domingo, 25 de dezembro de 2022

Colateral: a pandemia como um peso a mais sobre os ombros das mulheres [Diálogos com a literatura]

Terminei de ler o ótimo Colateral, livro de estreia da Isabela Veras (com ilustrações de Mireille Lerner). Uma leitura agradável, que prende, capaz de tocar a todos - até pela proximidade do tema da primeira parte -, e sugerir um outro olhar sobre o nosso quotidiano. Se em alguns momentos sua estreia na literatura fica à mostra, isso não desabona a obra.

O livro é composto de duas partes. A segunda, Insurrecta, são narrativas de temáticas mais feministas, algumas abertamente militantes e que se fazem a crítica ao papel da mulher na sociedade, vão além e fazem repensar a formação da mulher para a nossa sociedade. Isso me traz questão que há cerca de dois anos me permeia: a de se cabe tentar alterar a divisão dos papéis de gênero na nossa sociedade, ou se não seria mais sensato rediscutir a própria questão de gênero e tudo o que vem implicado nela, de uma identidade una e em alguma medida heterônoma (o que me leva, inclusive, a uma crítica do "ser não-binário"), a todos os acessos ou restrições que a ideia de gêneros implica.

O destaque, contudo, fica com a primeira parte, Colateral. São contos da pandemia, vários deles inspirados em notícias desse período - como os funcionários rezando nas ruas pela reabertura do comércio -, outros inspirados na nossa vivência genérica do isolamento social. Se alguns deles rememoram minhas agruras de classe média - meus dezesseis meses sem visitar minha mãe, por exemplo -, outros me recordaram que fui um privilegiado por ter meus direitos básicos garantidos, e não ter precisado me preocupar com o mais básico da minha sobrevivência: um teto, um mínimo de conforto para viver e comida no prato todo dia. Em alguns momentos, os textos me trouxeram lágrimas ao olhos, seja ao pensar no que passei, seja ao imaginar o que tantas famílias passaram - e nem estou falando aqui tanto das mortes, e sim de toda a terra arrasada deixada pelo desdém pela vida (seja a biológica, seja a que há para além dela), que não a "vida" do capital, por parte dos donos dos poderes (político e financeiro).

Se o pano de fundo nos textos colaterais é a pandemia, ela serve para ressaltar de modo bastante orgânico os diversos papéis da mulher numa sociedade estruturada a partir da exploração dos seus trabalhos e de relações desiguais e desgastadas, mantidas por convenção social.

A maternidade, a despeito de suas alegrias, desponta como um fardo (em um conto no qual haveria uma maior isonomia nas relações entre homem e mulher, a paternidade também). Se a mulher pobre tem a avó da criança para dar algum suporte, a mulher branca, classe média alta, depende do suporte da mulher pobre, desde que essa deixe o próprio filho em segundo plano para cuidar dos da patroa - e ainda ser criticada por não dar conta do jeito como ela gostaria.

E seja à mulher pobre, seja à mulher rica, a pandemia, na apresentação da Isabela, faz despontar essa sobrecarga que, via de regra, recai sobre as mulheres, deixando à vista as rachaduras há muito existentes nas relações de gênero, no trabalho e na família.

Depois de ler Colateral, pode-se dizer que o "novo normal" que no início muitos vislumbravam com a pandemia que afetaria "a todos por igual", é tão somente o velho normal engolido com feijão e aceito como sempre - mas agora com uma dose maior de cinismo, já que não se pode mais alegar que não se percebe certas obviedades desde sempre muito visíveis.


25 de dezembro de 2022




sábado, 10 de dezembro de 2022

Dez anos - tão rápido, tão lento

Desço na estação Prefeito Celso Daniel - Santo André. Há dez anos não parava ali, desde quando abandonara o curso na Federal do ABC, ainda no segundo quadrimestre. É como voltar dez anos no tempo, mas não parece tanto tempo assim. São mesmo dez anos? 

Diferente do que fiz tantas e tantas manhãs de 2012, me encaminhei para o lado do  centro da cidade, não da universidade. E diferentemente de 2012, meu pai não me ligou às seis, horário em levantava para esvaziarva bolsa de colostomia, para saber se eu tinha dado conta de acordar (até então eu estava acostumado a dormir sempre depois das três, foi difícil voltar a acordar cedo). Estou atrasado, caminho sob o sol ardido num dia quente e seco - que me faz lembrar de Pato Branco ano passado, quando estava vivendo com minha mãe seus últimos dias. Chego já fora do horário oficial de lançamento do livro Colateral, da Isabela Veras, amiga de meia década e muitos desencontros. O horário do almoço ajuda a esvaziar a livraria, e sobram alguns recalcitrantes - eu dentre eles. 

