de maior pureza na principal cidade do país. Poucas chances teria, sua candidatura seria mais para ventilar seu nome para o governo do estado, daqui dois anos. Russomano agradece se ele ficar por Brasília.

A oposição com histórico à esquerda
Marta Suplicy deverá disputar com Haddad a segunda vaga para o segundo turno até o último minuto. Política que, a exemplo de José Serra, tem um projeto pessoal (e personalista) de poder, ganhou guarida no PMDB de Temer, Skaf e Chalita, e já demonstrou, em 2008, ao questionar a orientação sexual de Kassab, que não tem peias éticas para alcançar seus objetivos. A grande incógnita que a cerca é o tamanho de seu capital político na periferia paulistana: quanto é dela, quanto é do PT. É isso que vai fazer a diferença - tanto para concorrer pelo PMDB quanto para chegar ao segundo turno. Apesar de ter saído do PT - mais que isso, ter aderido ao discurso de ódio contra o partido -, ela segue como uma petista aos olhos de muitos anti-petistas, que só ousariam votar nela se com isso pudesse tirar o prefeito do segundo turno - ainda assim, é possível que muitos prefiram Haddad à "Martaxa". 
Apesar de ignorado pela Grande Imprensa corporativa, o PSOL é um coadjuvante que não pode ser ignorado. A princípio sem chances de vitória, deve cumprir seu habitual papel de "grilo falante", ser o contraponto às direitas, puxando o debate pelo menos um pouco para a esquerda. Se conseguir politizar o debate, pode ajudar a desidratar candidatos-sabonete ou candidatas-vira-casaca, mas pode também salientar contradições da administração Haddad, a ponto tirá-lo do segundo turno. 
Os demais candidatos, por PHS, Rede, PV, PTB, PDS PSDC, PPS tendem a fazer papel de legenda de apoio do candidato à direita mais bem posicionado.

São Paulo imprevisível
Ao prefeito, enfim! 
São Paulo é uma cidade politicamente traiçoeira: concentra as contradições destes Tristes Trópicos e as põe de modo muito afloradas: de um lado, uma classe-média numerosa e retrógrada, de outro, uma periferia politicamente ativa e relevante. Essa polarização é também visível espacialmente, nos dados sobre os votos em cada bairro da cidade: o centro costuma dar a maioria de seus votos ao PSDB, a periferia, ao PT. E, diante das questões da urbe, invariavelmente alguma significativa parcela da população precisa ser desagradada, para a implementação de políticas públicas.
Haddad tentou quebrar essa polarização, e sua bandeira mais vistosa é a prova dessa tentativa: as ciclovias atendem aos anseios de uma população jovem e descolada, de bom poder aquisitivo e viajada pelas principais cidades européias; ao mesmo tempo, atende também a uma população mais carente, que usa a bicicleta como principal meio de locomoção, principalmente por conta da questão econômica. Ocorre que só ciclovia não vence eleição. A equipe de Haddad sabe disso. Durante seu mandato, o prefeito investiu menos em propaganda institucional e mais em publicidade via redes sociais, nas quais foi vendida a imagem de um prefeito jovem e moderno - que toca guitarra e anda de bicicleta -,  sensível aos problemas "micropolíticos" e defensor das minorias - abordagem não-repressiva dos usuários de droga e ações afirmativas para os transexuais -, engraçado e crítico - que teve na página Haddad Tranqüilão sua principal ferramenta. Pelas pesquisas, o uso intensivo da internet e das redes sociais não teve maiores efeitos na sua popularidade, mas, como dito, não me fio tanto nelas.

