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quarta-feira, 17 de abril de 2024

A terceirização das guerras e golpes de Estado para os bilionários

Diante do imbróglio todo entre Elon Musk e seus asseclas contra o Estado brasileiro, chamo a atenção para um aspecto trazido no programa 360 do podcast Xadrez Verbal, da Central 3. 

Ao comentar a notícia do lançamento do satélite espião sul-coreano pelo foguete da Space X, do Elon Musk, Felipe Nobre Figueiredo dá a interpretação que tal lançamento pode ser para mandar uma mensagem de que a Coreia do Sul não pretende entrar numa corrida espacial com a Coreia do Norte, e lembra os ouvintes que as diferenças de um foguete para um míssil são de detalhes, sendo o principal deles o alvo que se quer alcançar com cada um; também recorda que o projeto espacial do herdeiro fanfarrão sul-africano depende de financiamento da Nasa. Para mim, esses adendos do apresentador não são novidades. O ponto é que dado o contexto mundial que estamos (sobre)vivendo, esses elementos me parecem indicar talvez caminhos que até agora pouco ou nada vi na imprensa que acompanho (e com certeza não apareceu na dita grande mídia).

O contexto é de neofascismo ultraliberal. Do liberalismo, atomismo e individualismo radical, assim como apagamento das diferenças, com tudo passando a ser reduzido ao denominador comum do capital, ao mesmo tempo em que se favorece grandes agentes privados que assumem funções típicas do Estado; do fascismo, o militarismo, o culto à guerra e à morte, e a solução para caso o apagamento das diferenças pelo liberalismo não seja suficiente: o apagamento dos diferentes.

Guerras por procuração, como a da Ucrânia, não são novidade, como atestam as próprias Coreias; assim como o financiamento de inimigos do inimigo em conflitos específicos, como foi o caso do Talebã na guerra contra a União Soviética no Afeganistão. Exércitos de mercenários é algo que vem do que chamamos de antiguidade, tampouco é qualquer elemento novo. Contudo, dentro do novo contexto, eles têm outra significação.

Weber definia como um dos aspectos do Estado moderno o monopólio da força - e ele tem cada vez mais aberto mão disso. Vemos a terceirização da segurança pública no Brasil e seu correlato ilegal, com a venda de “segurança” por milicianos e crime organizado; na Palestina, colonos judeus armados fazem as vezes de primeira linha de ataque contra palestinos; nos EUA, a ideologia de cada um que se defenda por si, com a população armada, levanta questões sobre o futuro do país diante do crescimento da extrema-direita.

No plano internacional, não é apenas que se tem exércitos mercenários, eles são coordenados por estados nacionais para agir em seu nome. A recente rebelião do Grupo Wagner, na Rússia, mostra que esse tipo de organização se assemelha muito aos exércitos de países “em desenvolvimento”, e pode agir contra o próprio país e seus interesses, como conhecemos muito bem aqui no Brasil - ou então na Bolívia, no golpe contra Evo Morales, em 2020 (ainda que lá tenham sido as forças de segurança pública a dar o golpe).

Por falar em Bolívia, e aqui entra nosso personagem, ele não teve peias ao afirmar que dariam golpe de estado onde bem entendesse - sem especificar bem quem comporia esse coletivo.

Não vou adentrar nas questões de momento envolvendo Elon Musk e uma republiqueta de bananas (desculpe, não é complexo de vira-latas, é conhecimento de nossas elites, em especial a econômica, a judiciária e a militar), meu ponto é outro, mais especulativo.

Nesse momento de terceirização das funções estatais, cabendo a estes a coordenação - e com possível enfraquecimento dessas funções, em especial nos países periféricos -, um bilionário adepto da extrema-direita deter tecnologia de lançamento de foguetes/mísseis sinaliza para uma autonomia muito além do que estamos acostumados. 