Escultura de Ricardo Amadasi

Isa me apresenta a Alpharrabio, projeto de 30 anos de sua mãe, Dalila. O local vende livros, mas claramente isso é uma desculpa para reunir pessoas que gostam de literatura e possuem outras afinidades. Antes de ela me falar, havia ouvido Dalila contar a um grupo da compra da casa e das reformas para transformar no que é hoje. Isa conta dos eventos que acontecem todo mês - o sarau, o encontro de escritoras. Me faz lembrar de Misson, que sempre agitava eventos na Penha - às vezes conseguia algum lugar público, se não, improvisava numa praça ou reunia em sua casa mesmo. Quem sabe se não tivesse partido prematuramente não teria ela aberto seu Alpharrabio? Também me lembro da Casuística, a revista eletrônica que agitei entre 2009 e 2013 - interrompida com o vazio trazido pela partida da Misson, que assumira a função de co-editora a partir da segunda edição. E dos "poetinhas", o grupo de poesia agitado pelo Cassio e Jeff, do qual eu participava como ouvinte, por não ser um gênero no qual me arrisco. Um lugar desses seria uma preciosidade para o daniel de 2010, 2012, e seus amigos.

Antes mesmo de ir à Alpharrabio, volta e meia recordo com nostalgia daquele meu ânimo em experimentar e arriscar, talvez mesmo fazer o papel de bobo, em nome de nem sei o quê - ter gente interessante e igualmente realisticamente rebelde com o princípio de realidade por perto. 

Nunca achei que aquele meu ímpeto fosse coisa da juventude, ainda que acredite que tê-lo perdido seja fruto do tempo - não o tempo que simplesmente passa, mas o que deixa cicatrizes, no meu caso, dessas três perdas: Misson, meu pai e minha mãe. Dalila abriu a livraria com mais idade que tenho hoje, e não só isso: é explícito o tesão com que leva suas atividades - a livraria e o ativismo cultural em Santo André, que já lhe rendeu uma série de homenagens, além de um doutorado honoris causa. Claramente idade não é algo que interfere na juventude de uma pessoa - antes como ela consegue levar as adversidades da vida.

Isa me mostra detalhes da Alpharrabio: o auditório, as esculturas, os livros da editora, os livros-objeto. As escadas no jardim interno me remetem à Prainha da PUC. O mimeógrafo posto como enfeite me faz lembrar do "livro" que produzimos na escola, rodado em um aparelho desses, com o cheiro de álcool a marcar a alegria de termos nosso livro - eu tinha oito ou nove anos, estava na terceira série. Naquela época nunca que eu imaginaria que um dia lançaria livros de "verdade" - hoje me questiono do que valeria lançar os que tenho no prelo.

É perceptível o afeto que atravessa o mostrar e recordar de Isa: "cresci em meio às reuniões de poesia de minha mãe, primeiro na casa das pessoas, depois aqui. A Alpharrabio é minha segunda casa". É o mesmo afeto que me atravessa quando penso na casa de Pato Branco - e me vejo mostrando ela aos amigos e companheiras que chegaram a conhecê-la com essa mesma empolgação, de um passado vivo e presente. A diferença é que a casa de Pato nunca deixou de ser a primeira - junto com as outras que tive. Casa que sonhei hoje, e que no meu sonho não estava vazia, como está há dez meses, pelo contrário: estavam lá meu pai no balanço, minha mãe com os bonsais e meu irmão com a reforma da cozinha, que ele levou a cabo ano passado.

Na volta, na estação esperando o trem, como fizera vários fins de tarde de 2012, me pego pensando em tudo o que me ficou pelo caminho entre Santo André e São Paulo, entre 2012 e 2022: ânimos, ímpetos, desejos intensos de experimentar... futuros do pretérito interrompidos pelo que a vida tem de mais ordinário: a morte. "Viver é ir morrendo aos poucos", dizia minha mãe.

Foram mesmo só dez anos desde o último trem que peguei ali?


10 de dezembro de 2022

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Macedo, meu nobre colega [por Sérgio S., da Equipe Trezenhum. Humor sem graça.]

Macedo, meu nobre colega, como comentei em outro texto, sempre me acompanha nos entretenimentos de hora do almoço - vulgo comer e dar um rolê, às vezes fazer compras. 

Antes de continuar, um parênteses. Para não ter toda vez escrever "Macedo, meu nobre colega", vou abreviar para "Macedo MNC", mas não seja preguiçoso ou preguiçosa ou ambos e siga lendo "Macedo, meu nobre colega". Fecha parênteses.

Foto de Macedo, meu nobre colega, em suas últimas    
férias (arquivo pessoal dele, vulgo Instagram)

Não apenas isso, os demais colegas - que são nobres, mas não se chamam Macedo - dizem que somos parecidos: ambos magros, filhos de bancários, barbicha parecendo um ninho feito por um pombo bêbado, as mãozinhas para trás na hora de caminhar, guarda-roupas com pouca variedade (quer dizer, eu acho que ele tem um guarda-roupa, mas pode ser que seja uma pessoa chique e tenha um closet), humor bastante peculiar e que dividem com poucas pessoas, e branquelos - ainda que ele tenha um tom fanta mais autêntico e eu esteja para um branquelo-amarelado encardido (ao menos minha mãe sempre critica minhas roupas brancas, que ela diz estarem encardidas por conta do tom de branco que possuem). Por causa dessas semelhanças entre nós, eu acabo ficando estatisticamente parecido com um colega que trabalha alguns andares acima, no que hoje chamam de Rooftop (lê-se rufitóp), mas no meu tempo era apenas último andar, a quem chamaremos aqui de Fernández, Funcionário do Topo (FDT), sendo que o topo aqui se refere ao topo do edifício, não da carreira. Isso porque, apesar de eu não parecer com Fernández FDT, ele e Macedo MNC se parecem, e como eu e Macedo MNC nos assemelhamos, sobra que termino por ser estatisticamente parecido com o nobre colega Fernández FDT, de alguns andares acima.

