Um espetáculo solo numa coreografia que pretende tratar do encontro
amoroso, da relação com o Outro. Soa curioso, mas a escolha de
Sílvia Geraldi em Todas as tardes está longe de qualquer
absurdo: podemos até ser uma inexperiência crônica na arte da
conquista (como este que escreve), porém estamos longe de sermos
virginais no encontro com o Outro: seríamos antes síntese dessa
infinidade de encontros que foram nos formando, conformando,
transformando no correr da vida, desde (via de regra) o encontro com
o Outro-mãe.
Encontrar o outro é perder-se um pouco de si. Contudo, perdido de si
é possível encontrar o Outro? Essa perda que parece tão
sintomática da atualidade. Que encontros nos permitem as receitas
dos manuais de sedução, que “dão dicas” (porque “ensinar”
seria chamar claramente o leitor de ignorante) de flerte, de postura
corporal, de frases-chave, de olhares cronometrados?

Táticas de guerrilhas, gestos
ensaiados, ordens de não planeje como conduzir a conversa a
abordagem: a exigência de confiança e firmeza, e a realidade de
hesitações e insegurança. O fato da intérprete não ser uma jovem
reforça a sensação de que não há fórmula pronta, de que cada
encontro é um ato solitário de atirar-se até o Outro – ou pode
ser um estar sozinho a dois, como diante da imagem fria no espelho.
São Paulo, 02 de fevereiro de 2013.