O capital já detém o quase monopólio da comunicação e do discurso público, seja via meios de comunicação em massa, seja pelas plataformas e redes sociais de algoritmos fechados, seja por satélites que garantem a cobertura de certa região (a Starlink na Amazônia, por exemplo); possui uma série de exército de mercenários, em tese coordenados por estados nacionais, mas que muitas vezes acaba sendo quem realmente coordena as ações ("Os exércitos mercenários". Le Monde Diplomatique, ed. 31, fevereiro de 2010); possui fábricas de armas, e agora detém também a tecnologia de lançadores de mísseis. Aquele temor com o fim da guerra fria, de armas nucleares soviéticas nas mãos de terroristas se torna plausível com o ultraliberalismo - mas os terroristas aqui serão chamados de empreendedores de sucesso.

E se hoje essas empresas ainda se subordinam aos estados nacionais centrais, nada impede que a união de suas fortunas - assim como de suas tecnologias - possa fazer com que prescindam de suporte estatal, e passem a agir por conta própria. Claro, sua ação tenderia a ser contra estados periféricos, o que é bem o modo de agir do Ocidente moderno: joga para fora de suas fronteiras as externalidades negativas de seu modo de vida, terceiriza seus mal feitos, e posa como arauto da civilidade. É muito mais fácil atribuir a culpa do golpe na Bolívia a um bilionário tosco como Musk do que o golpe no Brasil a um político carismático como Obama. 

A autonomia de grandes conglomerados em atuações de guerra (híbrida e tradicional) em regiões e países pelo mundo permitiria aos países centrais lavar as mãos e seguirem com sua autoimagem de civilizados, desobriga moralmente sua população de assumir os ônus das escolhas políticas feitas por terceiros - até porque não seriam mais em seu nome, já que quem age são particulares.

Eu gostaria de ser mais otimista, mas com os caminhos que a humanidade tem tomado, não creio que no futuro bilionários farão apenas bravatas via Twitter contra estados-nação.


17 de abril de 2024

sábado, 5 de março de 2022

Estamos discutindo Arthur do Val e não as violências contra as pessoas vulneráveis


A polêmica envolvendo o turismo sexual de guerra do deputado estadual do Podemos, Arthur do Val, e seu colega de fascismo, Renan dos Santos, é só mais uma mostra da latrina que se tornou nossa política institucional - e que não é mais que reflexo de toda nossa sociabilidade.

Desnecessário maiores adjetivos à atitude abjeta do integrante do MBL - esse movimento tão querido da Globo, Folha, Bolsonaro, Moro, liberais da Faria Lima e outros -, mas convém salientar que é difícil fazer um ranqueamento para apontar o que de mais escroto já saiu da boca de um político (eleito, em campanha ou usando o judiciário e o MP) nestes últimos tempos, desde que a dita Grande Mídia deu palco a todo mundo que se opusesse ao PT e às pautas sociais. O pior é que seguimos discutindo o último espalhafato, ao invés de discutir suas causas, exatamente como é o desejo dessas polêmicas lançadas seguidamente: muita discussão sobre um fato isolado, deixando para o plano secundário as questões relevantes.

Arthur do Val não é primeiro cidadão ou deputado a fazer turismo sexual, nem a aproveitar da condição social de outrem para gozar com seu corpo. Não fosse o contexto de guerra aberta na Ucrânia e seria capaz de haver quem defendesse a atitude do marmanjo por estar “vingando” o turismo sexual que europeus fazem no Brasil (com estímulo dos governos militares, inclusive o atual [https://bit.ly/3MnEL7D]). Afinal, defender estupro de colega de Câmara dos Deputados ou encoxar colega na Alesp não mereceram mais que reações indignadas em redes sociais, sem efeitos práticos aos deputados que cometeram tais crimes - o que permitiu, no final, a eleição de um deles para presidente do Brasil.