Novo parênteses (me desculpe tantas interrupções): acabei de notar que o MNC não é uma boa, por dois motivos. Primeiro: vai que alguém se refira a ele como "Macedo, teu nobre colega", e um "Macedo TNC" não seria merecido com o nobre colega. Segundo, pelo risco de que alguma hora apareça no trabalho alguma "Yara, Minha Colega Admirável", e uma abreviatura com as iniciais induza um certo playboy meia bomba que faz cosplay de "não sou pulítico, sou jestor" e que gosta de se fantasiar de Village People para ir na Little Seul a achar que estou falando dele e me meter um processo. Fiquemos, então, com Macedo M, apenas, mas insisto para que o prezado leitor, a prezada leitora não seja preguiçoso ou preguiçosa ou ambos, e siga lendo Macedo, Meu Nobre Colega. Fecha parênteses. Ou melhor, abre outro, rapidinho: até pus a música aqui, pra acompanhar, achei que ficou supimpa. Agora fecha. Ou abre de novo para o tema nomes: acabei de notar que Fernández FDT ficou perto também de uma abreviatura infeliz, e que falado em voz alta pode ser confundido com um sonoro FDP, que Fernández não merece. Vamos convencionar, então, de usar só uma letra, assim, Fernández, Funcionário do Topo, o Fernández FDT, será apenas Fernández F. Agora fecha de verdade.

Na verdade foram tantas interrupções que precisarei encerrar este texto sem narrar o que pretendia e que você que me lê esperava. Peço desculpas e paciência: creio que foi por um bom motivo: facilitar a compreensão e apresentar nosso herói, Macedo M (lembrou de ler "meu nome colega"?). Na verdade, o herói deveria ser eu, Sérgio S, mas trupiquei nesses parênteses e sem querer perdi até o protagonismo da crônica. Ou nem sei se foi tão sem querer, porque Macedo M (não esqueça do "Meu Nobre Colega"!), sempre eficiente e concentrado, costuma ganhar o protagonismo e os elogios dos chefes (e não reparar nas suas barras de gergelim da gaveta).


05 de dezembro de 2022

PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Das vantagens em se trabalhar no centro [por Sérgio S., da Equipe Trezenhum. Humor sem graça.]

Reconheço um ganho em qualidade de vida ao ter o trabalho transferido da Marginal Tietê para a região central. A começar pela proximidade de casa e a economia de R$ 4,40 diários, o que totaliza praticamente R$ 100,00 mensais - pois agora a mesma 1h20min que eu levava para ir a pé do trabalho para casa eu gasto para ir e voltar. Me dou por satisfeito com essa caminhada, e isso me permite a economia de outros R$ 150 de academia. 

Afora essas vantagens monetária (já que o salário segue o mesmo) e temporal, que no fundo, conforme Benjamin Franklin, é tudo dinheiro, é na hora do almoço que o local de trabalho faz toda a diferença.

Na Marginal, começava que tínhamos três opções de almoço nas cercanias - uma barata, uma média-cara e uma cara, nenhuma muito boa -, e para o restante do tempo de almoço, a opção mais interessante era ficar contemplando o rio Tietê devidamente retificado, frequentado por brilhantes animais metálicos, sob o sol escaldante de ésse pê - o que talvez inspirasse poemas parnasianos em Marinetti ou em Mishima (ainda que não veja Mishima escrevendo poemas parnasianos, a não ser, talvez, com as próprias vísceras). Como não sou futurista (nem passadista), nem poeta (mesmo calado), nem fiz o curso de Ikebana e Harakiri do Anti-Espaço Cultural Casa de Lego* na época da Universidade, esse tipo de bucolismo urbano não me comove tanto... 

Em compensação, pelo centro são muitas opções de casas de pasto nas cercanias do trabalho, com grande variedade de preços e tipos de comida. Seria difícil até de escolher, basicamente impossível de enjoar, se eu não me restrigisse às três de sempre - que sequer são as mais baratas ou as mais gostosas.

O melhor mesmo de trabalhar pelo centro fica por conta das opções do que fazer para completar o horário de almoço. Sempre acompanhado de Macedo, meu nobre colega, e às vezes algum (ou alguma) outro colega, não menos nobre, mas que não se chama Macedo, saímos para ver exposições, passear por lojas (a 25 é logo ali, e nós evitamos), ou mesmo só zanzar vendo a fauna citadina pedestre. 

Quando nos centramos nas compras, invariavelmente sabemos distribuir nossas necessidades desnecessárias ao longo do mês, para estarmos sempre necessitando de algo: um estimulante modo do salário frugal garantir que não caiamos no tédio nem no consumismo desenfreado. 

