quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

Já é um começo....

Finalmente os ministros do PT estão conseguindo unificar o discurso. Anteontem foi o ministro das comunicações Miro "Marinho" Teixeira pregar o fim da indexação para o reajuste das contas telefônicas. Nada mais justo. Isso foi para preparar o terreno para o médico metido a economista Antônio "Malan" Palocci falar ontem aos sindicalistas: nada de indexação dos salários. Motivo: isso pode fazer voltar a inflação. As opções são reivindicar a indexação dos salários à inflação ou ajudar a combatê-la. Talvez o companheiro Palocci não seja habituado a freqüentar esse lugares tradicionais das pessoas comuns, que têm necessidades ordinárias, conhecidos como super-mercados. O único mercado que ele parece conhecer é o financeiro. Na verdade o que ocorre é o oposto: é o mercado que o conhece bem; e nada melhor para as raposas que botar uma galinha tomando conta do galinheiro. Isso vem da segunda guerra, quando judeus eram postos para cuidar dos campos de concentração – diz-se que eram os mais espartanos (conseqüência do medo, talvez?). Voltando ao mercado comum e ordinário que o companheiro Palocci parece desconhecer, os freqüentadores desses distintos estabelecimentos sabem bem que a inflação voltou, que o salário diminui, e muito. Reivindicar que o salário tenha o mesmo (mirrado) poder de compra de um ano atrás não me parece ser a heresia pintada pelo "Neo-Malan", como a opção pelo inferno e não o céu.

Bem sei que o abacaxi recebido dos anos FHC é grande e difícil de descascar, que mudanças bruscas não são a melhor opção, ainda mais quando se dependente dos outros, e já é uma grande, uma gigantesca mudança, que as regras que valem para os pequenos passem a ser impostas também aos grandes, como no caso da telefonia. Mas bem que poderia ter uma sinalizaçãozinha maior de mudanças.


Campinas, 27 de fevereiro de 2003



terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

Deslizes da imprensa imparcial

Construir a imagem do maior tirano atualmente em atividade não é fácil. Os Estados Unidos que o digam. Buscar informações que o incriminem, forjar provas para acusações que não passam de boatos, convencer a mídia a mostrar apenas as imagens de interesse do mundo civilizado.

Pessoas de turbantes, desdentadas, pobres, sujas; o povo iraquiano, pelo que nos mostram as imagens vinculadas quase que diariamente na mídia, é um povo sofrido, e cujos fundamentalistas são os únicos a apoiá-lo. Acostumado a ver imagens apenas como as citadas, me surpreendi com a imagem da Associated Press, publicada pela Folha de São Paulo de hoje: jovens em um barzinho de Bagdá. Estavam bem vestidos, bem penteados, usavam "acessórios", o ambiente muito semelhante a alguns barzinhos mais alta-classe que encontramos no Brasil – na verdade até um pouco melhor.

A imprensa às vezes comete seus erros. Quem diria que Bagdá jovens ainda riem e se divertem em barzinhos; que o Iraque não é um reduto de fundamentalistas ignorantes da própria miséria.


Campinas, 25 de fevereiro de 2003