O erro de cálculo do “garoto” do MBL talvez (talvez!, a ver como será sua votação em outubro) tenha sido o momento: uma guerra hiper-televisionada e dramatizada na Europa. Muitas das pessoas que hoje se mostram chocadas (tipo Sérgio Moro e seus seguidores), nunca se incomodaram com as notícias (que com muito sofrimento ganham alguma luz na imprensa tradicional) de fatos exatamente iguais ou então muito similares que acontecem na África, na Ásia, na América Latina ou no próprio leste europeu - desde o avanço do capitalismo por aquelas terras, onde antes não se tinha a liberdade de vender o corpo (ou parte dele) para não morrer de fome (o filme “Coisas belas e sujas”, do Stephen Frears, já denunciava prostituição forçada e venda de órgãos por parte de refugiados em pleno coração da Europa que se diz civilizada, a Inglaterra). E não nos esqueçamos de tudo o que é feito em nome de Jesus - enquanto a mídia corporativa mantém seu discurso islamofóbico diário.

O foco no fato isolado - um deputado estadual fazendo prospecção para turismo sexual de guerra na Europa - abafa as discussões acerca das causas tanto do comportamento machista e perverso dele quanto das condições que permitem que ele possa se aproveitar dessas pessoas. Migrantes e refugiados são sempre populações altamente vulneráveis - sem diminuir a dor dos ucranianos que hoje vivenciam isso, ouso dizer que eles estão em situação menos horrível que pessoas de outras nacionalidades, cuja cobertura e dramatização por parte da mídia é ínfima (quando existe) e violências de todo tipo são de uma banalidade como o nascer do sol.

E quais as causas (a causa, segundo boa parte da opinião mundial) da guerra que força essas pessoas a migrarem? Seriam desejos de um presidente descontrolado (como nossa grande mídia apregoa) ou uma questão estrutural, da forma como a riqueza é produzida e a renda distribuída, além de outros fatores? E como mudar isso? Trocando dirigentes e desligando a torneira de casa na hora de escovar os dentes, ou entrando com ações contundentes contra suas causas - a começar pelo direito de propriedade dos meios de produção, um direito absoluto, que autoriza o assassinato de pessoas quotidianamente (como diz o grupo Magiluth, de Recife, em seu espetáculo “Estudo nº 1: Morte e Vida”: ninguém morre de fome, se alguém morreu de fome é porque foi assassinado).

A atitude do integrante do MBL deveria ser o estopim para discussões mais amplas e aprofundadas - além de cobrança de cassação do mandato. Pelo que noto, contudo, não estamos conseguindo fugir da armadilha posta. Agimos segundo a lógica das redes sociais: elegemos um bode expiatório, discutiremos alucinados esse caso bem específico, esperando pela próxima polêmica do mesmo tom. Hoje é Arthur do Val, ontem foi Fernando Cury, anteontem, Marcos Feliciano, antes foi Jair Bolsonaro, antes ainda Gervásio Silva, e assim seguimos: mudam os nomes, seguem as atitudes. Estamos perdendo.


05 de março de 2022


PS: eu revisava este meu texto quando me repassaram o artigo do grande Jamil Chade, “Carta para Arthur do Val: a condição feminina na guerra e na paz” [https://bit.ly/3KpscXT]. Acho que o artigo é dolorosamente preciso nisso que tento apontar aqui: Arthur do Val beira a irrelevância diante de todo o quadro. Que seja cassado, mas vamos tratar da dor das pessoas cuja miséria servem de alimento para tantos homens - na Ucrânia como no Brasil ou na África.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Venezuela: um país em colapso.