Um dia saímos para fazer uma pesquisa de preços; no outro, para pesquisar outros produtos, que podem ser mais interessantes, diante das limitações monetárias. É na sequência que decidimos ir às compras: uma chave de mandril num dia, um jogo de três cuecas no outro, um odorizador de guarda-roupas no terceiro, um copo retrátil no quarto. E assim vamos, eu e Macedo, meu nobre colega, como se fôssemos dois barões do café esbanjando dinheiro, ou como se fôssemos Estragon e Vladimir esperando Godot: "a gente sempre inventa alguma coisa para ter a impressão que a gente existe", no caso, a gente inventa algo pra comprar. 

Os dias mais interessantes (e perdulários) costumam ser os que vamos à zona, o que costuma acontecer três vezes por mês: duas para comprar ervas, castanhas, frutas secas, ervilhas com wasabi e coisas do tipo, outra para ver se há promoção de cerveja e comprar queijos. Sim, eu sei que a zona cerealista não é tão grande, e poderíamos fazer a compra dos queijos, cervejas, das ervas e das passas numa vez só, mas precisamos fazer o tempo render.

E se acaso não temos o que comprar - ou meu orçamento do mês já está comprometido -, Macedo, meu nobre colega, sempre tem suas barras de gergelim para repôr em sua gaveta. Felizmente, até hoje ele nunca atentou que elas terminam num ritmo um pouco desproporcional ao que ele costuma comer...


02 de dezembro de 2022


* Piada retomada da época do Trezenhum. Humor sem graça. Quem acompanhou na época e/ou leu o livro (ainda tem para vender), entendeu.


PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Palestras motivacionais ou fascismo?

Há tempos tenho dito que o fascismo se enfia pelas frestas: se as “boas energias” transmitidas com o Heil Hitler nas manifestações alucionogolpistas em Santa Catarina são o fascismo escancarado e desavergonhado, ele só foi possível porque no nosso dia a dia uma série de pequenos elementos fascistas foram e tem sido naturalizados, seja via indústria cultural, seja pelos aparelhos ideológicos oficiais, seja nas relações micropolíticas que nos permeiam - o liberalismo é o fascismo se fingindo outra coisa, por saber usar talheres.

Gostaria que um caso como esse, do qual ouvi o relato e vou comentar a seguir, fosse um experimento científico (apesar da ética questionável, se fosse o caso), e não um experimento social - a sociedade se fazendo a quente e marchando para o fascismo. 

O que me contaram dessa palestra motivacional mostra que Bolsonaro e o movimento que há por trás não são um acidente, apenas escolheram um incompetente como cavalo para conduzi-lo - por isso perderam as eleições de 2022. Contudo, o projeto de uma teocracia fundamentalista cristã ultraliberal neofascista está como uma possibilidade futura, inclusive com ampla aceitação da população.

Ao relato.

Primeiro chegou a convocação para que o expediente fosse metade cumprido no escritório, a segunda metade em um espaço de evento corporativo. Todos seguiram, claro - afinal, presos ao tripalium e com o chicote a estalar no lombo, desobedecer é flertar com a carestia. Não havia explicação do que se tratava, o que haveria: apenas que era preciso ir, ou teria o salário descontado.

A seguir houve a recomendação de que todos deveriam ir de calça jeans e camisa branca - sendo que o contrato de trabalho não fala em uniforme, inclusive por isso a “recomendação”, e não a convocação. Poucos ousaram perguntar o porquê, e os que tiveram a ousadia ão obtiveram outra resposta que não o “cumpra-se”. 

Abriu-se para uma série de especulações: seria uma confraternização, um gincana entre os setores, o anúncio de uma grande mudança - que faria cabeças rolarem, mas no final todos ficariam melhores (sabe-se lá como) -, um vídeo institucional? Apenas os integrantes da diretoria sabiam. Foi só ao chegar no local que os funcionários souberam se tratar de uma confraternização com palestra motivacional (muitos haviam comido antes de ir). 

Mesmo sem saber o porquê da camiseta branca, poucos tiveram coragem de afrontar a recomendação: a grande maioria estava uniformizada, salvo alguns poucos rebeldes e... os principais diretores. Me questionei, diante da surpresa com que isso me foi relatado, se achavam mesmo que a diretoria iria se apresentar como sendo parte dessa grande massa de Zé Ninguéns.

Se a preparação para o evento já foi alarmante - uniformização e apagamento das diferenças, obediência cega ao chefe, a regras sem nenhuma explicação e justificativa, conformismo bovino com isso tudo -, a palestra se mostrou um show de horrores proto-fascista, a reforçar esse comportamento e a necessidade de cada um estar no seu lugar na hierarquia, cumprindo ordens e comemorando os resultados - o lucro do patrão.

Um homem branco forjado na comédia de stand up a la Gentili a repetir o clichê da importância do trabalho em equipe e fazer tudo com amor - salário, valorização dos funcionários (que não são mais trabalhadores, mas colaboradores), relações saudáveis, o que importa é fazer seu trabalho com dedicação e amor, o resto é consequência ou prova de que não se dedicou e não amou o suficiente o que fez. 