A oposição da Grande Mídia
A despeito de tudo o que foi dito acima, o principal problema de Haddad até a eleição - que vem desde que assumiu - será a voracidade da Grande Imprensa corporativa, em seu ódio extremista contra o PT. Não seria problema se a democracia, para além do voto regular, estivesse consolidada no país. Entretanto, a concentração da mídia é uma afronta direta à democracia - curiosamente, desde que a sociedade civil começou a questionar o oligopólio das concessões estatais de rádio e tevê, a imprensa parou de se afirmar como "quarto poder", por mais que não tenha deixa-do de sê-lo. São dois os pontos pelos quais a Grande Imprensa tenta abater o político: na sua relação com a esquerda e na sua capacidade de administração.
Muita coisa ainda está por acontecer até outubro, e Haddad sabe que o caminho é escorregadio. Seu problema mais premente são as manifestações do Movimento Passe Livre (MPL), contra o aumento das tarifas do transporte público. Depois de 2013, em que o problema municipal e estadual atingiu o governo federal, todo cuidado é pouco. Ao compartilhar o poder com o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, político afeito aos direitos humanos da época da ditadura militar - bate, mata, depois pergunta -, a chance de Haddad ser posto como conivente com essa forma de tratar os movimentos sociais é grande, o que o desgastaria com setores de esquerda. Por outro lado, diante da lógica binária que impera em boa parte da sociedade - e principalmente na Grand Imprensa -, defender o direito de manifestação pode ser noticiado como "apologia à baderna", e afungentar um eventual eleitorado conservador de direita não extremista (eu acredito em conservadores de esquerda). Por enquanto ele tem se saído relativamente bem - em termos de marketing político -, ao fazer discurso de governante responsável, e que não pode aumentar os subsídios, pois teria que tirar de outro lugar. Setores à esquerda - como a urbanista Raquel Rolnik ou a ex-prefeita Luíza Erundina - dizem que se trata de uma falácia, pois haveria formas de financiar maiores subsídios no transporte público, a exemplo do que ocorre em outros países do mundo; a Grande Imprensa, agindo como grande partido de oposição ao PT, não perde a chance de fustigar o prefeito, como o portal El País, ao estampar como manchete "Luíza Erundina: 'Haddad não está resolvendo as coisas só porque faz ciclovias'", numa chamada bastante traiçoeira [http://j.mp/1KQ1GGS]. A esquerda não se equivoca em criticar - não deve se calar, como defendem muitos petistas -, contudo precisa ter mais cuidado com os termos e os veículos usados - a direita está pronta para deturpar qualquer frase minimamente dúbia.
Outro ponto fraco do atual prefeito é ser do Partido dos Trabalhadores, depois de todo o processo a la Goebbels de desgaste que a mídia tem impingido ao partido nos últimos doze anos - mensalão, Petrobrás, merenda escolar, palestras no exterior, dinheiro de empresas privadas e públicas para o Instituto FHC, trensalão, nenhum dos casos de corrupção perpetrado por políticos do PSDB mereceu manchete e reportagens intensivas -, não apenas cresceu o anti-petismo, que já era forte em São Paulo, como muitos se desiludiram com o partido - de início por conta da guinada à direita do partido, ultimamente por conta da propaganda da mídia. Ser do PT será usado à exaustão contra o candidato. Entretanto, Haddad tem conseguido ser um novo Suplicy (o Eduardo), ou seja, aparece como estando além do partido, consegue cativar eleitores que não simpatizam e até mesmo odeiam o partido - vale lembrar que Suplicy foi senador por três mandatos, vinte e quatro anos, perdendo em 2014 para José Serra, em uma campanha que apelava para a defesa do "orgulho paulista", num bairrismo vergonhosa e perigosamente tacanho.

Muito por mostrar
Ao começar o período de propaganda eleitoral, Haddad usará de estratégia de marketing mais convencional, enfatizando suas realizações nos seus quase quatro anos de mandato - muitas incorporadas ao dia-a-dia do paulistano que soa estranho pensar que há três anos não havia. São ações que favoreceram tanto o centro quanto as periferias, muitas de baixo custo e alto impacto. Alguns exemplos: os corredores de ônibus, a redução da velocidade nas marginais, que melhorou a fluência do trânsito; o bilhete único temporal, que foi imitado a seguir pelo governo estadual; o fim dos incêndios em favelas, formas alternativas e mais eficientes de abordar o problema de drogas na região central da cidade, assim como menor truculência ao lidar com moradores de rua e vendedores ilegais (ainda que o rapa siga acontecendo, como denuncia diariamente a Pastoral de Rua), um melhor uso dos espaços públicos, com fechamento de ruas aos domingos, sendo a avenida Paulista o grande exemplo.

Concluo reafirmando o que disse no início: Haddad é favorito para vencer as eleições de outubro. Seu favoritismo é pequeno, todos os seus atos serão seguidos de perto pela Grande Imprensa, afoita em noticiar qualquer deslize. Não apenas isso: muito provavelmente ouviremos até primeiro de outubro, véspera do primeiro turno, que Haddad está enfraquecido e dificilmente conseguirá vencer o pleito. Político hábil (nomear Chalita para a pasta de educação foi um belo golpe político), com uma equipe de marketing que parece ter uma estratégia clara de "fidelização" do eleitorado, e várias realizações efetivadas e não divulgadas pela imprensa, uma vitória de Haddad só será surpresa àqueles que observam o mundo pelos olhos de Veja, Globo, Folha e afins.