Por falta de remédios, hospitais vazios -
como se as pessoas tivessem desistido de ficar doentes.
No início de setembro, Gilberto Maringoni, graças a um crowdfunding do DCM, foi até Caracas, conferir in loco a situação da Venezuela [http://bit.ly/31GZf2J]. O que ele descreve em seus artigos é um país em crise. "Se em Caracas está bem, o resto do país pode estar explodindo, que eles não ligam": ouvi isso de um grupo de venezuelanos, e me lembrei ao ler os textos do professor da UFABC. Relativamente ao resto do país, a crise em Caracas é “estar bem”.
Estive na Venezuela no mesmo período que ele. Fui pelo projeto Caminhos de Solidariedade, da CNBB, por trabalhar no Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM). Estive em Ciudad Guayana e Ciudad Bolívar, no estado de Bolívar; e em Tucupita, no estado de Delta Amacuro. O que presenciei não foi um país em crise, foi um país em colapso.
No trajeto entre a fronteira com o Brasil, em Pacaraima, e Ciudad Guayana, quinze postos de fiscalização. Em alguns pedem documentos, em outros perguntam de onde viemos, para onde vamos; outros apenas observam atentamente dentro do carro. Na grande maioria das barreiras os agentes estatais usam fuzil AK-47, em poucos se restringem a pistolas. Isso reforça a impressão que tenho das leituras que faço: é guerra.
O país está em guerra - e não é civil. E é a população, claro, quem mais sofre as consequências dessa situação. Onde estive falta tudo, falta o básico.
O país detém as maiores reservas petrolíferas do mundo, mas falta gasolina em várias regiões - no caminho, estado de Amazonas, várias pessoas vem para o Brasil encher o tanque a R$ 5,00 o litro, valor que compraria 25.000 litros na Venezuela (1 bolívar o litro, 5.000 bolívares o real). Papel higiênico ou guardanapo, são raros os lugares que tem - sequer no palácio episcopal ou em shopping center -; e quando há, é porque alguém trouxe do exterior (admito, na casa paroquial de um padre estadunidense, roubei umas seis folhas de guardanapo, que me foram de grande utilidade na viagem). Parece anedótico, mas é grave. Não há papel para se limpar, haverá nas escolas? Não fomos conferir, por ser período de férias, porém o fato do último ano letivo ter tido apenas 50 dias efetivos de aula sinaliza o tamanho do caos - e as consequências para o futuro do país: é um projeto de destruição de longo prazo. Pior ainda quando ficamos sabemos que muitos pais vêem isso como positivo em alguma medida: sem aula, não precisam acordar cedo, e criança dormindo não reclama de fome o tempo todo (ouvir relatos como esse chocam, angustiam, comovem; deparar frente a frente com uma criança moribunda de fome é algo que ainda não consegui elaborar: adjetivos não fazem sentido). Esse foi um dos casos que me fez lembrar do romance Meio sol amarelo, da Chimamanda Ngozi Adichie. Sim, estive em uma área de guerra.
O salário mínimo é de dois dólares (quarenta mil bolívares), uma cartela com trinta ovos custa quatro dólares. O quilo de carne, cinco. Não vi mercados nas cidades que visitamos: grandes lojas fecharam e a venda de comida é feita em feiras, nas ruas ou improvisado na portas das casas - geralmente farinha para arepa e artigos importados do Brasil, farinha, óleo, bolacha. Mesmo nos locais "abastados" onde fomos recebidos rala-se os frios para fazer renderem mais. Economia de guerra.
Logo no primeiro dia, precisei de um relaxante muscular, por conta da viagem, e a guia que nos levava por Ciudad Guayana fazia mil ligações para conseguir um, sabe-se lá a que preço, em um esquema com uma enfermeira de uma clínica particular - por sorte, ainda que avisado tarde, uma das pessoas que viajou comigo avisou que tinha um. Num hospital oncológico que visitamos o médico comenta: a Venezuela tem 60 a 70% do medicamento para câncer de que necessita. O que faz com que os médicos tenham que escolher que paciente tentarão curar - é perverso com os pacientes tanto quanto com os médicos. Num hospital geral, médicos há - geralmente recém formados ou velhos -, contudo, não há remédios ou alimentação: o acompanhante recebe a receita e parte em busca do dinheiro para comprar comida e remédio, há dias que têm de escolher qual comprarão. Assim, casos simples, em que a internação duraria três dias, levam dez - quando não levam óbito. Diante desse quadro, muitas pessoas preferem morrer em casa: menos risco de contrair uma infecção - quem sabe um milagre não os cure? Um padre comenta: em sua paróquia as exéquias ocorriam uma vez por semana, passaram a ser diárias e já chegaram a vinte numa semana. "As pessoas estão fracas, desnutridas, qualquer infecção pode ser mortal". Biafra é aqui.