A novidade teria sido o uso de uma bateria de samba para transmitir esses clichês - tudo, claro, baseado em estereótipos rasteiros sobre o samba. Quem do samba só sabe sambar (ou nem isso) achou interessante; quem é do samba me apontou todos os erros, os sofismas, todos os 2+2=5 que ele usou para fechar a equação e fazer o samba parecer se encaixar no ambiente empresarial. E um branco bem de vida a querer falar de samba e instrumentalizá-lo me fez lembrar da Gabriela Prioli.

Dado a querer ser engraçadinho, o palestrante começou dizendo que não iria dar uma palestra. Tentou fazer da sua vida uma espécie de jornada do herói, mas parece ter uma história de vida digna de um banal fluxograma tedioso de classe média remediada, pois contou suas “conquistas” sem ter apresentado nenhuma trajetória e superação para elas - no máximo que depois de ser presidente de torcida organizada, trabalhava no mercado financeiro e queria mais (creio eu que esse mais não fosse só dinheiro), daí ter ido para o samba. 

E ali estava o coach mestre de bateria: homem, branco, cis, hetero (ao menos na apresentação), conservador (como ele mesmo disse), vencedor na vida, assistido por dez ou doze homens negros e duas mulheres negras - as passistas -, falando para um plateia em que se tentou apagar toda diversidade. Hierarquia, homogeneidade, adesão cega, racismo estrutural. Isso com doses generosas de machismo, assédio e preconceitos, em piadas que nunca tiveram graça (menos ainda no século XXI); tudo com o intuito de transmitir a mensagem que em nada melhora a vida dos funcionários - mas engorda os lucros dos patrões. 

Uma das suas instruções de seu showzinho era que sempre que alguém discordasse do que ele dissesse, deveria levantar o braço direito e falar “deus te proteja”. De início precisou avisar quando o público deveria fazer o gesto acompanhado da frase - mas em pouco tempo já estavam todos adestrados para atuar no momento oportuno, na brecha para o “deus te proteja” que ele previra em seu roteiro. Perguntei a meu interlocutor se o braço precisava ficar em 120 graus, mas parece que a coisa era mais discreta, estilo Jovem Pan - afinal, não estamos no Sul Maravilha. E não houve culto no final - o que me surpreendeu, ainda que não fosse um evento religioso.

Entre uma piadinha bem decorada e outra, perguntou por pessoas de nomes esdrúxulos. Diante de meia dúzia que levantou a mão, preferiu escolher a pessoa que, encolhida em sua cadeira, foi apontada pelos colegas - “quem não quer nem levantar o braço é porque costuma ter os melhores nomes”, justificou. A mulher foi obrigada a se levantar, falar seu nome no microfone e ser ridicularizada diante de todos. A naturalização do assédio de um lado; de outro, a ameaça velada a todos que quiserem manter sua dignidade diante da horda - que na sua impotência ressentida, riu com a humilhação (ainda que a piada de que nome daquele era mesmo coisa de nordestino não tenha surtido todo o efeito esperado). O segundo humilhado da palestra já estava mais à vontade (com assédio? com abrir mão da dignidade para vestir a camisa da empresa?), e não teve problemas em servir de escada para o astro do evento.

Ao cabo, cada um dos músicos comandou um setor da empresa e emularam uma bateria de escola de samba: totalmente de cima pra baixo, sem os funcionários saberem de fato o que estavam fazendo, que não obedecer às ordens dos chefes e dos subchefes. “E funcionou!” Comentou uma das pessoas que me relatou o evento. Funcionou, mas as questões essenciais do trabalho passaram ao largo: funcionou para quê, para quem, por que, por quem? 

Que sentido possui fazer algo por fazer, só para funcionar? Eichmann se orgulhava de ser um burocrata exemplar, de cumprir as ordens e conseguir aprimorar os índices que lhe eram cobrados. Era eficiente, trabalhava com paixão, e fazia funcionar o que lhe era ditado de cima - que fosse matar mais pessoas em menos tempo e a um custo menor, isso era irrelevante, importante é que funcionou! Como uma bateria de escola de samba de coach branco em um evento corporativo do Brasil de 2022. 


01 de dezembro de 2022.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Avaliação imparcial, fundamentada, desapaixonada e serena dos uniformes da copa [por Sérgio S., da Equipe Trezenhum. Humor sem graça.]

Tem gente que pode até achar que a parte mais legal é aquela em que 4 jogadores, 3 pessoas aleatórias e 15 marmanjos mimados preocupados em não desmanchar o penteado correm atrás da bola por uma hora (e catimbam outra meia hora), outros as discussões políticas e éticas em torno da copa (como se o futebol não fosse uma das grandes lavanderias do mundo), mas, convenhamos, a parte mais legal mesmo é ver os uniformes das seleções. Ou era. Se antes dava vontade de comprar várias das camisas - que, claro, eu não comprava, por causa do preço, ou melhor, do meu salário -, agora são poucas as interessantes e menos ainda as bonitas (reconheço, isso já vinha da copa anterior). 
São 13 seleções com Nike, 7 com Adidas, 6 com Puma; Hummel, Kappa, New Balance, One All Sports, Marathon e Merooj vestem uma cada. Essa divisão é importante, porque faz mais sentido avaliar as camisas a partir das marcas, já que seguem meio que um modelo.
Enfim, vamos a uma avaliação imparcial e fundamentada dos “mantos” que estarão sacolejando pelos verdejantes pastos de areia do fazendão de petróleo dos Al Thani, que a gente finge ser um país. 



