Infelizmente parece ser uma máxima universal: onde há poder, há corrupção. Se houver dinheiro, há mais corrupção. Não importa quanto poder ou quanto dinheiro esteja em jogo. E, pelo menos no Brasil, certamente não é com a minha geração que isso irá mudar. Lembro da minha experiência no centro acadêmico da faculdade. Um orçamento minúsculo, um poder beirando a completa insignificância. Um nada, enfim. Meus colegas - futuros filósofos, políticos -, no auge do idealismo dos seus vinte anos, corrompendo e sendo corrompidos, achando tudo isso normal. "É assim que as coisas são", sem questionar porque elas são como são, simplesmente aceitando e tentando se adequar o melhor possível para, somente então, começar a agir. Como se fosse possível acabar com a corrupção corrompendo.
Cito minha experiência no centro acadêmico (do qual, diga-se de passagem, fui chutado e execrado por não querer dançar conforme a música) porque o Lula falou, se não me engano durante a campanha de 2002, que só do PT entrar no governo metade da corrupção do governo passado acabaria. Dito e feito! O problema foi que ele, ao invés de tratar de extirpar a outra metade responsável pela corrupção, preferiu não só mantê-la, como pôr os seus pra dançarem a mesma música.
E o PT, de virgem imaculada da ética passou a cafetão do bordel estatal. Mas ainda não percebeu isso.
As declarações de Lula sobre Roberto Jefferson, mostram que ele ainda acha que possui o beneplácito das virtudes ética e morais republicanas, como se sua palavra fosse garantia de probidade. Não percebe que esse seu capital já havia sido consumido de sobremaneira quando passou o atestado de ilibado para Orestes Quércia, em 2002. O que restou desse capital se esgotou rapidamente depois do PT assumir o poder federal. Se ainda resta ao PT algo dessa imagem de partido ético, é porque ela está sendo duramente sustentada a pesados golpes publicitários, ou então por algum saudosismo que nos faz querer não acreditar no que vemos (me incluo neste grupo).
Temos de convir, é verdade, que o PT, em especial o presidente da república, por enquanto não enfiou (pelo menos que nós saibamos) diretamente a mão na lama, tal como seu antecessor (do qual há provas incontestes de corrupção, como na ocasião da privatização das estatais telefônicas). Mas ser conivente com a corrupção já basta para ser culpado.
Então... está tudo perdido? Muito pelo contrário! Reconhecer o problema é o primeiro passo para resolvê-lo. O problema é conseguir manter o ânimo mesmo quando tudo parece andar contra. E isto é essencial, pois não há um super-herói solitário esperando ser chamado para acabar com os problemas. E não será com a prisão de políticos, policiais, jornalistas, burocratas, juízes, empresários, advogados, publicitários, sindicalistas, médicos, estudantes, donas-de-casa corruptos que o problema da corrupção estará sanado. Se a ocasião faz o ladrão, precisamos não só prender o ladrão como evitar a ocasião. Como? Passo a palavra.
Campinas, 25 de maio de 2005