Os subsídios do governo - um dólar por semana, um arremedo de cesta básica e energia elétrica e água de graça (onde não há crise hídrica, o outro grupo do projeto, que visitou outras cidades, tomava banho com água do ar condicionado) - não são suficientes para garantir a sobrevivência - nem a permanência da população. Decorre disso que cerca de quatro milhões de venezuelanos, aproximadamente treze por cento da população, ter saído do país em três anos (seria como se a região sul do Brasil tivesse emigrado desde o golpe na Dilma, contra a democracia), e outro tanto ter ido para a região de Las Claritas, a região das minas de ouro, que um padre definiu como o "inferno na Terra", onde as pessoas vão na esperança de conseguirem fazer uma reserva para retomar a vida e acabam desumanizadas - e pobres. Nas cidades outrora pujantes, como Ciudad Guayana, muitas casas na periferia com a inscrição “CVD” - Se vende. Se vende, mas ninguém compra. Falta dinheiro, mas faltam também compradores. Nas residências em que ainda tem gente morando, é comum estarem habitadas apenas por idosos, ou por idosos e crianças, uma vez que os adultos em idade laboral saíram tentar a sobrevivência. Inclusive, essa a principal fonte de renda dos venezuelanos que conversamos, inclusive médicos: algum parente que mora fora e envia dinheiro. Um dos resultados mais imediatos e menos comentados: a depressão é uma constante - para quem fica como para quem parte.
Diante de tal estado de calamidade, não surpreende que Maduro seja praticamente uma unanimidade - ouvi apenas um homem, um chavista convicto, defender o presidente. Que não lhe botem a culpa - não toda - pela situação que estão vivenciando, a ele fica o ônus de não estar conseguindo dar nenhuma solução satisfatória - afinal, é ele quem ocupa o Palácio Miraflores. Pior, tentando mimetizar o estilo personalista de Chávez, porém sem o mesmo carisma e sem o mesmo contexto, o excesso de propaganda com seu rosto estampado, várias em locais inapropriados - como numa praça de pedágio ou no corredor de um hospital decrépito -, ajudam a criar uma antipatia extra. O que chama a atenção é que ele ainda tem legitimidade por ser o presidente da República, ninguém o questiona quanto a isso. Guaidó, tão alardeado por nosso presidente e por nossa mídia, é um nada: ouvi seu nome uma vez, de um taxista anti chavista radical, que disse que tudo na Venezuela piorou desde que Chávez assumiu, não houve nada de bom em vinte anos; posso creditar ter sido citado indiretamente outras duas vezes, por pessoas que falaram que tiveram esperança no início do ano. Fora isso, é um zero. José de Abreu teve mais respaldo interno quando se autodeclarou presidente do Brasil.
E se Maduro é tido por inepto, a oposição não suscita qualquer ânimo, mesmo entre os ferrenhos opositores do atual presidente: as críticas mais elaboradas dizem que não tem nenhum projeto de país, apenas desejo de poder. Em geral, as pessoas apenas lamentam que é mais do mesmo, são todos corruptos. A única vez que ouvi uma menção positiva (ou próximo a isso) a um grupo opositor, foi em uma rádio católica, acerca de uma dissidência de esquerda do chavismo, o Marea Socialista, ainda assim, muito rapidamente, e sem grande ânimo. Diante desse quadro, Maduro acaba sendo tolerado por completa falta de opção.
Ao cabo, à população resta o desalento, disfarçado com uma esperança vaga, uma esperança rasa, sem qualquer ancoragem na realidade: um desejo de dias melhores, porque como está não é possível suportar muito tempo mais; uma esperança posta num futuro indefinido, que evita criar expectativas ou prazos minimamente palpáveis, para não se deparar com mais uma decepção. No quotidiano de fome e carências, a vida que se arrasta em ritmo de morte, buscando uma precária sobreviência em uma guerra não declarada - mas não por isso menos devastadora.


22 de outubro de 2019