Hummel
Dinamarca.
Poderia parecer inspirada na camisa do Paraná Clube de 2019, em vários tons de branco, inclusive no distintivo, apenas com detalhes vermelho e azul nas mangas, mas no caso do uniforme dinamarquês, parece que a ideia era mesmo esconder o distintivo. Para não ficar uma camisa lisa, inventaram uns detalhes em tons mais fortes da mesma cor na manga, que fez ficar mais feia. Nota: 1/5





Kappa
Tunísia.
Inspirada na couraça de Hannibal, encontrada no país em 1909, com um rosto na barriga e duas rodelas gigantes de limão na altura dos peitos - em tom sobre tom, claro -, os uniformes da Tunísia parecem embalagem de alguma bebida com 40% ou mais de teor alcoólico. Nota: 2/5




Marathon
Equador.
Os uniformes do país sulamericano até que estão simpáticos. Parecem tapetes de classe média dos anos 90 - principalmente o uniforme 2, na casa dos meus pais tinha um com a estampa igual (só que sem o distintivo). As escolhas das cores foram felizes - os uniformes mais bonitos da copa, disparado. Nota: 5/5





Adidas
Espanha.
Como é proibido camisa lisa, os uniformes Adidas sempre passam a impressão de chuvisco de televisor, tão típico até os anos 90. O uniforme 1 da Espanha, com essa faixa na lateral e abaixo, passa ainda mais a impressão de ser os limites do aparelho (mas podiam ter encaixado melhor. O uniforme 2 pelo visto foi inspirado nos calçadões da orla do Rio de Janeiro em versão de supermercado gourmet, visto numa tevê com chuvisco. Nota: 1/5





Japão.
Alegam que a inspiração seria o origami, mas até onde me consta, amassar um papel de qualquer jeito e depois desdobrá-lo não faz disso um origami. O que temos é mais uma camisa de chuvisco em televisor, mas neste caso resolveram caprichar: parecem chuviscos num monitor trincado. Bonita? Tanto quanto chuvisco em um monitor trincado. A reserva ainda está discreta, chuviscos nas mangas, mas não salva. Nota: 1/5




País de Gales.
Atenção, pais! Não deixem seus filhos assistir aos jogos do País de Gales, risco de ataques epilépticos! Além do chuvisco, resolveram trazer diretamente a impressão de alguém bêbado vendo a televisão só com chuvisco para o uniforme 1. Se olhar demais dá tontura. Linda como uma boa ressaca de bebida falsificada. Já o 2, como não pode uniforme liso, simples e bonito, e não quiseram repetir o chuvisco bêbado, meteram uma faixa na lateral das costas, parece que alguém se apoiou em duas barras com tinta fresca. Nota: 1/5




México.
Dizem que a fenda geológica tremendo seria alusão a um cocar da tradição de povos ameríndios que ocupavam o território antes de serem triturados pelos europeus. Na verdade, deve ser mesmo uma alusão à fenda geológica na costa oeste do país, já prenunciando os tremores de um terremoto - tudo visto de uma tevê com chuvisco. Já o uniforme 2, branco poluído com desenho sem preenchimento, parece um livro de colorir para adultos ou meus desenhos em camisetas (que meus pais achavam bonitos, ou ao menos diziam isso). Nota: 1,5/5




Bélgica.
O uniforme 1, apesar do chuvisco Adidas tem um vermelho num tom bonito, um vermelho sangue, bem no clima do país e suas atrocidades na África - o apelido “Red Devils” teria se inspirado aí? Nas mangas, chegando no sovaco, fogos bem ao gosto do final dos anos 90 (havia uma pintura parecida na primeira versão do jogo Nascar para PC). O uniforme 2 parece abadá para um carnaval ou para Woodstock fora de época, que desistiram no meio do caminho: ia todo colorido, acharam demais, ficaram só umas faixas - e a gente se pergunta o porquê dessas cores todas. Nota: 1,5/5.




Argentina.
Se o uniforme 1 está interessante, apesar do chuvisco Adidas, com uma pequena inovação de duas faixas finas nas costas que terminam na bandeira Argentina na nuca, o uniforme 2 não podia ficar bom - a Adidas faz questão de uniformes feios ou horrorosos em 2022. Dizem que é violeta, mas se disser que é um azul estranho também está certo. Na frente, reutilizaram um .bmp do início dos anos 90, feito no Windows 3.11, de chamas. Porém, como vermelho não ia ornar na camisa, fizeram um fogo azul (violeta), mesmo. Talvez dê pra dizer que seria em homenagem ao glaciar Perito Moreno. Nota 2,5/5






Alemanha.
Como a Alemanha não tem um uniforme oficial, dá para inventar a partir do nada, de um pano branco. Por ser o país sede da empresa, pelo visto a Adidas resolveu não avacalhar muito - ao menos no uniforme 1. Botaram uma faixa preta no pano branco e tá feito - com os chuviscos, claro! Ficou ok. O uniforme 2 sai o Flamengo, entra um tie-day rubro negro visto de um televisor com chuvisco e quebrado. Nota: 2/5