1 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

PSDB, choque de gestão, gestão de choque e omissão de notícias

Um dos bordões mais usados pelos políticos do PSDB é o tal "choque de gestão". Acompanhando as recentes notícias nos estados e rememorando alguns governos de antanho, começo a perceber com mais clareza que o tal choque de gestão tucana é antes uma série de fios desencapados ao alcance do cidadão do que uma blitzkrieg na forma como o Estado é governado.
Fernando Pimentel, em Minas Gerais, reclama da herança maldita de vinte anos de tucanos à frente do estado. Alguém pode dizer que é retórica vazia copiada do ex-presidente Lula; convém lembrar, contudo, que a inflação - esse mal impiedoso que Leitões da vida falam como se fosse a única importância do mundo - estava acima de doze por cento quando o PT assumiu o governo federal. No Paraná, bastaram quatro anos para que Beto Richa montasse a bomba que explodiu em seu próprio colo. Tem agora menos de quatro anos para evitar que aconteça com ele o partido no estado o que aconteceu com o PSDB gaúcho após o choque de gestão da ex-governadora Yeda Crusius: o quase desaparecimento da legenda, agora com um deputado federal e quatro estaduais. Isso para não falar no estado mais rico da federação, em que o partido tenta se tornar um mini-PRI, sobrevivendo graças ao conservadorismo xenófobo da classe média do centro paulistano e dos grotões agrícolas do interior.
Será mesmo o PSDB tão inapto à gestão da coisa pública?
Em dois mil e um, com uma estiagem bem menos severa que a atual, em que sequer se levantou a possibilidade de racionamento de água nos grandes centros urbanos do sudeste, o país teve racionamento de energia, afetando a produção e o emprego - era o sétimo ano do governo de FHC. Agora, em dois mil e quinze, em São Paulo e no Vale do Jequitinhonha, no semi-árido mineiro, a pouca chuva é assunto recorrente. A diferença está que o paulistano não sabe se terá água, até quando e em quais condições, enquanto o morador do "vale da miséria" não tem esse tipo de preocupação: água limpa para beber e cozinhar está garantida, graças a um programa simples e barato de cisternas do governo federal petista. O governo de Minas era alertado há três anos pelos industriais sobre a iminência de uma crise hídrica. Em São Paulo o assunto também não era desconhecido, mas nem Anastasia, nem Alckmin fizeram qualquer coisa. É desse misto de omissão, incompetência e falta de transparência do governo paulista que um surto de dengue atinge na capital e o risco do cólera volta a preocupar os responsáveis pela saúde pública.
Curiosamente, a crise hídrica e o iminente racionamento de água em São Paulo só começaram a ser noticiados com um pouco mais de ênfase pela Grande Imprensa quando se levantou a possibilidade (por ora pouco provável) de racionamento de energia. Uma série de reportagens já mostraram e demonstraram todas as perdas que a indústria e o país terão no caso de um racionamento de energia, fruto do descalabro do governo petista. Ah, sim, no canto da página do meio de um caderno também se noticia que caso haja desabastecimento temporário de água em São Paulo podem ocorrer algumas externalidades negativas.
Ok, a gestão de choque dos tucanos é marcada por falta de planejamento, corrupção (a corrupção na Petrobrás, conforme um dos delatores da operação Lava-Jato, teria começado no primeiro mandato de FHC), desemprego, aumento de impostos, aumento de juros, crise na educação e na saúde, colapso da segurança pública, mas deve haver algo positivo feito em benefício da população.
Leio hoje na internet que em breve os estudantes da rede pública terão bilhete gratuito nos trens da CPTM e Metrô. Uma ótima notícia, sem dúvida! Entretanto, o PSDB levou vinte e quatro anos (!), mais ou menos uma geração, para tomar essa medida simples e só o fez depois que Haddad implementou para os ônibus. O mesmo vale para o bilhete único mensal: foi depois de Haddad ter posto em prática nos ônibus que o governador criou para os trilhos. Ah, sim, o bilhete único: outra boa medida do PSDB tomada só depois de implementada pelo PT (com a Marta).
É de se perguntar: se o PSDB é tão desastroso assim no comando dos postos executivos, como pode seguir ganhando eleições? Primeiro que há parcelas da população que saem ganhando - em geral uma minoria bem abastada. Segundo, que essa minoria bem abastada e satisfeita é amiga dos reis da comunicação - se não for ela mesma a sentar no trono. Seus porta-vozes estão vinte e quatro horas defendendo quem sempre defende seus interesses - os cristãos-novos do velho arranjo das oligarquias brasileira e internacional, esses podem pagar a penitência que for, dar as costas aos seus eleitores, que não são agraciados com a graça divina dos barões da mídia. Daí toda a notícia negativa ser culpa do PT e o PSDB aparecer sempre como o partido comprometido com a resolução do problema (divino, porque sempre se omite que foi o próprio partido quem o criou). Terceiro, porque há um preconceito de classe que desde a ascensão do PT ao poder federal faz a parte abastada da sociedade se roer de raiva, fazendo de forma cada vez mais agressiva - do ex-presidente por não ter curso superior (equivalente a analfabetismo) à presidenta por, por... porque sim -, deixando transparecer o ódio - estimulado pelos âncoras e comentaristas rádio-televisos - e pondo por terra a tese do brasileiro cordial, tão-logo a senzala usou o elevador social pela primeira vez (alguém lembra o alvoroço da Veja quando as domésticas ganharam direitos trabalhistas?).
Por fim, às acusações de que eu seria petista, que já antevejo, não nego simpatia muito maior pelo projeto do Partido dos Trabalhadores ao do Partido da Social Democracia Brasileira, porém tirando dessa relativização, sou crítico do PT, que me parece um partido mais interessado no discurso do que na prática em realizar mudanças profundas na estrutura social do país - Lula disse em algum canto que a mudança que ele fizera era a que o Brasil permitia sem cair em novo regime de exceção. Me parece que às vezes vale tensionar e tentar ir além dos limites aparentemente impostos.

23 de fevereiro de 2015.