sábado, 22 de dezembro de 2001

Saudades do Bandejão

Uma das coisas que tenho sentido saudades da U$P é o Bandejão. Não, não estou brincando. É sério. Eu sei que, para a maioria, comer no Bandex era um ato impossível, uma tarefa insalubre. Mas havia aqueles que apesar de uma certa resistência, principalmente nas semanas em que se desejava boa sorte e não bom almoço, acabavam por se entregar aos prazeres gastronômicos do difamado refeitório. E tinha eu – e provavelmente mais dois ou três malucos – que chegava a ir para a U$P só para almoçar no Bandex.
Claro que eu levei um certo tempo até me acostumar com os cachorros passeando pelo refeitório, batendo seus rabos contra as mesas, jogando suas pulgas e sabe-se lá o que mais nas nossas bandejas, mas no final do ano eu já estava totalmente integrado ao ambiente.
Tinha também o chá, que quando não estava com gosto ruim, melado ou sem gosto era bom (não era todo dia que era assim, pelo contrário). Pena que ele foi substituído pelo suco, na última semana. Ainda é difícil imaginar o Bandex sem o chá.
Da comida eu não costumava reclamar (também, depois de comer as gororobas que eu fiz é difícil encontrar comida ruim, apesar que às vezes o "Restaurante Central" conseguia). Sem contar os nomes daquilo que comíamos, um mais chique que o outro, coisa de restaurante de hotel cinco estrelas, como sempre comentava o Vannucci. Por mais que fosse um prato comum, você nunca leu no cardápio "lombo na banha do lombo"; era sempre lombo ao molho seiláoque.
Tudo bem que algumas coisas até hoje me dão pesadelos: a carne moída, o hambúrguer e o espaguete servido com espátula. É certo que não se pode exigir a perfeição por R$ 1,90 (R$ 2,00, quando o tio do caixa gatunava o troco).
Depois de um ano comendo no Bandejão é-me estranho ter que me servir, comer em prato, em mesa com toalha (limpa, ainda por cima!), num local iluminado, sem cachorros circulando ou desfile das gurias da enfermagem ou da bio.
Eu vejo na balança a falta que o Bandex me faz: quatro quilos em três semanas.
Caso eu não passe no vestibular este ano e me veja obrigado a enrolar (porque dizer fazer não é muito condizente com a realidade) mais um ano na psico, vou ter que fazer uma camiseta escrita "Eu ‘coraçãozinho’ Bandejão". Alguém aí me acompanha?

Pato Branco, 22 de dezembro de 2001

Crônica das seis

Insônia é mesmo um problema. São cinco e meia e eu ainda desperto. E olha que faz tempo que me deitei. Era três horas quando voltei de uma breve andança pelos agitos da cidade, em busca do meu irmão, e antes das quatro badaladas do relógio eu já me punha à postos, à espera de Morfeu.

Não sei se não tinha teto, ou o endereço foi extraviado, mas os minutos foram se passando, formavam já uma hora; novos minutos a eles se juntavam, e nada do dito cujo aparecer.

Tivesse, no meu quarto, um daqueles relógios de ponteiros, antigo, com duas sinetas em cima, que faz um tique-taque infernal, diria que era culpa dele. Como não tenho, não há como culpá-lo. De fora, também, nenhum barulho.

O que estaria causando minha insônia? As preocupações são as mesmas de ontem, as alegrias, as frustrações, também; e ontem eu dormi sem mais demoras.

Quem sabe um livro não ajude o sono a vir. O que tenho à mão empolga: "Inculta e Bela 2", "História Concisa do Brasil", apostila do COC, "Meu Piano é Divertido" e "Olho Mágico".

Deve ser fome, afinal, escrever uma crônica sobre o Bandejão deve ser por causa da fome. Mas eu comi antes de deitar. E olha que nem foi ovo com salame, como minha refeição da madrugada de Quarta.

O que será que faz com que essa minoria insurreta que há dentro de mim não me permita dormir, apesar do corpo doído e da cabeça cansada?

Acho que sei! Estava esquecendo de pôr um ponto final neste dia 22. Bons sonhos.

Pato Branco, 22 de dezembro de 2001