Nike
Holanda.
Sigo achando que foram proibidos uniformes lisos, daí a Nike apelar para o tie-dye. Dá para fazer coisa legal a partir disso? Dá. Mas não é o caso do uniforme da Holanda. O uniforme 1 é um laranja com amarelo sujo. Dizem que era pra lembrar leão, não lembra; mas cabe perguntar por que raios um leão é o símbolo da Holanda, se na Europa não tem leões... enfim. O uniforme 2 é mais normalzinho, azul e na frente, em preto, o detalhe de armação de tenda de praia/babador, nas costas a marca do cabide, duas marcas da Nike para esta copa. Nota: 1,5/2






Inglaterra.
A Nike resolveu não sacanear o país onde inventaram o futebol. A camisa, claro, não pode ser limpa, mas diante do que se tem visto, não ser feia já é muita coisa. O uniforme 1 tem detalhes azuis degradê nas mangas, muito, mas muito cafonas; o 2 é vermelho e sem graça. Destaque para o símbolo da empresa, que é o que mais se chama a atenção. Nota: 2/5






Estados Unidos.
O uniforme 1 usa o padrão Nike tenda de praia/babador, com duas faixas nas mangas. Não é bonita, mas depois das da Adidas, dá até um alívio. O uniforme 2 é um tie-dye tom sobre tom azul, a remeter ao globo terrestre desfeito - seria uma pertinente crítica às atitudes do país, mas acho que é só um tye-die feio mesmo. Nota: 2/5






Arábia Saudita.
Inspirado nos uniformes da concorrente, o uniforme 1, seria uma boa camisa pra turista na praia, se fosse colorida, mas é branca, o que deixa a impressão de alguém acometido do bicho geográfico, mesmo. O 2 remete à camuflagem de exércitos de regiões de florestas tropicais, tão abundantes em locais que não a Arábia Saudita. Talvez seja uma homenagem a algum desejo impossível do país. Nota: 1/5






Polônia.
O uniforme 1, branco, seria bonito, mas meteram temas aleatórios em tom sobre tom cafonas nas mangas. O 2, vermelho - finalmente! -, decidiram que podiam fazer algo limpo e bonito. Nota: 3/5






Brasil.
Na onda do remake de sucesso de Pantanal, a Nike resolveu lançar uma camisa de oncinha albina. Quer dizer, o comunicado oficial diz que aquilo é uma estampa animal, mas parece mesmo aqueles grafites de pedra que se faz em muros de residências como forma de tentar afugentar pixadores e grafiteiros. Essa oncinha albina com mais a gola e mangas com duas cores e o botão na gola dão um ar de camisa de confraternização de fim de ano de empresa média - e as versões falsificadas vendidas por aí salientam esse aspecto, além de mostrar que a empresa ainda tem muito o que melhorar. O uniforme 2, azul, tem o motivo oncinha salientado pelo degradê verde da manga. Parece roupa de piscina dos mais cafonas - e feias. Tão bonita quantos os dribles de Neymar na Receita Federal. Nota: 1/5.






França.
Uma camisa de escritório mal passada, assim pode ser descrito o uniforme 1 da França, com seu botão e seu azul sóbrio (que nem está tão feio, depois do que vimos com o Brasil). Já o uniforme 2 é difícil definir se é um pijama, ou um pijama que foi posto pra lavar com roupas coloridas e ficou manchado. Nota: 2,5/5






Portugal.
É proibido fazer duas camisas bonitas nesta copa, é? Os uniformes de Portugal tinham tudo pra ser dos mais bonitos, mas começa com a mania de carregar em elementos de baixo relevo - e essa impressão de roupa não passada. O uniforme 2, na faixa verde e vermelha que corta o peito deixa bem evidente, fica até parecendo baixo relevo de notas de real - com a vantagem (ou desvantagem?) de não precisar olhar contra a luz para enxergar. Além disso, o uniforme 2 vem com a marca do cabide nas costas e detalhes azuis sem sentido. Nota: 4,5/5





Canadá.
Pelo que leio, única seleção que não teve camisa especial para a copa. Quer dizer que os antigos eram bonitos? Não. Quer dizer que ninguém achava que os canadenses estariam no Catar. Estão. O uniforme 1, vermelho com um perfex da mesma cor nas mangas. O 2, branco, é tão simples que não tem graça alguma. Nota: 1,5/5




Croácia.
Jogos da Croácia devia vir com um aviso aos que sofrem TOC, de que não deveriam ligar o televisor. A representante da Purina decidiu fazer um quadriculado não simétrico no uniforme 1, para horror de quem tem TOC (ou acha que isso é culpa de seu signo, para fugir de assumir seus BOs e ir atrás de resolvê-los). Se até hoje nunca se acertou um uniforme da Croácia, não vai ser em 2022 que isso vai acontecer. O uniforme 2, azul e azul, o xadrez está no degradê brega que a Nike assumiu para esta copa, junto com o distintivo que lembra de algum autódromo, parece mais camisa de algum GP de motovelocidade que de seleção de futebol - dá pra sentir o cheiro de gasolina aditivada só de olhar pra ela. Nota: 1,5/5




Coréia do Sul.

O uniforme 1, vermelho com detalhes vermelhos (e feios) nas mangas, e a marca do cabide em uma cor escura (dizem que é preta) nas costas. O uniforme 2 não sei se é tie-dye, o que é. Sei que é uma camisa preta com cores pra todo lado, que tem tudo pra cair nas graças de um adolescente de 15 anos - mas também pode ser interessante para uma marca de tintas. Nota: 2,5/5




Catar.
Sabe aquelas tesouras de zigue zague que você adorava na pré-escola? Pois parece que usaram uma dessas nas mangas da camisa (eu sei, é uma alusão à bandeira da fazenda, digo, do país). O uniforme 2 parece aquela camisa já encardida, que a criança ainda foi jogar bola no barro, foi goleiro e tomou bolada de todo lado, voltou com ela toda manchada, e os pais não quiseram se esforçar pra limpar, porque não valia a pena. Nota: 2/5




Austrália.
Por que?! Por que?! Parece que a Nike resolveu concentrar o que fez de pior nos uniformes para a copa na camisa 1 da Austrália. É um tie-dye tom sobre tom, mas que parece que é só uma camisa manchada, que lembra motivos animais nas mangas, que lembra uma criança que acabou de sair de uma guerra de bexiga de areia colorida que gruda na roupa, com a marca do cabide nas costas. E eu gosto de camisas tie-dye, mas as bem feitas! O uniforme 2 é o padrão Nike pra copa, com a tenda de praia/babador na frente e a marca do cabide nas costas. Nota: 1/5




Puma
Uruguai.
O uniforme 1 poderia ser só básico e clássico da celeste. A Puma, contudo, resolveu fazer dela também o básico e clássico do funcionário de escritório de baixo escalão, faltou só ser gola polo e ter o bolso no lado esquerdo. Isso é em parte corrigido no uniforme 2. Neste, o espaço de “anuncie aqui” típico da Puma para esta copa tem o formato do bolso que falta no uniforme 1 - infelizmente não é um bolso de verdade: perdeu muito em não lançar essa inovação, do uniforme com bolso. Nota: 3/5.



Suíça.
Claramente a inspiração das camisas suíças foi a função “limpeza de cabeçote” das impressoras jato de tinta, depois de muito tempo sem serem utilizadas. Seja a 1, vermelha, seja a 2, branca. Esta, no seu espaço “anuncie aqui” lembra as plaquetas de corredores de maratona - e a bandeira do país dá um ar de socorrista, maratonista-socorrista. Nota: 2/5




Sérvia.
Então é Natal, e o que você fez? O uniforme 1 da Sérvia, com seus detalhes dourados, está bonito, e as estrelas num tom mais escuro de vermelho por todo o uniforme (porque não pode ter camisa limpa, lembra?) dá um ar de Natal - é possível ouvir a voz da Simone só de olhar para ela. Já no uniforme 2, o espaço “anuncie aqui” parece plaqueta de restaurante árabe da 25 de Março. Nota: 3,5/5




Marrocos.
Mais uma camisa limpa. Vermelha com uma faixa verde que corta no peito. Geralmente é um expediente usado por equipes que tem tantos patrocínios que fica difícil achar o distintivo e o número - essa faixa ajuda a se situar em meio à profusão de símbolos. Contudo, ao cortar a faixa verde que corta o peito para pôr seu símbolo, a empresa consegue dar mais destaque a si que ao próprio escudo da seleção marroquina: parece uma camisa genérica da Puma, e ali do lado tem uma medalha de condecoração, sabe-se lá do que. O uniforme 2 tem a plaquinha de “anuncie aqui” da Puma mais discreta, que mostra que esse modelo clichê de uniforme 2 da empresa até poderia ser ok. Nota: 3,5/5




Senegal.
Camisa bonita, com uma estampa chevron nas cores da bandeira - com destaque para a estrela. A número 2 poderia ser bonita, mas tem a plaquinha de “anuncie aqui” da Puma. Nota: 4/5




Gana.
O uniforme 1 é limpo e básico. O 2, vermelho, tem a famigerada plaquinha de “anuncie aqui” de mercado, mas nas cores invertidas (é vermelha com bordas amarelas) e motivo praia. Dá para ouvir o locutor do mercado anunciando que o patrão enlouqueceu e só hoje a promoção da alcatra. Nota: 3/5.





One All Sports
Camarões.
Uma camisa lisa, com motivo geométrico que dá a impressão de uma armadura ou de um colete sexy para gogo boy. Surpreende por não ter nenhuma textura em tom sobre tom, pode isso? Nota: 3,5/5




Merooj
Irã.
Como parece ser proibido camisa lisa, talvez por algum remake de Pantanal que esteja sendo feito no país, meteram uma estampa de guepardo nas mangas. Não podia não ficar brega. Nota: 1,5/5




New Balance
Costa Rica.
Ué, podia fazer os uniformes simples, limpos, clean, em que o principal é deixar claro a seleção, ou esqueceram de avisar a Costa Rica? Nota: 3/5





18 de novembro de 2022

Colaboraram: Amanda C.M., Marcelo H.G., Ricardo D.A.